sábado, 20 de abril de 2013

Dois mil e quartoze - CACÁ DIEGUES



O GLOBO - 20/04

Não sou supersticioso, prefiro confiar no acaso. Mas também só entro em avião com o pé direito, procuro não passar por baixo de escada e, quando adolescente, só ia aos jogos com a mesma camisa número seis do Botafogo (a de Nilton Santos). Embora evite a superstição que nos imobiliza, gosto de brincar com números e, num desses jogos, me ocorreu uma certa magia no ano que vem.

Em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, completaremos 50 anos do golpe militar que resultou na mais longa e cruel ditadura de nossa história nacional, iniciada em 64. E 64 anos do golpe cruel da Copa de 50, quando os uruguaios nos venceram, naquela histórica final no Maracanã que resultou em longa depressão nacional, iniciada com o gol de Ghiggia.

São 64 anos de 50 e 50 de 64. Datas e números que dizem provavelmente pouco aos nossos jovens, mas que têm significado profundo para aqueles que viveram grande parte de suas vidas durante a segunda metade do século 20.

No maracanazo de 50, iniciamos a exposição pública de nosso complexo coletivo de vira-lata, num sofrimento nacional do qual não consigo me lembrar de outro igual (talvez por ser tão criança na época). Obdúlio Varela, o valente capitão uruguaio, cuspira no rosto de Bigode, nosso lateral mulato, sem que esse reagisse, e levara seu time à vitória aos gritos, contra brasileiros acovardados em campo e conformados em silêncio nas arquibancadas. Era assim que nós mesmos descrevíamos a tragédia.

Desde ali, os brasileiros se tornaram um povo sem flama, incapaz de reagir à desgraça à qual estava destinado. Por mais que tivéssemos nacionais virtuosos, como Zizinho e Ademir, jamais seríamos uma coletividade vitoriosa. O sucesso nos escaparia sempre nos últimos minutos, por decreto do destino e impotência nossa. O Brasil estava condenado a adormecer eternamente em berço esplêndido, incapaz de se erguer para existir.

No golpe de 64, o vira-lata foi convencido de que era mesmo ignorante e estúpido, na melhor das hipóteses ingênuo. Nem mesmo sabia votar, não merecia portanto o luxo da democracia e da liberdade. Militares insuflados pelos sábios que cuidavam de nossa incompetência e se substituíam à nossa incapacidade de gerir o país, tomavam às mãos a condução de nossas vidas, à revelia do que pensássemos disso. Haviam-nos roubado o direito de ganhar, agora nos levavam o de ser.

A partir do golpe, a tragédia se tornara cotidiana, o inaceitável passara a ser normalidade. Vivemos exilados em nosso próprio país, neutralizados pelo medo e pela conveniência. Passamos vinte e um anos com nossa vontade alienada, em nome da luta contra o monstro comunista que nos havia de devorar e que acabou ruindo sem muito ruído.

Quando eu era estudante, países como o nosso eram chamados simplesmente de “subdesenvolvidos”. Ao longo dos anos 1960, esses países passaram a ter uma certa importância estratégica nos embates da Guerra Fria. A inteligência francesa deu-lhes então uma identidade política própria, chamando-os de Tiers Monde (Terceiro Mundo), nos presenteando com o orgulho da singularidade.

Hoje, quando o Brasil e outros países semelhantes começam a ter certo peso na economia globalizada, sendo capazes de provocar crises ou de bem suportá-las na bagunça do capitalismo financeiro contemporâneo, somos elevados à categoria de países “emergentes”. Não sei dizer se essa evolução etimológica é parte de algum capítulo das ciências humanas modernas ou se é pura habilidade político-diplomática. Mas pode também ser a tradução do inconsciente coletivo da humanidade a nos conduzir a uma nova identidade.

Desde a redemocratização do país, começamos a nos libertar dos fantasmas e carmas derrotistas. Seja qual for a opinião politica de cada um de nós, é evidente que viemos, ao longo dessas duas últimas décadas, aprendendo a confiar em nós mesmos. Nossos jovens não acham mais que estamos condenados ao fracasso e querem exercer sua justa vontade sobre o concerto da nação. Temos que acreditar sempre que isso seja possível.

