domingo, 30 de outubro de 2011


As estratégias para matar a sede da China

Prevendo forte aumento na demanda por água, o país gasta os tubos em projetos de dessalinização e reciclagem. Questão de sobrevivência. E de negócios, é claro

30 de outubro de 2011 | 3h 06
Michael Wines, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Erguendo-se imponente na praia de Bohai Sea, nos arredores da cidade, a Usina Elétrica e de Dessalinização de Beijiang é uma maravilha tecnológica de US$ 4 bilhões: um gerador a temperaturas ultraelevadas, movido a carvão, dotado de moderníssimos controles de poluição, acompanhado por um avançado equipamento israelense que utiliza o calor residual para destilar água do mar transformando-a em água potável.
Existe apenas um problema na usina de 26 bilhões de yuans: a produção de água dessalinizada custa o dobro do preço pelo qual ela é vendida. Não obstante, o proprietário do complexo, um conglomerado estatal chamado S.D.I.C., se prepara para quadruplicar a capacidade da usina, tornando a China a maior produtora de água dessalinizada do mundo. "Alguém precisa perder dinheiro", disse Guo Qigang, o gerente geral do complexo. "Nós somos uma empresa estatal, e ela é nossa responsabilidade social." Em alguns países, essa seria considerada uma loucura econômica total. Na China, é uma estratégia econômica.
Como aconteceu no caso dos painéis solares e com as turbinas eólicas, o governo decidiu tornar-se uma força em mais um setor florescente relacionado ao ambiente: fornecer ao mundo água potável. O projeto de Beijiang, a sudeste de Pequim, fortalecerá a competência da China no processo de dessalinização, o aperfeiçoamento dos aspectos econômicos contribuirá para a criação de uma base industrial e, no médio prazo, reduzirá a escassez crônica de água em Tianjin. O fato de esses investimentos também irem embora como água - pelo menos por enquanto - não é uma grande preocupação. "As motivações políticas são mais importante que as econômicas", disse Olivia Jensen, especialista na política de água da China e diretora da Infrastructure Economics, uma empresa de consultoria sediada em Cingapura. "Se o governo central afirma que a dessalinização será uma importante área de interesse e que destinará recursos para a tecnologia da dessalinização, seguramente o fará."
Por determinação do governo, a China está rapidamente se tornando um dos mercados de maior crescimento do mundo em água dessalinizada. O principal objetivo é quadruplicar a produção até 2020, partindo dos atuais 680 mil metros cúbicos diários para nada menos que 3 milhões de metros cúbicos, equivalentes a cerca de mais 12 usinas de 200 mil toneladas diárias, como a que está sendo ampliada em Beijiang.
O recente plano quinquenal da China para o setor deverá ordenar a criação de uma indústria nacional de dessalinização, segundo Guo Yozhi, que preside a Associação de Dessalinização da China. Institutos existentes em pelo menos seis cidades chinesas pesquisam o desenvolvimentos de membranas, a tecnologia na qual se baseiam as técnicas de dessalinização mais sofisticadas e econômicas. A Comissão Nacional para o Desenvolvimento e a Reforma, a mais alta agência de planejamento da China, está elaborando planos para dar tratamento preferencial a companhias nacionais que constroem equipamentos de dessalinização ou requereram patentes para tecnologias de dessalinização. Acredita-se que haverá incentivos fiscais e empréstimos a juros baixos para incentivar a produção interna.
Guo disse que o papel do governo na dessalinização é "simbólico", porque os investimentos públicos diretos em projetos que usam água do mar não ultrapassam 10% do seu custo. Em comparação, ele afirmou, grandes empreendimentos hídricos, como o Projeto de Desvio da Água Norte-Sul, que desviará a água do Rio Yang-tse-kiang do sul para o norte do país, onde a água escasseia, são completamente financiados pelo governo. No entanto, os planos do governo poderão significar um investimento de 200 bilhões de yuans, ou US$ 31 bilhões, de empresas estatais, agências governamentais e parceiros privados.
Há diversos motivos para a China querer uma indústria nacional de dessalinização, e principalmente a possibilidade de produzir a própria água potável. A demanda de água aqui deverá crescer 63% até 2030 - mais do que em qualquer outro país do mundo, segundo a Asia Water Project, uma organização que fornece informações para empresas.
O norte da China sofre há muito tempo com a escassez de água, e cidades em grande expansão como Pequim e Tianjin já utilizam amplos programas de reciclagem e conservação para atender às necessidades.
Em Tianjin, considerada uma cidade modelo em matéria de conservação de água, 90% da água utilizada na indústria é reciclada; 60% dos sistemas de irrigação agrícola usam tecnologias que economizam água; 236 quilômetros de tubos para a reciclagem da água correm por baixo da cidade. Os apartamentos em uma área de 25.900 quilômetros quadrados da cidade têm duas torneiras, uma para a água potável e a outra para a água reciclada destinada a outros usos.
A usina de Beijiang abastece diariamente um bairro em expansão com 10 mil toneladas de água dessalinizada, e pretende futuramente bombear 180 mil toneladas. Uma segunda usina de 100 mil toneladas abastece uma outra vasta usina de produção de etileno fora da cidade.
Mas a planta de Beijiang tem enfrentado alguns problemas. A água destilada isenta de minerais carrega a ferrugem dos canos da cidade antes de chegar às torneiras, o que torna a água marrom. Alguns habitantes desconfiam dessa água, afirmando que sua pureza significa que ela carece de nutrientes. A usina procura agora sanar o problema acrescentando minérios à água.
Mas para alguns, saciar a sede da China pode trazer um efeito paralelo benéfico para objetivos maiores. O mercado global da tecnologia da dessalinização mais que quadruplicará até 2020, para cerca de US$ 50 bilhões anuais, previu no mês passado a empresa de pesquisas SBI Energy, e as secas cada vez mais frequentes em todo o mundo parecem garantir um crescimento ainda maior. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Tecnologia ‘rouba’ cada vez mais empregos

