quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Aumenta consumo de combustíveis no Brasil, mas cai o consumo de etanol

17/02/2011 - 10h02


Por Sérgio Abranches, do Ecopolítica

Cai demanda por etanol, cresce demanda por gasolina. Resultado da diferença óbvia entre um biocombustível que é produzido junto com uma commodity alimentar de valor no mercado global e um combustível fóssil, cujo preço é fixado por empresa dominante, quase monopolista, no mercado doméstico.

O preço do álcool/etanol terá sempre por referência o preço do açúcar dado pelo mercado internacional. O preço da gasolina é determinado pela Petrobrás e não pelo mercado. Se a demanda por açúcar estiver aquecida e elevar seus preços internacionais, os produtores aumentarão a produção de açúcar em detrimento da de álcool. Com menor oferta de álcool os preços sobem. Se o preço do álcool não compensa o diferencial de eficiência do biocombustível nos motores flex, o consumidor opta pela gasolina.

Por isso caiu a demanda por etanol, em 3% e aumentou a de gasolina, em 17,5%. Também subiu o consumo de óleo diesel, em 11%. O consumo total de combustíveis cresceu 8,4%. Gasolina cresceu mais que a queda do etanol não tanto por causa dos importados rodando só a gasolina. A razão principal dessa diferença é que todo o aumento de consumo dos novos automóveis flex foi atendido pela gasolina, que também cobriu a queda do consumo de etanol. Ou seja houve demanda nova atendida por gasolina e substituição de etanol por gasolina.

Tudo bem, até aí. Mera introdução à economia. O problema é que o governo apresenta o carro flex como a grande solução global para a redução das emissões de gases estufa. Já ouvi autoridade graúda dizer que se o mundo fizesse como nós, o problema estaria resolvido. Exageros à parte, o que está errado? A aposta em soluções únicas e mágicas na política energética. O etanol, em particular, e o biocombustível de primeira geração, em geral, não são a resposta definitiva, nem as melhores a longo prazo para o setor de transportes. Não exige “a” solução, pelo menos no horizonte tecnológico atual.

O mesmo problema existe na política para o setor elétrico: as mega-hidrelétricas, especialmente na Amazônia, não são a única, nem a melhor forma de ampliar a capacidade instalada. Nem as termelétricas fósseis a única alternativa a elas. A melhor política é de diversificação de fontes e redução efetiva da participação das fontes fósseis.

No setor de transportes, o recurso a veículos elétricos e híbridos é uma resposta óbvia e crescente no mundo. Aqui, o governo cria todas as dificuldades possíveis, para evitar concorrência ao motor flex. A aposta em uma única solução gera dependência e não segurança. O resultado é que ficamos à mercê das oscilações do preço do açúcar no mercado internacional. E é preciso que se diga, com toda clareza: o aumento no consumo de gasolina e diesel elevou as emissões de gases estufa do setor de transportes e piorou a qualidade do ar das cidades. Prejuízos para o clima e a saúde pública.

No setor elétrico, é claro que já deveríamos ter proibido termelétricas a carvão, ao invés de estimulá-las com incentivos e transferir esses e outros incentivos aos combustíveis fósseis para a eletricidade eólica e solar. Deveríamos estimular, também, usinas baseadas na energia das ondas e marés. Isso poderia parecer esquisito há uma ou duas décadas atrás. Hoje, não recorrer a essas fontes significa ficar na retaguarda das principais economias do mundo, inclusive nossas congêneres emergentes como China e Índia. A matriz energética brasileira está ficando mais suja, mesmo com as hidrelétricas do Norte, e sem contar o impacto delas. Deveria e poder estar ficando mais limpa com a diversificação das fontes renováveis.

Esta não é uma política energética durável. Insustentável ela claramente é. Nem é uma resposta às nossas necessidades no contexto do processo de desenvolvimento e concorrência global que marcará o restante do século XXI.

(Envolverde/Ecopolítica)


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O pré-sal e o etanol

- POR ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

A despeito da inquestionável competência da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal quanto à sustentabilidade