Tomara que 2014 celebre, sem superstições positivas ou negativas, o enterro definitivo do vira-lata. Compreenderemos então que a mágica da realidade começa pelo exercício da vontade.

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Uma correção. Em meu artigo anterior, cometi um injusto equívoco para o qual fui alertado pelo deputado Chico Alencar, a quem respeito e admiro. Não foi apenas Jean Willys o único congressista a se manifestar, logo que o pastor Marco Feliciano foi indicado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Segundo ele, outros sete parlamentares se manifestaram logo contra a aberração: Luiza Erundina, Érica Kokai, Domingos Dutra, Arnaldo Jordi, Nilmário Miranda, Ivan Valente e o próprio Chico Alencar.

Enquanto isso, o deputado Marco Feliciano continua responsável pela Comissão, mesmo que a cada dia nos surpreenda com novas e mais delirantes profissões de fé, como essa que incentiva o assassinato de nossos mais queridos artistas, em nome de não sei que deus, com o auxilio de anjos que pilotam aviões. Não se trata mais de conflito ideológico, mas de pura insanidade.

Adeus às ilusões - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 20/04

A despeito de suas declarações, José Serra é candidato à Presidência. Aliados contam que ele se movimenta para que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) desista de concorrer ao Planalto. Ameaça sair do PSDB com esse objetivo. E pode se filiar ao Mobilização Democrática com essa expectativa, apostando que, ao arrancar com mais força nas primeiras pesquisas, Aécio desistirá.

'É a economia...'
A oposição acusa o governo Dilma de adotar uma posição ideológica sobre a Venezuela. Mas a diplomacia brasileira diz que não é bem assim. As exportações do Brasil para o vizinho pularam de US$ 536 milhões, no primeiro ano de Hugo Chávez no poder (1999), para US$ 6 bilhões (2012). O saldo comercial a nosso favor, que era de US$ 165 milhões (2002), passou para US$ 4 bilhões (2012). A Venezuela entrou no Mercosul.


Atuam lá: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Odebrecht. Investem lá: Grupo Ultra, Brasken e Gerdau, entre outros. O governo brasileiro tem razões para crer que a oposição promoveria uma reaproximação com os EUA.

"Chegamos aqui, tomamos as terras dos índios, pegamos suas mulheres. O que eles fizeram (invadir o plenário) não foi nada perto do que fizemos com eles" 

Lincoln Portela Deputado federal (PR-MG)

Lado A e lado B 
O PMDB do Senado não reza pela mesma cartilha. De um lado estão o presidente da Casa, Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá. Do outro, o presidente da CCJ, Vital do Rêgo, e os líderes Eduardo Braga e Eunício Oliveira.

Caça ao voto
Todos os ministros que têm reunião internacional nos próximos dias foram orientados a pedir votos para a eleição do embaixador Roberto Azevêdo (foto) a diretor-geral da OMC. O ministro Antonio Patriota (Relações Internacionais) está à frente da campanha.
Nos próximos dias, o grupo de cinco candidatos se reduzirá a dois nomes.

Reação corporativa 
O Ministério da Saúde foi surpreendido com dezenas de pedidos de aposentadoria de médicos dos seis hospitais federais do Rio. A leitura é que isso se deve à instalação do ponto eletrônico, que faz o controle de horas efetivamente trabalhadas.

Apertando o passo 
O governador Cid Gomes (PSB-CE) defende internamente reunião do Diretório Nacional para discutir a candidatura de Eduardo Campos (PSB-PE) à Presidência. Cid quer que o partido defina seu rumo antes de setembro, o que lhe garantiria tempo para trocar de partido. Campos busca adiar ao máximo a reunião porque sabe que dela terá de sair uma decisão formal.

Pente-fino 
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mandou rever todos os contratos da Casa. Suspendeu convênio com empresa terceirizada de manutenção de computadores que cobrava R$ 12 mil pela visita de um técnico.

