Leio jornais há tanto tempo que às vezes me sinto contemporâneo de Gutenberg. Uma das coisas de que mais gosto, além dos obituários, são os "fait divers", as pequenas notícias sobre besteiras, que às vezes não se sabe onde pôr. Quase sempre são histórias de caráter humano, envolvendo paixões, mistério, heroísmo, sucesso ou fracasso. Uma, para mim clássica, saiu há anos. Referia-se a um experimento científico na Suíça, de tentativa de cruzamento entre um homem e um coelho. Não deu certo: o organismo do coelho rejeitou o homem.
A mais recente foi outro dia, no New York Times: a morte de Geoff (pronuncia-se Djéfe) Capes, aos 75 anos, na Inglaterra. Nos anos 1970 e 1980, ele foi o homem mais forte do mundo. Tinha 1,98 m, pesava 166 kg e era invencível em atirar postes à distância, puxar caminhões com 12 toneladas de carga morro acima e trocar pneus com uma mão e levantando o carro ao mesmo tempo com a outra. Se lhe parecem façanhas impossíveis, é porque você não conhece os ingleses. São capazes de inventar qualquer competição desde que possam apostar nela.
Para manter a forma e conservar o título, Geoff encarava uma ração diária de sete litros de leite, duas formas de pão, meio quilo de manteiga, 12 ovos, duas latas de sardinha, dois filés, uma perna de carneiro e meia panela de feijão. Entre uma refeição e outra, corria o equivalente a dois campos de futebol em 20 segundos. Com tudo isso, Geoff disputou três Olimpíadas (1972, 1976, 1980), no lançamento de martelo, e jamais ganhou medalha —com sua sensibilidade, ficava emocionado apenas por estar ali e não fazia os movimentos certos.
Geoff aposentou-se ao abraçar outro ramo em que se tornou também uma sumidade: a criação de periquitos. Começou em 1980, com um casal que lhe foi presenteado. O casal procriou, os jovens periquitos também procriaram, e a coisa cresceu em proporções geométricas. Geoff passou a participar de torneios internacionais e foi campeão mundial de periquitos em 1995. Descobriu sua vocação e nunca mais competiu nem mesmo em arremesso de fuscas.
Pois é, Geoff morreu. Pêsames aos periquitos.
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