De acordo com as últimas avaliações da Petrobras, a reserva total do pré-sal soma cerca de 13 bilhões de barris, o que corresponde a aproximadamente 1% das reservas restantes mundiais e que nada significaria para a humanidade quanto ao deslocamento do pico de produção.
Admitindo um tempo de vida de 80 anos para as reservas dos campos do pré-sal, calculamos que sua contribuição será, em média, de aproximadamente 20% acima da atual produção nacional.
Por outro lado, com o barril de petróleo a preços superiores a US$ 90, até as avaliações menos otimistas de custos de produção do barril de petróleo do pré-sal talvez justificassem o investimento.
Para a comparação de vantagens financeiras entre combustíveis são essenciais duas variáveis: os custos de produção da unidade de energia e os custos de investimento por unidade de energia por dia.
Pois bem, dentro dos limites tecnológicos atuais, o melhor que se pode esperar para o pré-sal é um custo de produção de pelo menos o dobro daquele da produção de etanol. Quanto aos custos de investimento, tudo parece indicar que a situação é ainda pior para o pré-sal.
Um terceiro fator a ser considerado é o risco financeiro.
Em primeiro lugar, há a questão de um mercado cujos governos encontram sucessivos sofismas para retardar a penetração do etanol brasileiro. Por outro lado, os riscos de produção do etanol são ínfimos em comparação com os do petróleo do pré-sal, cuja tecnologia de extração ainda não está desenvolvida.
Consideremos agora a questão da sustentabilidade e, sob esse aspecto, do aquecimento global. Enquanto o petróleo é o problema, o etanol de cana-de-açúcar é a solução. Mas não é apenas sob esse importante ângulo de sustentabilidade que a imensa superioridade do etanol sobre o petróleo do pré-sal deve ser considerada.
Risco de vazamento a grandes profundidades e sob altas pressões são imprevisíveis. Portanto, a despeito da inquestionável competência técnica da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal sob qualquer aspecto de sustentabilidade.
Enquanto a produção de etanol é intensiva em mão de obra, a de petróleo o é em capital, o que é uma desvantagem para um país em desenvolvimento, em que o crescimento populacional exige a criação de empregos em vários níveis de especialização. Portanto, também sob o ponto de vista social, o etanol é preferível ao petróleo do pré-sal.
Com apenas 8% dos 200 milhões de hectares de pastagem, seria possível substituir por etanol 5% da gasolina consumida no planeta. Ou seja, a opção pelo etanol nessa medida, bastante conservadora, proporcionaria uma produção de combustível líquido entre três e quatro vezes maior que todo o petróleo do pré-sal até hoje confirmado, e não apenas por 60 ou 80 anos, mas indefinidamente.
Se tudo o que foi dito aqui é verdade, ou pelo menos verossímil, então como se explica a opção pelo pré-sal? Ou é um grande equívoco ou é uma revelação. A imensa intuição do presidente Lula deve ter percebido que o Brasil, nesse estado juvenil de desenvolvimento em que se encontra, precisa de um projeto nacional, pioneiro. Precisa de seu "homem na Lua".
Enquanto o etanol seria só um pouco mais da mesmice prosaica do século passado, o pré-sal, com seus imensos desafios tecnológicos e financeiros, seria a bandeira do desenvolvimentismo ousado, para não dizer agressivo, que deveria propelir o país no século 21. O Brasil chegaria, assim, mais fundo, aonde nenhum outro país teria ousado ir.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.

Autoridades aprovam uso de 15% de etanol em gasolina nos EUA


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DA EFE, EM WASHINGTON, na folha.com
Apesar da oposição dos fabricantes de automóveis, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) aprovou nesta sexta-feira o uso de gasolina com 15% de etanol (E 15) para veículos fabricados entre 2001 e 2006.
A diretora da EPA, Lisa Jackson, disse através de um comunicado que "testes concluídos recentemente e a análise da informação mostram que E 15 não danifica o equipamento de controle de emissões em carros e caminhonetes mais novos".
"Sempre que a ciência e a lei apoiarem medidas que permitam mais combustíveis domesticamente produzidos nos veículos dos Estados Unidos, esta administração tomará essas medidas", acrescentou Lisa.
A EPA já tinha autorizado o uso de E 15 em automóveis produzidos após 2007, mas não em veículos mais antigos.
Praticamente todos os fabricantes de automóveis se opuseram à medida.
Em 20 de dezembro, o presidente da Aiam (Associação de Fabricantes Internacionais de Automóveis, na sigla em inglês), Michael Stanton, disse que a decisão da EPA se dá "antes que os estudos críticos sobre os efeitos do E 15 terminassem".
Stanton reiterou sua oposição em carta que enviou em 17 de janeiro ao congressista Darrell Issa.
"Existem provas convincentes de que uma mistura mais elevada de etanol pode causar problemas significantes ao meio ambiente, à longevidade de motores, assim como de operação e de segurança em muitos motores à gasolina".
Os fabricantes de automóveis não são os únicos que se opõem ao aumento do nível de etanol na gasolina.
As associações de comércio alimentício consideram que o maior uso de etanol como combustível provocará o aumento dos preços dos alimentos.
A EPA também afirmou nesta sexta-feira que decidiu não permitir, por enquanto, o uso de E15 em motocicletas e veículos pesados.