Referência internacional 
Uma delegação oficial da Indonésia chega segunda-feira a Belo Horizonte. A comitiva, organizada pelo Banco Mundial, vai conhecer o choque de gestão promovido pelo ex-governador Aécio Neves (PSDB) e que completa dez anos.

NOVO COMANDO. A senadora Ana Amélia (RS) assumirá nos próximos dias a presidência da Fundação Milton Campos, do PP.

campanha antecipada - Vera Magalhães na FSP



sábado, abril 20, 2013

Campanha antecipada - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 20/04

Em jantar na noite de anteontem, a bancada do PT na Assembleia paulista declarou apoio à candidatura de Alexandre Padilha a governador em 2014. Mesmo ouvindo do ministro da Saúde que tal manifestação seria "precoce", 18 dos 22 deputados do partido prometeram levar ao ex-presidente Lula o desejo do bloco. Foi o primeiro movimento interno em favor de Padilha, que disputa com Aloizio Mercadante (Educação) a indicação petista para concorrer ao Bandeirantes.

Eleições... 
Rui Falcão, que é deputado estadual e presidente nacional do PT, não endossou o manifesto. Ele esteve no jantar apenas para saudar o ministro e seguiu para Santa Catarina. Ana Perugini, Adriano Diogo e Ana do Carmo faltaram.

... à mesa 
Falcão e Mercadante foram a outro jantar nesta semana, promovido pelo vice-presidente Michel Temer no Jaburu. Mapearam a aliança PT-PMDB nos Estados e formas de evitar que disputas locais ameacem a reeleição de Dilma Rousseff.

Prevenção 
Padilha e Geraldo Alckmin se encontrarão hoje no Instituto Butantã para lançar campanha de vacinação contra a gripe. "Será um teste de imunização para 2014", brinca um petista.

Juntos 1 
Aécio Neves e Marina Silva tiveram longa conversa telefônica ontem. Combinaram a estratégia para tentar mudar no Senado o projeto que restringe acesso de novas siglas, como a Rede da ex-ministra, a fundo partidário e tempo de TV.

Juntos 2 
A fórmula escolhida será tentar adiar a restrição para 2015. "Sou contra a criação indiscriminada de partidos, mas pior é o casuísmo'', diz o senador tucano.

Aceno 
O senador convidou Andrea Matarazzo, derrotado na disputa pelo comando do PSDB paulistano, a integrar a Executiva nacional, num gesto para tentar evitar que ele deixe o partido.

Pesos... 
A defesa de Simone Vasconcelos vai questionar o que considera "fragilidade de acusação'', alegando que a ex-funcionária de Marcos Valério foi condenada a uma pena (12 anos e 7 meses) maior que a de José Dirceu (10 anos e 10 meses), apontando como chefe de quadrilha no mensalão.

... e medidas 
"Tem pena maior que homicídio", diz o advogado Leonardo Isaac, que aposta na revista da pena para os crimes imputados.

Terreno... 
Dilma disse ao governador Renato Casagrande (PSB) que irá ao Espírito Santo em maio. Será a primeira visita da presidente ao Estado, onde foi derrotada na eleição de 2010, desde que assumiu. Ela vai inaugurar as obras de ampliação e dragagem do Porto de Vitória.

... hostil 
O Estado coleciona notícias ruins em negociações recentes em Brasília, como a redução do ICMS de produtos importados em transações interestaduais, a mudança na distribuição de royalties de petróleo e a ampliação do aeroporto de Vitória, parada desde 2009.

Eu não 
O senador Ciro Nogueira (PI) nega que tenha se queixado a Dilma do espaço do PP no governo, como relataram parlamentares do partido. Segundo o presidente da sigla, a conversa foi sobre palanques regionais.

Visitas à Folha 
Ersin Erçin, embaixador da Turquia no Brasil, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Mehmet Özgün Arman, cônsul-geral em São Paulo.

