Em 1963, eleito para a Academia Brasileira de Letras, Guimarães Rosa, cardíaco e temendo não resistir à emoção, adiou sua posse enquanto pôde. Rosa era médico, devia saber o que dizia. A ABL não o pressionou e o esperaria pelo tempo que ele quisesse. Em 1967, Rosa criou coragem e marcou a cerimônia para 16 de novembro. Foi uma grande noite, a que ele sobreviveu e saiu de lá feliz. Três dias depois, morreu de enfarte em casa. Rosa sabia mesmo o que dizia.
Em 1862, jornais noticiaram a morte do poeta Gonçalves Dias por afogamento. Mas ele estava vivo e levou a coisa na brincadeira: "Vi nos jornais que tinha morrido. Atiraram-me às ondas. O oceano é o único túmulo digno de um poeta. Vou cuidar da impressão das minhas obras póstumas." Em 1864, quando ele vinha da França pelo "Ville de Boulogne", o navio se chocou com um banco de areia na costa maranhense e naufragou. Todos se salvaram, menos Gonçalves, que, adoentado em sua cabine, morreu afogado.
Os poetas devem ter um canal exclusivo para essas coisas. Mario Faustino, um talento dos anos 1950, era admirado por seu poema "Mito", que dizia: "Os cães do sono calam/ E cai da caravana um corpo alado/ E o verbo ruge em plena/ Madrugada cruel de um albatroz/ Zombado pelo sol". Pois não é que, em 1962, Mario morreu num avião que explodiu sobre os Andes?
E nunca se explicou o sumiço do escritor e jornalista americano Ambrose Bierce. Num de seus contos, ele falou de um homem que desaparecia num deserto ou floresta sem deixar vestígio, como se se evaporasse. Pois foi o que lhe aconteceu no México, em 1913: evaporou-se. Se o mataram, ninguém soube ou viu. E era famoso. Seu corpo nunca foi encontrado.
Outro dia (2), escrevi sobre Thomas Jefferson, Mark Twain, Dolores Duran e outros que intuíram a data de sua morte e acertaram. Mas não me confundam. O máximo a que chego em profecias é prever o passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário