segunda-feira, 21 de abril de 2014

'Aos domingos, ninguém quer derrubar o Minhocão' (definitiva)


Arquiteto que tem entre suas obras a sede do canal TV 5, em Paris, defende reformas à derrubada de prédios

20 de abril de 2014 | 2h 07

EDISON VEIGA, MÔNICA REOLOM - O Estado de S.Paulo
'Arquitetos devem aumentar o prazer de viver', disse Frédéric Druot - Daniel Teixeira/Estadão
Daniel Teixeira/Estadão
'Arquitetos devem aumentar o prazer de viver', disse Frédéric Druot
Ele é radicalmente contra demolições. Quaisquer demolições. Por economia e pelas possibilidades que uma reforma oferece a algo já erguido. "Não precisamos matar ninguém por causa de uma dor de dente", compara. O arquiteto francês Frédéric Druot esteve em São Paulo no início do mês, a convite da Escola da Cidade. Autor do livro Plus, ele tem no currículo obras como a sede do canal televisivo TV5 Monde, em Paris. Confira trechos da entrevista ao Estado.
Qual sua opinião sobre nossos problemas urbanos?
Fiquei fortemente impressionado porque São Paulo, ao contrário de Paris, aceitou sua modernidade. Vocês fizeram da coisa contemporânea o seu cotidiano, e não a sua exceção. Posso dizer que São Paulo é uma cidade de vida. Eu adoro São Paulo por essas razões e pelo relacionamento que ela faz entre sua escala e seu caos, a estratificação de seus movimentos e suas luzes, pela potência inacreditável de uma vegetação sempre pronta a assumir as construções, o asfalto das vias, o pavimento das calçadas. Não conheço precisamente as dificuldades paulistanas, mas as imagino: problemas de habitação, fortes contrastes sociais, problemas de mobilidade. Mas penso que a capacidade de prazer deve ser posta em primeiro lugar. Prefiro falar e observar o que há de bom antes de falar sobre o que não funciona. De um ponto de vista metodológico, São Paulo permite que milhões de pessoas vivam e trabalhem, ou seja, apresenta capacidades inacreditáveis, sem planificação global. A resolução das dificuldades poderia ser simples e permitir, em uma economia controlada e frágil, uma evolução notável e generosa. É preciso para isso que haja decisões políticas não convencionais. É preciso se endereçar aos milhares de arquitetos brasileiros talentosos e colocar a questão: "como podem vocês aumentar generosamente o prazer de viver essa ou aquela situação urbana, a cada local, ponto por ponto?". A potência política urbana tem um dever, que é o de se endereçar a cada um e a todos. Resta o crack, o poder de compra, a precariedade, a equidade social, que são problemas políticos e que, sozinhos, a arquitetura não pode regrar.
O senhor é contra qualquer tipo de demolição. Poderia explicar as razões para essa postura?
É uma posição radical, que não deixa espaço ao talvez. É uma posição ao mesmo tempo política, social, arquitetônica e econômica. Política porque ela pertence à organização da cidade. Geralmente, uma decisão de demolição é tomada por uma organização que não participou da construção do prédio ou do bairro que ela pretende assassinar. Social, porque a decisão geralmente é tomada por organizações que não têm o uso da coisa a demolir e porque, quando se demole um imóvel de residência, se demole a residência de qualquer um, de uma família. Arquitetônica e econômica, porque o bom senso gostaria que se utilizasse o preço das demolições de imóveis existentes para fazer, com o mesmo orçamento ou menos, um projeto novo, com dois, três vezes mais espaço, mais conforto, mais luz, mais prazer. A meu ver, planificar as demolições de bairros, imóveis e estradas é uma proposição preguiçosa de urbanistas e de poderes políticos.
O senhor defenderia a reforma em vez da demolição de casos emblemáticos, como os edifícios São Vito e Mercúrio?
Mil vezes, sim... Mas é tarde demais. Eu olhei a implantação desses prédios no bairro, a organização de suas plantas, o sistema construtivo dos andares e das fachadas. Nada me parecia perigoso a ponto de necessitar uma demolição. A problemática da densidade da população no interior do prédio não tem nada a ver com a capacidade estrutural do imóvel. A questão que foi abordada era social e não arquitetônica ou urbana. A gente não precisa matar ninguém por causa de dor de dente. Assim, a pergunta é: como melhorar as condições de vida dos habitantes? Graças a algumas adaptações e evoluções, pode ele se tornar mais eficiente? Se nós não podemos acomodar todo mundo ali, o que podemos oferecer àqueles que não cabem nesse prédio? Se, ao final de todas essas questões, a resposta definitiva for que o imóvel não pode mais abrigar residências, então por que imaginá-lo como viável para outras funções, sejam elas escritórios, comércio, atividades sociais, culturais ou religiosas? Mas não demolir!
E o Elevado Costa e Silva, o Minhocão? Parte da sociedade pede há décadas a demolição...
Aos domingos, ninguém quer derrubar o Minhocão. Porque ele se transforma em uma pista para bicicletas, em uma área de lazer. E, se ele for demolido, onde vão passar as centenas de milhares de carros que precisam da via diariamente?
Qual aspecto de São Paulo mais chamou a sua atenção?
O sorriso das pessoas.

Lazer para jovem é gratuito, em casa ou ao ar livre


Pesquisa obtida pelo 'Estado' mostra que eles gostam de parques e shoppings e vão pouco a teatro e cinema; principal desejo é viajar

20 de abril de 2014 | 2h 02

Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Pesquisa da Secretaria-Geral da Presidência da República, obtida com exclusividade pelo Estado, aponta que as atividades de lazer e cultura mais populares entre os jovens de 15 a 29 anos são aquelas que não envolvem custos, como passeios em parques ou shoppings, idas a festas em casa de conhecidos e comparecimento a missas e cultos religiosos. Cinema, teatro e espetáculo musical são passeios realizados em proporção muito menor.
Joana D´arc, como maioria dos jovens, gostaria de viajar; hoje vai mais no parque - Márcio Fernandes / Estadão
Márcio Fernandes / Estadão
Joana D´arc, como maioria dos jovens, gostaria de viajar; hoje vai mais no parque
A forma mais popular de lazer fora de casa é o passeio em parques e praças - atividade realizada por 61% dos entrevistados. Logo depois, aparecem festas na casa de amigos (55%), seguidas por missas ou cultos religiosos (54%), bar com amigos (41%) e passeios em shopping centers (40%). Apenas 19% dos jovens afirmaram ter frequentado cinema nos 30 dias anteriores à pesquisa, índice que despenca para 4% quando se trata de ida ao teatro.
Em relação à frequência em atividades de lazer e cultura pelo menos uma vez na vida, os dados são igualmente alarmantes: 84% dos jovens brasileiros nunca compareceram a um concerto de música clássica, 65% jamais foram ao teatro e 59% nunca estiveram em uma biblioteca fora da escola.
Nos fins de semana, 79% dos jovens realizam atividades de lazer fora de casa, índice significativamente superior ao daqueles que optam por fazer algo em casa (44%), por praticar esportes (22%), por visitar parentes (14%) e por atividades religiosas (11%).
Foram ouvidos no ano passado 1.100 jovens de todos os estratos sociais para a pesquisa, cuja margem de erro é de 3 pontos porcentuais. O objetivo do estudo da Secretaria-Geral da Presidência é fornecer subsídio ao governo federal para implementar políticas públicas de juventude.
"Os jovens têm muita vontade de passear e fazem aquilo que não custa nada como forma de se divertir nos fins de semana, alargar os horizontes e viver experiências que os tirem do universo mais restrito da casa", diz a socióloga Helena Wendel Abramo, coordenadora de Políticas Setoriais da Secretaria Nacional de Juventude, da Secretaria-Geral.
Cinema. A atividade com maior disparidade entre os grupos sociais é o cinema, observa a socióloga. Entre o segmento mais pobre, 49% dos jovens já foram a uma sala de cinema, índice que sobe para 78% no universo de jovens de classe média e para 93% entre os mais ricos.
A pesquisa considera a renda per capita para definir a faixa em que o jovem se encontra: os mais pobres têm renda familiar per capita de até R$ 290 mensais; classe média de R$ 290 a R$ 1.018; e os mais ricos, acima deste valor.
Os pesquisadores também questionaram os jovens sobre o que gostariam de fazer nas horas livres, caso não tivessem de se preocupar com tempo nem com dinheiro. Para 59% dos entrevistados, a resposta - espontânea e única - foi "viajar", mais do que o dobro (26%) daqueles que optaram por atividades de lazer e entretenimento. No entanto, para 61% dos jovens, a falta de dinheiro é a razão que os impedem de fazer o que gostariam.
Limitações. Moradora de Pirituba, na zona norte de São Paulo, a estudante de Publicidade Joana D'arc da Silva, de 18 anos, é exemplo desses jovens que gostariam de visitar novos lugares. "Adoraria ir para Inglaterra, Estados Unidos ou Canadá", disse a universitária. Enquanto falta tempo e dinheiro para realizar seus sonhos, ela costuma sempre frequentar o Parque Villa-Lobos, na zona oeste, como um dos destinos preferidos para curtir momentos de lazer.
Anteontem, ela estava acompanhada da mãe e de uma amiga da faculdade. Estenderam uma toalha na grama do parque e aproveitaram o dia de céu aberto. "Sempre que dá, eu venho com meus amigos ou com a minha família. A gente fica na sombra, dando risada. É muito bom", disse Joana.
De noite, a atividade de lazer mais frequente da estudante é a reunião de amigos na própria casa, que ficou carinhosamente conhecida como a "casa da mãe da Joana". Sua mãe, Rosângela Dorini, fotógrafa e maquiadora, de 39 anos, aprova as "festinhas" dos amigos da filha. "Sempre fiz questão de que eles estivessem na minha casa. É uma forma de estar a par e participar da vida dos filhos", disse.
Joana também gosta de teatro e cinema, mas, ultimamente, não tem ido muito. "Cinema acaba sendo bem caro porque você sempre quer comer alguma coisa depois, ou seja, não é só o filme em si."
A estudante de Publicidade faz parte de uma minoria de jovens que já foi ao teatro, a exposições de fotografia e a concertos de música clássica, mas nunca viu, por exemplo, um jogo de futebol no estádio. "Eu não curto muito futebol", explica. / COLABOROU LAURA MAIA DE CASTRO

