terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Claudia Leitte comete crime ao levar Jesus para a folia?, FSP

 A cantora Claudia Leitte deverá se manifestar até o fim do mês sobre a acusação de cometer racismo. Durante uma apresentação em dezembro, ela substituiu o nome "Iemanjá" por "Yeshua" (Jesus) ao cantar "Caranguejo". Houve ofensa? A resposta não é, digamos, "preto no branco".


O cantor Carlinhos Brown, adepto do candomblé, saiu em defesa da artista. "Claudia Leitte não é uma pessoa racista", afirmou, preferindo uma visão sincrética das religiões. "Nós (do candomblé) seguimos os caminhos de Jesus Cristo. Você não entra em um terreiro que não tenha uma imagem do coração sagrado de Jesus."

A cantora Claudia Leitte - Eder Lima/Secretaria Municipal de Cultura de SP/Divulgação

O pastor Alexandre Gonçalves, da Igreja de Deus, bacharel em direito, também não vê crime. "O Ministério Público não pode tutelar a nossa consciência. Ela alterou a letra por ser de outra religião e não se sentir bem em celebrar uma fé que não é a dela", disse. Para ele, trata-se de uma questão de direito autoral, algo entre a cantora e os compositores.

Fã dos gêneros death metal e trash metal, o pastor Alexandre lembra como os satanistas do black metal se sentiram ofendidos pela banda Antidemon, que faz música pesada com letras cristãs. "Deixa o povo cantar como quiser, meninada!", defende.

O preconceito religioso e a censura são temas sensíveis para evangélicos, que frequentemente se sentem perseguidos pelo Judiciário e pelo pensamento progressista. No entanto, muitos preferiram adotar o silêncio nesse caso ou criticar a atitude da cantora, que se apresenta como evangélica.

Um argumento recorrente é que "Caranguejo" não é uma música secular, mas religiosa por ser consagrada à orixá, o que torna a mudança uma provocação ou, no mínimo, insensibilidade da cantora.

A pregadora assembleiana Cremilda Falcão, por exemplo, condenou a mudança na letra. "Se um cantor pegasse uma música gospel e trocasse Jesus por Exu, ninguém ia gostar. Se é uma entidade deles, tem que respeitar."

O pastor Kaká Menezes, da Igreja das Estações, concorda: "Se pegarem uma música famosa do (grupo gospel) Diante do Trono e colocarem um orixá, a galera vai se ofender. Se ela não quer cantar uma música que fala sobre Iemanjá, é só ela não cantar a música."

Outro ponto de crítica, destacado pelo pastor pentecostal Nilson Gomes, é pelo caso ter acontecido em um show de Carnaval. "Muitos se perguntam: se ela se converteu, por que estava no Carnaval?" Ao mesmo tempo, ele se pergunta: "Mas não seria o Carnaval justamente o lugar para se falar de Jesus? E ela não seria a pessoa com prestígio para fazer isso para aquela audiência?"

No fim, esse caso evidencia duas visões de mundo em disputa: de um lado, uma perspectiva sincrética, que vê positivamente a mistura entre tradições religiosas; de outro, uma lógica de separação, em que protestantismo e religiosidade de matriz afro se respeitam, mas a distância.

Mais importante, no entanto, é perceber como a polarização de opiniões, tão destacada na forma como o caso vem sendo noticiado, despreza as nuances das percepções de evangélicos e candomblecistas.

Nenhum comentário: