sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Em São Paulo, a distância entre os planos de longo prazo e as decisões do dia a dia, FSP

 A prefeitura apresentou o Plano Municipal Hidroviário, que pretende unir Tietê, Pinheiros e represas para criar um sistema de transporte ao redor da cidade. É estimulante ver um projeto tão importante, de mobilidade e sustentabilidade sendo discutido em audiências públicas, numa iniciativa que junta várias secretarias municipais e a USP.

As imagens apresentadas no plano são lindas e fazem sonhar com uma cidade com águas limpas, rios navegáveis e margens bem cuidadas.

Bem, aí, surge a questão inevitável: a cidade está conseguindo tocar projetos de longo prazo? Dá para confiar nos planos que perpassam várias gestões?

Temo que a resposta seja duplamente negativa.

Viagem experimental da modalidade de barco da Uber no Rio Pinheiros, próximo ao Parque Bruno Covas. - Danilo Verpa/31.jul.2024/Folhapress

Primeiro, porque planos tendem a ser reconfigurados ou ignorados em administrações sucessivas. Um projeto gigante como esse, que dura décadas e promete custar mais de R$ 8 bilhões, vai precisar de um órgão de execução que sobreviva a mudanças políticas e articulação com outros municípios.

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Segundo, porque a administração atual, que foi capaz de se mobilizar para produzir um plano interessante e estratégico como esse, parece hesitante em seguir com ênfase a cartilha da mobilidade sustentável nas ações do dia a dia.

Para começar, tudo que diz respeito à mobilidade ativa anda devagar. Apesar de andar e pedalar serem os meios de transporte mais limpos (pedestres e ciclistas emitem zero gramas de CO2), a Prefeitura construiu muito menos ciclovias e refez muito menos calçadas do que as metas que ela própria estabeleceu. Para piorar, há mais paulistanos morrendo atropelados a cada ano, o que é estimulado pela falta latente de fiscalização. O medo e a falta de estruturas são desincentivos a andar a pé e bicicleta, e incentivos ao uso de transporte individual, numa indesejada inversão de prioridades.

transporte público também é muito menos poluente que o individual, mas não avança, mesmo num ano com caixa para investimentos. Os ônibus elétricos chegaram a apenas 3% da frota contra os 20% previstos. Os corredores de ônibus, que aumentam a velocidade média e são um precioso incentivo à troca de transporte deixaram de ser construídos (6 km contra meta de 40 km). É significativo que a Prefeitura tenha acabado de autorizar a presença de táxis sem passageiros em corredores de ônibus, potencialmente diminuindo uma das maiores vantagens do transporte público.

Para terminar, muitas ações parecem ir na contramão da sustentabilidade. O túnel da Sena Madureira, ao custo de R$ 600 milhões, não prevê transporte público, cortará árvores e destruirá casas. A extensão da marginal Pinheiros vai passar por cima de uma área verde permeável – o futuro parque Jurubatuba – e um incinerador em São Mateus pode vir a derrubar dez mil árvores.

Torço para paulistanos do futuro poderem se transportar de barco por rios limpos e relaxar em parques espetaculares. Entretanto, é difícil imaginar que isso aconteça sem uma mudança nas prioridades das ações de curto prazo, decididas no calor cada vez maior do dia a dia da cidade.

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