Foram as escolas cívico-militares que me puseram a favor da possibilidade de ensino domiciliar. A perspectiva de um futuro sombrio, em que seríamos governados por Eduardo Bolsonaro e no qual todas as escolas seriam militarizadas, me fez ver com bons olhos a existência de uma saída legal para que os netos que ainda não tenho jamais fossem obrigados a pisar numa instituição dessas.
É certo que escolas funcionam melhor quando há um pouco de disciplina, mas daí não decorre que ela deva ser imposta a ferro e fogo e acompanhada de continências, fardas, ordens unidas e exibições deprimentes de nacionalismo. Um bom diretor civil é em tese capaz de manter as rotinas necessárias ao aprendizado. No mais, jovens precisam ter algum espaço para experimentar e até transgredir. Faz parte do crescimento.
Já a tão propalada excelência das escolas cívico-militares deve ser vista com boa dose de ceticismo. Os entusiastas dessas instituições não apresentam estudos que amparem suas afirmações e nem sequer detalham as estatísticas. De todo modo, não é difícil melhorar o desempenho de escolas isoladas quando elas recebem mais verbas que as outras e têm a oportunidade de direta ou indiretamente livrar-se de alunos com mau desempenho acadêmico ou disciplinar. O desafio para os sistemas de ensino é melhorar com o nível de recursos de que já dispõem e sem excluir ninguém.
Aplaudo com vigor, portanto, a decisão do governo Lula de descontinuar o programa federal de escolas cívico-militares. Governadores dizem que vão mantê-las em âmbito estadual. Não gosto, mas, desde que observadas certas garantias, como a de que sempre haverá alternativas civis para quem preferir, não creio que haja inconstitucionalidade. Está dentro de suas prerrogativas fazê-lo.
O fato concreto é que não há razão prática ou teórica para colocar militares nas escolas. Eles foram há pouco postos na saúde e tivemos um morticínio.
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