Alexandre Padilha
A noção de "glocalização" é fundamental para pensar o futuro da amazônia e as necessárias convergências entre sustentabilidade e tecnologia. O termo é um neologismo da mescla de "globalização" e "local" e descreve a interação entre tendências globais e realidades locais. Nada mais emblemático do que o debate que envolve a amazônia e as transformações em curso no planeta.
Isso significa que, para pensar realidades locais e específicas, como no caso da Amazônia Legal, não basta importar soluções tecnológicas exitosas em outras partes do mundo. É necessário escutar e compreender aqueles que efetivamente compõem o tecido social daquela região.
Nesse cenário, é papel do Estado promover diálogos que gerem o engajamento da sociedade em um esforço coletivo, conduzindo atores globais e locais na mesma direção. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o Conselhão, tem se consolidado como esse espaço de integração entre setores essenciais na efetivação de diálogos propositivos e políticas públicas concretas.
Iniciativas desenvolvidas nesse contexto merecem destaque. O projeto Mais Conhecimento na Amazônia, idealizado pelo falecido acadêmico Ennio Candotti, cria mecanismos para reduzir a perda de talentos da região e gera possibilidade para que as redes de conhecimento alicercem políticas públicas.
Por meio de atividades de extensão com formato de remuneração semelhante ao do Mais Médicos, espera-se a redução da fuga de cérebros do Brasil. O projeto já está sendo discutido com importantes representantes do setor privado e com agências públicas como BNDES, Capes e CNPq.
O Google, por sua vez, é uma das empresas que têm liderado a transição para um futuro mais sustentável. Ele tem colocado uma série de projetos de sua divisão de pesquisa, o Google Research, em ação no Brasil, usando tecnologia global em prol de contribuir para a solução de desafios locais.
Um exemplo dessa atuação é o projeto Greenlight, que já está em operação no Rio de Janeiro e em Campinas e em expansão para uma terceira cidade ainda neste ano. O projeto utiliza inteligência artificial (IA) para otimizar os semáforos em grandes cidades, reduzindo emissões e melhorando o tráfego. Resultados iniciais mostram que a tecnologia tem o potencial de reduzir paradas nos cruzamentos em até 30% e as emissões em até 10%.
Outra tecnologia de destaque é o Flood Forecasting, que utiliza IA para prever quando uma inundação pode ocorrer, ajudando a informar a tomada de decisão e os esforços de resposta ao evento.
A união de investimentos na área de ciência e tecnologia, mesclando experiências de sucesso do exterior ao conhecimento local, é também uma premissa do programa Projetos Tecnológicos de Alto Impacto, igualmente idealizado no âmbito do Conselhão e formalizado por meio do decreto 12.081/2024, assinado pelo presidente Lula.
Essa ação pretende direcionar esforços para a solução de desafios de alta complexidade. Com base em experiências na Europa e nos EUA, esses polos deverão ter ciclos de investimentos superiores a três anos e foram idealizados para tratar de projetos com montantes acima de R$ 500 mil.
A conjuntura tem revelado condições efetivas para uma economia de escala e possibilita a promoção de uma infraestrutura necessária para a pesquisa em inovação no país. Esse repertório qualificado tem no Conselhão múltiplas funções, como apresentar fundamentos aos processos indutores de cadeias de valor.
O Brasil se encontra num momento decisivo para a efetivação de um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
Reconhecer os avanços recentes na implementação de políticas públicas que promovem a cooperação é ter como norte a necessidade de sedimentá-las para que ultrapassem a fronteira de governos e se consolidem como ações de Estado.
Construir soluções a partir de experiências globais, valorizando e entendendo as realidades locais, e manter esforços simétricos entre governos, empresas e universidades são fatores decisivos para atingir as expectativas que cercam o país.
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