Estudo de professores do MIT mostra que muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra as máquinas

27 de outubro de 2011 | 0h 03
The New York Times
A crise econômica explica em grande parte a escassez de empregos nos EUA, mas a tecnologia cada vez mais avançada amplificou dramaticamente o impacto, mais do que é possível perceber, segundo dois pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
A crescente automação do trabalho outrora realizado por seres humanos é o tema central do livro eletrônico Race Against the Machine. "Em poucas palavras, muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra a máquina", afirmam os autores.
Os autores, Erik Brynjolfsson, economista e diretor do Centro de Negócios Digitais do MIT, e Andrew P. McAfee, diretor associado e chefe da equipe de cientistas do centro dedicados à pesquisa, são dois dos principais especialistas da nação em tecnologia e produtividade. O tom de alarme é o ponto de partida para os dois cientistas, cuja pesquisa anterior se concentrava principalmente nos benefícios da tecnologia avançada.
Na realidade, originalmente eles pretendiam escrever um livro intitulado The Digital Frontier, sobre a "cornucópia de inovações que estão ocorrendo", disse McAfee. Mas, como a situação do desemprego não melhorou nos dois últimos anos, os autores mudaram seu objetivo e resolveram examinar o papel da tecnologia na melhoria da situação dos desempregados.
Novas funções
Eles não são os únicos a destacar, nos últimos tempos, o desaparecimento do emprego por causa da tecnologia. Na edição atual do McKinsey Quarterly, W. Brian Arthur, professor convidado no Santa Fé Institute no Novo México, adverte que a tecnologia está rapidamente assumindo funções no setor de serviços, depois da onda de automação no trabalho agrícola e industrial. "Esse último repositório de empregos está encolhendo - no futuro, será muito menor o número de funcionários de nível executivo que desempenharão funções nas empresas - e aí está o problema", escreve Arthur.
A tecnologia sempre roubou trabalho e empregos. Ao longo dos anos, muitos especialistas advertiram - equivocadamente - que as máquinas estavam deixando os seres humanos para trás. Em 1930, o economista John Maynard Keynes alertou a respeito de uma "nova doença", que ele chamou de "desemprego tecnológico".
Mas Brynjolfsson e McAfee argumentam que o ritmo da automação acelerou nos últimos anos por uma combinação de várias tecnologias, como a robótica, máquinas controladas numericamente, reconhecimento de voz e comércio online. (Steve Lohr)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011



