quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A pacificação do funcionalismo público


Ministra-Chefe do Ministério do Planejamento, Mirian Belchior, considera que as demandas do funcionalismo público estão pacificadas pelos próximos três anos, após acordo definindo regras de reposição de salários – e aceitos por categorias representando 96% do funcionalismo.
Disse que algumas centrais sindicais disseram nunca ter conseguido acordo de prazo tão prolongado no setor privado.
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Mirian justificou aumentos diferenciados para algumas categorias prioritárias, como as universidades federais e o setor militar. Mas informa que o atendimento de todas as demandas iniciais dos sindicatos, dobraria o custo da folha, como proporção do PIB.
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Mirian considera que o maior empecilho aos investimentos públicos no país é a carência de projetos técnicos – tanto da parte da União, estados e municípios, quanto do setor privado.
Durante décadas, o setor público se organizou para impedir investimentos, seja por conta da crise fiscal dos anos 80, seja por conta da obsessão por superávits primários nos anos 90 e 2.000. Além disso, várias gerações de engenheiros foram absorvidas pelo mercado financeiro ou em funções menores.
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Quando o governo decidiu iniciar os programas de investimentos, deparou-se com enorme carência de projetos executivos (aqueles mais detalhados), seja para grandes obras, seja para obras municipais de saneamento.
Esta foi a razão de, no início, parte relevante dos recursos para saneamentos não ter sido demandado pelas prefeituras.
Depois, gradativamente as obras começaram a ganhar ritmo. “É um trabalho extenuante”, admite ela, “mas que é plenamente compensado quando se conferem os resultados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
De acordo com a pesquisa, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a rede coletora de esgoto alcançou mais 3,8 milhões de domicílio entre 2009 e 2011 – passando de 59% para 62,6% dos domicílios. No Norte o aumento foi de 63,8%, passando de 547 mi para 896 mil unidades.
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Sem projetos executivos, para impedir maiores atrasos, foram feitas licitações com projetos básicos (sem o detalhamento final), muitas vezes insuficientes para entender todas as dificuldades dos projetos. Foi como se trocasse pneu sem parar o carro.
Mesmo assim, diz Mirian, no PAC 1 já se conseguiu implementar 96% dos recursos previstos. E o PAC 2 está em pleno andamento.
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Desde o “Avança Brasil” – no governo FHC – tenta-se avançar em formas superiores de coordenação de despesas, através de comissões interministeriais.
A partir do PAC 1, criaram-se salas de situação para analisar e conduzir cada grande projeto. Juntam-se numa sala representantes dos diversos ministérios, autarquias, eventualmente estados e municípios envolvidos. Reúnem-se todos, identificando todos os problemas envolvidos, encaminhando soluções e definindo responsabilidades a cada qual. Depois, assinam um documento com a especificação das responsabilidades.
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Foi dessa maneira que definiram-se as grandes obras de infraestrutura do centro-oeste, explica Mirian, rebatendo críticas de alguns especialistas, de quem não teriam sido obedecidas as análises de fluxos de mercadorias na região.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mortes aumentam e delegado-geral quer pena maior


Em 8 meses, capital paulista teve aumento de homicídios em 5; no Estado, o crescimento acumulado neste ano já chega a 6,3%

25 de setembro de 2012 | 20h 36

Bruno Paes Manso e Daniel Trielli - O Estado de S. Paulo
Texto atualizado às 22h30.
SÃO PAULO - Os homicídios voltaram a crescer em agosto na capital e no Estado de São Paulo. Os assassinatos aumentaram na capital 15,2% no mês passado em relação ao mesmo período do ano anterior, fechando com 106 casos. Nos oito primeiros meses do ano, o crescimento na capital já acumula 15,4%. As informações foram divulgadas nesta terça-feira, 25, pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Depois de cair nos dois primeiros meses deste ano, o aumento nos homicídios começou em março e se manteve nos três meses que se seguiram. Em julho, a capital registrou queda, voltando a crescer no mês passado.
No Estado de São Paulo, o crescimento acumulado nos oito primeiros meses do ano chega a 6,3%. Em agosto, o aumento foi de 8,6% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a 391 casos.
Para o delegado-geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, essa variação é esperada, já que a capital, por exemplo, registrou em agosto só 14 casos a mais do que o mesmo período do ano passado. "Claro que um homicídio é sempre sentido pelas autoridades policiais. Mas esse valor é pequeno se pensarmos que há uma população de 11 milhões de habitantes", diz o delegado-geral.
Segundo Carneiro Lima, a reforma do Código Penal, que está sendo discutida atualmente no Congresso Nacional, pode ser uma boa oportunidade para endurecer as penas de assassinatos. "Não defendo que a prisão seja solução para todos os crimes, como furtos e outros casos mais leves. A prisão deve ser lugar de crimes violentos."
Trânsito. Se a violência dos homicidas permanece em alta, as mortes culposas resultantes de acidentes de trânsito estão em queda brusca no ano. Nos primeiros oito meses, a diminuição já acumula 37,5%. Foram 1.785 mortes a menos no trânsito do Estado de São Paulo, apesar do crescimento da frota.
Um dos motivos dessa queda é que na Secretaria de Segurança Pública começaram a ser feitos registros de homicídios dolosos de acidente de trânsito, nos casos em que os motoristas assumem o risco do crime cometido. Ao longo dos oito meses, contudo, foram só 63 casos de homicídios culposos no trânsito, o que representa uma porcentagem mínima das mortes no trânsito.
Latrocínios. Os roubos seguidos de morte também registraram crescimento no Estado. Foram 24 casos no mês passado, enquanto em agosto do ano passado foram registrados 14. Nos oito primeiros meses do ano, o crescimento total já chega a 9%, alcançando 229 casos no período. Na capital, os latrocínios caíram em agosto, passando de 8 para 4 casos, apesar de registrar aumento de 6% nos oito primeiros meses do ano.
Os estupros, que passaram também a contabilizar os atentados violentos ao pudor, também merecem destaque em agosto. Alcançaram o mais alto número desde que passaram a ser contados mês a mês, em janeiro do ano passado, com 1.184 casos, mostrando que as pessoas estão mais dispostas a denunciar.

Desigualdade no Brasil recua, mas ainda está entre as 12 mais altas


Ayr Aliski, da Agência Estado
BRASÍLIA - O Brasil reduziu drasticamente as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres nos últimos dez anos, mas ainda assim a desigualdade brasileira está entre as 12 mais altas do mundo. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que lançou ontem o estudo "A década inclusiva (2011-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda".
A pesquisa indica que "não há na História brasileira, estatisticamente documentada desde 1960, nada similar à redução da desigualdade de renda observada desde 2001". Paralelamente, entretanto, ao apresentar a pesquisa, o novo presidente do órgão, Marcelo Neri, ressaltou que os brasileiros ainda vivem sob extremas distâncias, quando o assunto é renda. "O brasileiro mais pobre é tão pobre quanto os intocáveis indianos e o brasileiro mais rico não é menos rico que o russo abastado e quase como o norte-americano abastado", disse Neri.
O estudo do Ipea considera dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma das conclusões é que entre 2001 e 2011, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou 16,6% em termos acumulados, enquanto a renda dos mais pobres cresceu 91,2% no período.
"Se se fizesse uma conta simples, seria um crescimento de 9% ao ano. A renda dos 10% mais pobres cresce 5 vezes e meia mais rápido que a dos 10% mais ricos", disse Neri. O Ipea ressalta também que a evolução da renda dos 20% mais ricos no Brasil foi inferior ao de todos os Brics, enquanto o crescimento de renda dos 20% mais pobres supera o de todos os demais, com exceção da China.
Por nível de escolaridade, o estudo do Ipea ressalta que no caso das pessoas que vivem em famílias chefiadas por analfabetos, a renda sobe 88,6%. Por outro lado, houve decréscimo de 11,1% daquelas cujas pessoas de referência possuem 12 ou mais anos de estudo completos. Por regiões, o estudo aponta que a renda do Nordeste sobe 72,8%, contra 45,8% do Sudeste. Da mesma forma, a renda cresceu mais nas áreas rurais pobres (85,5%) que nas metrópoles (40,5%). Além disso, o Ipea apurou que no período considerado, a renda dos brasileiros que se identificam como pretos e pardos sobe 66,3% e 85,5%, respectivamente, contra 47,6% dos brancos.
A pesquisa mostra, ainda, que nos dez anos considerados, a renda das crianças de zero a quatro anos sobe 61%, contra 47,6% daqueles de 55 a 59 anos. Neste último caso, o movimento é explicado por ações como o Bolsa Família e o Brasil Sem Miséria, argumenta o Ipea. A pesquisa destaca que tais programas privilegiam as mães como titulares dos benefícios. O Ipea ressalta, ainda, que o Bolsa Família custa hoje aos cofres federais menos de 0,5% do PIB. O estudo do IPEA considerou dados das PNADs de 1995 a 2011.
Neri, que assumiu a presidência do Ipea em 12 de setembro e concedeu nesta terça-feira, 25, sua primeira entrevista coletiva, compara o movimento traçado recentemente pelo Brasil como uma combinação do que ocorre na China e na Índia, com ascensão dos mais pobres, e chega a denominar essa trajetória de efeito "Chindia". "Os indianos e os chineses saindo da pobreza é mais ou menos a mesma cena que os nordestinos, pessoas de cor preta, analfabetos, a parte mais pobre do Brasil está percorrendo, saindo desde baixo".
O presidente do Ipea destacou que dados da Unesco indicam crescimento da desigualdade em todo países que já haviam reduzido esses índices, como a África do Sul, mas citou que o Brasil está indo contra essa corrente "Nos Estados Unidos, a desigualdade sobe há 30 anos", disse. "Não é à toa que invadiram Wall Street. Não é à toa que tentaram invadir a City londrina. É protesto contra a desigualdade."
Na conclusão do estudo, o Ipea destaca que "na verdade, a desigualdade no Brasil permanece entre as 15 maiores do mundo, e levaria pelo menos 20 anos no atual ritmo de crescimento para atingir níveis dos Estados Unidos".
O instituto ressalta que rendimentos do trabalho explicam 58% da queda do índice de Gini entre 2001 e 2008, sendo 19% dela explicada por aumentos dos benefícios da previdência social e 13% pelo Bolsa Família. "Cada ponto porcentual de redução do Gini pelas vias da previdência custou 352% mais que o obtido pelas vias do Bolsa Família", defende o Ipea. Para o instituto, se a década de 1990 foi a da estabilização da economia, a de 2000 foi a da redução de desigualdade de renda.
Bolsa Família
Para a nova década, o Ipea ressalta, várias vezes, a importância do Bolsa Família como instrumento promotor da qualidade de educação, do maior protagonismo dos pobres, novas portas de entrada à cidadania e aos mercados; crédito, seguro e poupança, erradicação da miséria. " A segunda década do novo milênio parece ser a de múltiplos caminhos em direção à superação da pobreza. Diversos deles serão trilhados sobre a estrutura do Bolsa Família", conclui o estudo.