Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
Ventos favoráveis na economia americana sinalizam que tempos melhores estão para vir. O desemprego caiu para 9%, o consumo interno aumenta um pouco, o risco de deflação diminui. Alguns já admitem que o PIB dos Estados Unidos pode crescer até 4%, se não mais, se o cenário atual se mantiver no primeiro semestre. Será bom para a economia mundial pois os EUA representam quase 25% do PIB global. Se não crescerem, o mundo não cresce. Continuará sendo salvo pelos emergentes, que já dão sinais de terem chegado ao limite. China e Índia, ainda crescem, mas o Brasil se vê forçado a desacelerar. Ou seja, os países desenvolvidos, que representam quase 59% do PIB mundial, precisam voltar a crescer de forma sustentável para que a recessão seja definitivamente superada. Não se pode contar ainda este ano com a União Europeia. A Alemanha voltou a crescer, mas se sustenta no forte aumento das exportações para seus parceiros regionais.
Bernanke estava certo? Pelo menos até agora, sim. Diante dos últimos indicadores americanos, volta-se a criticar a política monetária expansionista do presidente do Fed, Ben Bernanke. Ele desvaloriza o dólar, pressiona os preços das commodities, estimula as exportações, mas prejudica os outros. Bernanke defendeu sua política no Congresso de críticas dos republicanos e de outros países, como o Brasil. A economia está se reanimando, disse ele, mas vai continuar precisando de estímulos. Juro em 0% e injeção de dólares, direta ou indireta, mesmo porque a inflação está controlada. A única pressão é o petróleo. O desemprego recuou, mas é o maior desde 1930 e o mercado imobiliário continua retraído. Mesmo com mais exportações, a balança comercial tem um déficit de US$ 643 bilhões e a contas correntes de US$ 460 bilhões.
De novo as commodities. Mesmo neste cenário mais ameno nos EUA, persiste o clamor contra o aumento dos preços das commodities. Só em janeiro mais 3,4%. A França e a Alemanha querem que os países do G-20 aprovem o controle de cotações e sugerem a formação de estoques internacionais de alimentos. Só que esses estoques já existem. Mais ainda, apesar dos problemas climáticos, as safras mundiais devem superar a do ano passado. Podem ser recorde. Não é apenas o aumento do consumo que pressiona os preços, mas as operações financeiras no mercado de commodities. Há outro fato que poucos comentam. É a alta do petróleo, com o barril beirando US$ 100.
Brasil, nada a reclamar. Aqui, não temos nada a temer ou reclamar. O Brasil produz não só commodities agrícolas e minerais de ferro e alumínio, mas petróleo também. É o único que tem possibilidade quase ilimitada para crescer. Em poucos anos estará extraindo 2 milhões de b/d das reservas que devem passar de 50 bilhões de barris.
Outro fato marcante, ao contrário dos EUA, Europa e Japão, o Brasil tem um mercado interno vigoroso que a absorve grande parte da produção nacional. Não depende tanto dos outros para continuar crescendo.
O desafio de Bernanke. Em seu depoimento no Congresso, afirmou que é injusto atribuir o excesso de demanda ao mercados emergentes. "Esses países estão tirando milhões de pessoas da pobreza que passaram a se alimentar melhor." Esse recado não é para o Brasil que já está fazendo tudo isso sem tentar conter o consumo de alimentos que produz. Enfrenta, isto sim, a agressiva política da exportação chinesa, com a qual não sabe ainda como lidar. Para o Brasil, o importante é que EUA e China, seus maiores parceiros comerciais, continuem crescendo e importando.
A equipe econômica e do BC podem enfrentar e resolver o resto. Sem otimismo excarcerado,- a coluna não é otimista é realista e se baseia nos fundamento da economia - estamos indo bem, senhores, muito bem neste desafio. E há espaço para melhorar ainda mais. Muito mesmo.