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Promotor quer parar Linha 5 do Metrô



Para Ministério Público, modelo de edital causou prejuízo de R$ 327 milhões; responsáveis devem ser processados por improbidade

26 de outubro de 2011 | 3h 04
Marcelo Godoy e Nataly Costa - O Estado de S.Paulo
O Ministério Público Estadual (MPE) vai pedir a suspensão dos contratos do Estado com os consórcios da Linha 5-Lilás do Metrô e a consequente paralisação das obras. O motivo é o suposto prejuízo de R$ 327 milhões aos cofres públicos causado pelo modelo de licitação que, mesmo sob suspeita de irregularidades, foi validado pelo Metrô.
Os responsáveis pela assinatura do contrato devem ser processados por improbidade pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social. O modelo de edital de licitação, segundo o MPE, fez com que as propostas ganhadoras dos sete últimos lotes fossem mais caras do que as de concorrentes que ofereceram valores menores. Isso só foi revelado depois da abertura dos envelopes com as propostas perdedoras para cada lote, determinada pela Justiça.
A suposta distorção ocorreu porque o edital previa que as empresas só podiam vencer um dos oito lotes em disputa. Isso significa que o ganhador do lote 1, por exemplo, não teria as propostas para os demais trechos abertas. Assim, mesmo que ele oferecesse uma proposta mais barata, ela estaria desclassificada porque a autora havia ganho o trecho anterior. O suposto prejuízo foi revelado pelo Estado em março.
Um exemplo dessa suposta distorção foi constatado no lote 2. A menor proposta foi a do Consórcio Constran/Construcap, de R$ 315 milhões. Mas o envelope com ela não chegou a ser aberto, pois as construtoras já haviam ganho o primeiro lote. O vencedor foi o consórcio Galvão/Serveng, com uma proposta 18% maior (R$ 386 milhões).
Uma investigação sobre a legalidade dos contratos foi aberta pelo MPE a pedido da Corregedoria-Geral da Administração do Estado. Esta enviou ao Ministério Público um relatório apontando possíveis irregularidades. Em agosto, a Promotoria fez uma recomendação ao Metrô para que cancelasse os contratos, mas não foi atendida.
Válido. O Metrô afirma que "a recomendação do Ministério Público Estadual foi analisada, mas a companhia tem plena convicção da decisão de continuar as obras". Quanto ao edital, o Metrô diz que o documento foi considerado válido e legal pelo "Conselho Superior do MPE, pelo Tribunal de Contas do Estado e por juízes e desembargadores. Em todas as análises, o edital foi considerado legal e válido".
O inquérito conduzido pelo promotor Marcelo Milani, no entanto, teria constatado outras irregularidades. O suposto prejuízo causado pelo modelo do edital seria suficiente para construir cerca de 3,5 km de metrô.
As obras da Linha 5-Lilás já foram paradas uma vez, em outubro de 2010, também por suspeita de ilegalidades na licitação. Foram retomadas em junho deste ano, mas só o primeiro lote está sendo executado: o trecho Largo Treze-Adolfo Pinheiro.
O MPE deve ingressar com ação na 9.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que já analisa outras supostas ilegalidades no caso. Além desses contratos, o Ministério Público Estadual abriu outro inquérito para analisar a contratação do projeto executivo da obra. Orçado em R$ 100 milhões, está a cargo da empresa italiana Geodata.    
CRONOLOGIA
Junho de 2009
Licitação
Sai o vencedor do 1.º lote e obras começam na zona sul
Outubro de 2010
Paralisação
Jornal Folha de S.Paulo divulga documento mostrando conhecimento antecipado do resultado da licitação
Junho de 2011
Retomada
Governo mantém o contrato e obras são reiniciadas