Fernanda De Negri
Recentemente, várias propostas de estímulo ao setor produtivo têm sido anunciadas e debatidas nos veículos de imprensa. Evitar erros do passado requer que o país repense seu papel e seu potencial na produção global deste novo século. Qual seria o futuro —simultaneamente viável, sustentável e inclusivo— da produção no país? E quais os requisitos para a construção desse futuro?
As mudanças climáticas constituem o maior desafio já enfrentado pela humanidade. Descarbonizar a produção é crucial para o futuro do planeta e requer políticas públicas audaciosas para redução das emissões e para a transição energética, incluindo o desenvolvimento e a difusão de tecnologias de produção mais sustentáveis. A regulação do mercado de carbono, ainda incipiente, é fundamental para viabilizar a transição energética e produtiva e deve garantir que o ônus da redução das emissões seja compartilhado de forma equânime entre os países.
A Amazônia é um ativo incomparável para o controle global das emissões. Além de melhorar o monitoramento e combater o desmatamento, é preciso criar alternativas sustentáveis de geração de emprego e renda para a população local com políticas mais bem desenhadas do que as que temos atualmente.
É preciso também de que se desenhem políticas de adaptação às mudanças climáticas já em curso. Ações de adaptação incluem a construção de infraestruturas de transporte e comunicações mais resilientes a eventos extremos, especialmente nos grandes centros urbanos.
Outra questão crítica do nosso tempo é a inclusão social e econômica. Para que boa parte da população mundial alcance os níveis de bem-estar dos países ricos, com a base tecnológica atual, seria necessário um nível de crescimento incompatível com a disponibilidade de recursos naturais do planeta.
Além disso, uma nova onda de avanços nas tecnologias de informação vem transformando profundamente as formas de produção. Tecnologias como inteligência artificial, robótica e diversas técnicas de manufatura avançada são capazes de tornar o trabalho humano menos necessário em uma gama crescente de atividades produtivas. Como repartir melhor os frutos do progresso técnico a fim de evitar uma explosão da desigualdade em nível mundial é uma questão cada vez mais premente.
Os desafios que hoje se colocam para a humanidade e para o país são tantos que não cabem neste texto e se somam, no caso brasileiro, à baixa produtividade da nossa estrutura produtiva. A produção do futuro requer uma visão integrada desses desafios e políticas públicas focadas na transformação tecnológica da produção, muito diferentes de receitas tradicionais já adotadas no passado e que nem sempre surtiram os efeitos desejados. É de políticas integradas, abrangentes e baseadas em evidências robustas que dependerão o futuro da produção no país. Resta saber se estamos preparados para formulá-las e implementá-las.
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