Anatomia de uma maracutaia - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 20/04
Os planos de saúde queriam o céu: descumpririam o que contrataram e a multa de R$ 4.000 sairia por R$ 40

A doutora Dilma Rousseff ganhou um presente. A Câmara e o Senado puseram a bola na marca do pênalti, para que ela vete o dispositivo da medida provisória 627, que alivia as multas devidas pelos planos de saúde que negam aos clientes o atendimento contratado. Enfiaram num texto que tratava de outros assuntos uma nova sistemática para a cobranças dessas penalidades. É o Pró-Delinquente. Se uma operadora nega ao freguês um procedimento médico, ele se queixa à Agência Nacional de Saúde e tem seu direito reconhecido, a empresa deve pagar uma multa de R$ 2.000. Se essa mesma empresa nega dez procedimentos, pagará R$ 20 mil. Com a mudança, se o plano de saúde negar de 2 a 50 procedimentos, pagará duas multas (R$ 4.000, em vez de até R$ 100 mil). Daí em diante, haverá uma escala. Quanto pior o serviço da operadora, menor será a multa. A empresa que estivesse espetada com mais de mil multas, pagaria apenas o equivalente a 20. Incentivando a infração, se um plano nega dois procedimentos, paga R$ 4.000. Se nega mil procedimentos, paga R$ 40 por infração.

O Pró-Delinquente foi um dos 523 contrabandos enfiados na MP 627. Como emenda parlamentar não é o vírus da gripe, que vem no ar, alguém a pôs no texto. O relator da medida provisória foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele chegou a defender o dispositivo durante a votação pela Câmara. Dias depois, recuou, explicando-se: a mágica foi discutida com os ministérios da Saúde e da Fazenda, bem como com a Casa Civil da Presidência. Como esses prédios não falam, faltou dizer com quem discutiu o assunto. Além de Cunha, o relator da MP, não há registro de outro parlamentar patrocinando a iniciativa.

A mágica foi aprovada na Câmara com o beneplácito das lideranças do governo e da oposição. Remetida ao Senado, aconteceu a mesma coisa. Tantos são os interesses embutidos na MP que os senadores preferiram apressar a tramitação, esperando que a doutora Dilma vete o Pró-Delinquente.

Criou-se um novo absurdo. Os senadores abdicaram da prerrogativa republicana do consentimento. Se o Senado aprova um projeto esperando que o Executivo vete a maluquice, fica a pergunta: para que serve o Senado, cujos doutores têm assistência médica gratuita?

Quando a doutora Dilma vetar o Pró-Delinquente (se vetar) ficará no heroico papel de defensora da Viúva, dos pobres e dos oprimidos, mesmo sabendo-se que seu governo e sua base aliada permitiram que o contrabando fosse colocado na medida provisória e aprovado no Congresso.