Carlos Wizard Martins, sócio do grupo Multi, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Alexandre Max, diretor de marketing e comunicação, e Raul Fagundes Neto, assessor de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"A Constituição é contraditória sobre o tema. Sendo assim, cabe a interpretação mais benéfica ao imputado, que é a Câmara decidir."
DO ADVOGADO LUIZ FERNANDO PACHECO, que defende José Genoino, sobre o acórdão do mensalão delegar ao STF a decisão sobre o mandato dos condenados.

contraponto

Pior do que está não fica

O deputado Tiririca (PR-SP) fazia parte da comitiva de parlamentares que vistoriou as obras do estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na saída, fez várias críticas ao andamento da construção.

--Está faltando quase tudo!

Diante da avaliação, os jornalistas presentes quiseram saber a opinião de Tiririca sobre a compra superfaturada do prédio da nova sede da CBF, no Rio de Janeiro. Mas a indignação de minutos antes desapareceu:

--Vou estudar o caso. Me liga mais tarde --disse o deputado, fechando o vidro do carro e indo embora.

Adeus às ilusões - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 20/04

A despeito de suas declarações, José Serra é candidato à Presidência. Aliados contam que ele se movimenta para que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) desista de concorrer ao Planalto. Ameaça sair do PSDB com esse objetivo. E pode se filiar ao Mobilização Democrática com essa expectativa, apostando que, ao arrancar com mais força nas primeiras pesquisas, Aécio desistirá.

'É a economia...' 
A oposição acusa o governo Dilma de adotar uma posição ideológica sobre a Venezuela. Mas a diplomacia brasileira diz que não é bem assim. As exportações do Brasil para o vizinho pularam de US$ 536 milhões, no primeiro ano de Hugo Chávez no poder (1999), para US$ 6 bilhões (2012). O saldo comercial a nosso favor, que era de US$ 165 milhões (2002), passou para US$ 4 bilhões (2012). A Venezuela entrou no Mercosul.

Atuam lá: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Odebrecht. Investem lá: Grupo Ultra, Brasken e Gerdau, entre outros. O governo brasileiro tem razões para crer que a oposição promoveria uma reaproximação com os EUA.

"Chegamos aqui, tomamos as terras dos índios, pegamos suas mulheres. O que eles fizeram (invadir o plenário) não foi nada perto do que fizemos com eles" 

Lincoln Portela Deputado federal (PR-MG)

Lado A e lado B 
O PMDB do Senado não reza pela mesma cartilha. De um lado estão o presidente da Casa, Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá. Do outro, o presidente da CCJ, Vital do Rêgo, e os líderes Eduardo Braga e Eunício Oliveira.

Caça ao voto
Todos os ministros que têm reunião internacional nos próximos dias foram orientados a pedir votos para a eleição do embaixador Roberto Azevêdo (foto) a diretor-geral da OMC. O ministro Antonio Patriota (Relações Internacionais) está à frente da campanha.
Nos próximos dias, o grupo de cinco candidatos se reduzirá a dois nomes.

Reação corporativa 
O Ministério da Saúde foi surpreendido com dezenas de pedidos de aposentadoria de médicos dos seis hospitais federais do Rio. A leitura é que isso se deve à instalação do ponto eletrônico, que faz o controle de horas efetivamente trabalhadas.

Apertando o passo 
O governador Cid Gomes (PSB-CE) defende internamente reunião do Diretório Nacional para discutir a candidatura de Eduardo Campos (PSB-PE) à Presidência. Cid quer que o partido defina seu rumo antes de setembro, o que lhe garantiria tempo para trocar de partido. Campos busca adiar ao máximo a reunião porque sabe que dela terá de sair uma decisão formal.

Pente-fino 
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mandou rever todos os contratos da Casa. Suspendeu convênio com empresa terceirizada de manutenção de computadores que cobrava R$ 12 mil pela visita de um técnico.

Referência internacional 
Uma delegação oficial da Indonésia chega segunda-feira a Belo Horizonte. A comitiva, organizada pelo Banco Mundial, vai conhecer o choque de gestão promovido pelo ex-governador Aécio Neves (PSDB) e que completa dez anos.

NOVO COMANDO. A senadora Ana Amélia (RS) assumirá nos próximos dias a presidência da Fundação Milton Campos, do PP.