Não teríamos ideia de como foi São Paulo na segunda metade do século 19 se Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) não tivesse feito suas centenas de imagens da cidade. Nenhum outro fotógrafo do seu tempo assumiu empreitada parecida. Ninguém, como ele, documentou a evolução paulistana quando ainda eram escassos os registros de paisagens urbanas.
Sua sensibilidade ia além do excelente enquadramento. Ele buscava captar a mudança no cenário pela ótica do progresso. Cada foto que tirava era um documento de cultura. Percebia que naquele momento a cidade estava em mutação e deixava de ser uma localidade modorrenta para ser tomada por uma agitação febril impulsionada pela economia do café.
Um de seus feitos foi ter sido o primeiro a fazer um "Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo" com fotos de 1862 e de 1887, mostrando como o lugar se havia desenvolvido em 25 anos.
Nesse período a população local mais do que dobrou, saltando de cerca de 20 mil para 47 mil moradores e o dinheiro do café começou a jorrar como nunca. Havia também o impulso cosmopolita da Faculdade de Direito do largo São Francisco, que atraia estudantes e intelectuais para a cidade, criando uma vida boêmia até então inexistente.
O álbum foi composto por 60 imagens, algumas panorâmicas e outras tomadas parciais de casas, ruas, largos, jardins e prédios importantes. Entre as paisagens fotografadas por ele está o largo da Sé, a várzea do Carmo, a atual rua Florêncio de Abreu, a rua Tabatinguera e o Pátio do Colégio.
Do total de fotos, 18 são pares comparativos enquadrados mais ou menos pelo mesmo ângulo. Militão classificou as fotos de 1862 como antigas e as de 1887 como modernas.
Disse na ocasião que julgava o trabalho muito importante, mas pouco rendoso. Apesar da relevância histórica, o produto foi um fracasso comercial e poucos exemplares foram comercializados. Em uma correspondência para um amigo no ano do lançamento escreveu que "muito pouco se vende e é preciso pedir pelo amor de Deus aos fregueses e ainda para eles pagarem quanto quiserem".
O fotógrafo fez outros álbuns, como o "Vistas da Cidade de São Paulo", de 1863, o "Vistas da Cidade de Santos", de 1865, e o "Vistas da Estrada de Ferro Santos Jundiaí", de 1868.
Militão pensava em suas fotos como símbolos de uma época e um legado para o futuro. Foi, além disso, um produtivo retratista de pessoas, embora essa não fosse sua prioridade.
Em 1875 tornou-se proprietário do estúdio Photographia Americana, onde produziu imagens de celebridades como Dom Pedro 2º, Ruy Barbosa, Castro Alves, Joaquim Nabuco e Luiz Gama.
Também fotografou muitos personagens anônimos porque cobrava preços módicos por suas fotos, entre os mais baratos da cidade. Cada retrato saia por cinco mil réis, um valor acessível na época. Isso permitia que a população mais pobre comprasse suas fotos.
O fato de seu estúdio ficar na praça Antônio Prado, em frente à antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos explica a grande quantidade de negros fotografados por ele, não como escravos, mas como cidadãos comuns.
Nascido no Rio de Janeiro, Militão se mudou para São Paulo aos 25 anos de idade. Sua primeira profissão foi a de ator e a partir da década de 1850 começou a fazer retratos. Produziu mais de 12 mil imagens. Durante longo tempo, o fotógrafo caiu no esquecimento, mas, ao longo do século 20, seu grande valor passou a ser reconhecido.
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