A PIOR TACADA

A Comissão de Valores Mobiliários encaminhou à Polícia Federal o inquérito que trata de tráfico de informações com operações das empresas de Eike Batista nas Bolsas de Valores.

Quando a OGX parecia ser uma fábrica de milionários, Eike, o homem mais rico do Brasil, foi a um jantar em Miami, na casa do milionário Jeffrey Soffer, marido da modelo Elle MacPherson. Lá, conversando com Alex Rodriguez, que estava com sua mulher, Cameron Diaz, disse-lhe que nos próximos dias sua empresa anunciaria fantásticas descobertas de petróleo. Alex, o melhor jogador de beisebol dos dias de hoje, sacou o telefone, foi para um canto e conversou com seu corretor.

Trouxe de volta o recado do operador: "Ele disse para eu

esquecer essa história e não voltar a mencioná-la, porque se o fizesse, iríamos os dois para a cadeia".

Grande corretor. Alex Rodriguez esteve a um passo da pior tacada de sua vida. Cada dólar que tivesse posto na OGX valeria hoje um centavo.

PT

Pela primeira vez desde 2005, quando surgiu o escândalo do mensalão, o PT enfrenta uma divisão perigosa.

De um lado, a turma do "partir para cima", defendendo qualquer companheiro, em qualquer situação, liderada pelo deputado Cândido Vaccarezza. De outro, o grupo que prefere jogar alguma carga ao mar. Nele, fica o presidente do partido, Rui Falcão.

Falta pouco para que se possa dizer que a nação petista tem dois blocos: um com alguma ideologia e algum fisiologismo; outro, só com fisiologismo.

ARITMÉTICA

As últimas pesquisas são insuficientes para que se preveja o resultado da próxima eleição, mas uma mesma conclusão atravessa todos os números: o PT está sem puxador de votos.

Um mau desempenho da doutora Dilma afetará todo o partido.

*COBRAS DA PF *

O andar de cima da Polícia Federal, como o Itamaraty, é um ninho de cobras que alimentam inconfidências sobre promoções e remoções.

O último assunto desse ofidiário são as transferências ocorridas nos quadros da Polícia Federal do Paraná, onde rolam as investigações sobre as atividades do doleiro Alberto Youssef e suas conexões no triângulo dos três pês: PT, PP e Petrobras.

TROPA NA COPA

O Planalto está com transtorno bipolar quando lida com a Copa. Como diria a doutora Dilma, "no que se refere" aos seus discursos, ela anuncia que não vai tolerar desordens e que as Forças Armadas serão mobilizadas para garantir a ordem. Conversa de comissário de polícia.

No que se refere à marquetagem, contrata agências de publicidade para adocicar o evento.

Presidente zangado, o Brasil já teve um, o general João Figueiredo (1979-1985). Deu no que deu.

*GARCÍA MÁRQUEZ *

Para a memória de Gabriel García Márquez:

Havia um jantar em Havana e Fidel Castro, um retardatário imperial e compulsivo, chegou atrasado. Faltava Gabriel García Márquez. Quando ele chegou, o Comandante alfinetou-o:

-As pessoas mais importantes sempre são as últimas a chegar.

-Por isso, e também porque vim de longe. Respondeu o escritor.

UMA LIÇÃO QUE VEM DA CHINA

O doutor Eduardo Cunha, relator da MP 627, fez uma breve "villegiatura" pela China. Teve a oportunidade de conhecer a inovação que o presidente Xi Jinping introduziu na política do Império do Meio. Convivendo numa cleptocracia na qual há espertalhões amigos e inimigos, ele parece ter mudado o padrão de combate aos larápios. Há dois anos ele afastou o czar da segurança chinesa (Zhou Yongkang, mas não adianta tentar memorizar esse nome). Desde então, dedica-se a desmantelar seu aparelho. Na semana passada, prendeu pelo menos dois mandarins, mas a novidade está em outra ponta. Em vez de sair prendendo, o companheiro avança sobre o patrimônio dos comissários. Com todas as ressalvas que devem acompanhar detalhes da política interna chinesa, já teriam sido confiscados US$ 14,5 bilhões de 300 amigos e protegidos do comissário. Antes de ir para o aparelho de segurança, ele fez fama na burocracia do petróleo. Condenar ladrão a viver como pobre talvez seja mais prático do que mantê-lo na cadeia.