terça-feira, 19 de novembro de 2024

Dora Kramer - Descontração tem limite, FSP

 A informalidade em figuras públicas pode ser um ativo, fator de identificação popular, se bem aplicada. Ou pode deslizar para o terreno da inconveniência quando seus autores não observam os limites da compostura adequada ao lugar que ocupam.

Tem sido o caso de repetidos excessos da mulher do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) em situações oficiais. Rosângela da Silva demonstra não ter desencarnado do papel de militante de esquerda do qual precisaria se desvincular antes de criar um problema mais sério para o governo e ao país.

O episódio da dancinha ao desembarcar na Índia enquanto as enchentes assolavam o Rio Grande do Sul já havia sido constrangedor e aproveitado pela oposição o suficiente para que ela se desse conta da necessidade de se adaptar à posição assumida lá se vão quase dois anos.

O fato, no entanto, foi inserido no capítulo das gafes sem maiores consequências para além de denotar uma acentuada falta de noção sobre a liturgia do poder.

Quem quer ser atuante, ter protagonismo e muito justamente almejar influência, deve obedecer a algumas normas. Entre as quais a da boa educação.

Insultar quem quer que seja, da maneira como fez a senhora Janja em evento preparatório do G20 ao se referir a Elon Musk com um palavrão em nada atenuado por ter sido dito em inglês, fere a regra básica da polidez. Mais: adocica a vida de bolsonaristas, autoriza o troco em grosserias e ainda provoca, como provocou, embaraços a diplomatas.

Na mesma ocasião, ela usou de sarcasmo ao abordar a explosão das bombas na praça dos Três Poderes, chamando de "bestão" o autor do atentado que "acabou se matando com fogos de artifício". A manifestação contrastou com a decisão de Lula de não se pronunciar sobre o caso no desenrolar da reunião multilateral. Também se opôs à ideia dominante no governo de que não foi ato isolado de um estúpido.

Tais declarações podem não ter potencial para atingir as relações entre Brasil e Estados Unidos. Não devem ter. Mas prejudica a própria Rosângela da Silva como padroeira das causas realmente importantes que se propõe a defender.

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