24.nov.2024 às 8h00
Jogar no bicho, na loteria e em qualquer tipo de aposta física, semanal ou bissemanal, dá certo trabalho. Exige a ida à lotérica ou ao bicheiro da esquina, e o espaço de tempo entre as apostas permite ao jogador continuar tocando sua vida profissional, social, familiar. Ganha-se pouco e se perde um pouco mais, mas nada mortal. Já o cassino online é diferente. Da aposta que se pode fazer em qualquer lugar e hora —basta um celular e um Pix— até saber se ganhou ou perdeu, é uma questão de instantes. Quem ganha pode repicar no ato, para continuar ganhando. Quem perde, idem, para recuperar o prejuízo. O circuito de recompensa psíquica é ativado a cada lance.
Segundo dados oficiais, os brasileiros gastaram R$ 68 bi em apostas no primeiro semestre deste ano. É um dinheiro que deixou de circular na economia, drenado por empresas internacionais para suas sedes nos paraísos fiscais. Como se perde incomparavelmente mais do que se ganha, 1,3 milhão de jogadores ficaram inadimplentes nesse mesmo período no país, deixando de pagar dívidas, prestações e contas, zerando a poupança, tomando dinheiro no banco, endividando-se, falindo e nisso arrastando a família.
Mas não é certo classificá-los de otários. Equivalem ao sujeito que é visto às 8 da manhã no balcão do botequim levando um copo à boca com dificuldade, e que nem por isso é um vagabundo. É só um dependente. A dependência se dá quando aquilo que era feito recreativamente e por prazer, como fumar, beber, cheirar —ou jogar—, passa a ter de ser feito para não se sentir desprazer, na forma de ansiedade, aflição, pânico, sudorese, taquicardia e, no limite, loucura e morte. É terrível constatar que a dependência do jogo também leva a esses sintomas.
E às consequências também. Todo dependente pode apostar, aí, sim, na perda de mulher, filhos, família, amigos, emprego, trabalho e saúde. Sem falar na depressão, sempre citada como causa desse descontrole, mas que os profissionais sabem que é apenas efeito.
Os comerciais de bets aconselham cinicamente: "Jogue com responsabilidade". É impossível, mesmo que se apostem feijões.
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