quarta-feira, 26 de julho de 2023

Como comemorar gol na casa do rival e diante de somente torcedores adversários?, Robson Morelli - OESP

 Luciano foi punido ao comemorar o gol do São Paulo na Neo Química Arena. Ganhou cartão amarelo ao chutar a bandeira de escanteio perto de onde estavam jogadores do rival no aquecimento. A torcida atirou objetos no jogador, ato que pode prejudicar o mandante em sua casa caso o STJD leve a informação aos tribunais. Mas como comemorar um gol no estádio onde só tem torcedores adversários?

Gostaria que os homens de gravata e os árbitros de campo respondessem a essa pergunta. Os engravatados decidiram há anos proibir duas torcidas nas arenas, entendendo que era melhor para a segurança. Na minha visão, uma derrota e mostra da incompetência de quem deveria organizar uma simples partida de futebol. Abriram mão de fazer esse trabalho e agora enfrentam um novo problema: a comemoração de gols do visitante.

Luciano marca gol do São Paulo na derrota para o Corinthians por 2 a 1 em Itaquera, pela Copa do Brasil
Luciano marca gol do São Paulo na derrota para o Corinthians por 2 a 1 em Itaquera, pela Copa do Brasil Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC

Os árbitros são desprovidos ainda mais de bom senso. Porque eles entendem que tudo é provocação, até mesmo comemorar um gol. A regra não diz nada disso. Luciano levou amarelo por vontade e entendimento do próprio árbitro de campo, cujo nome nem vale citar porque todos são iguais.

Não entendo como perseguição, embora Luciano tenha falado que Wilton Pereira Sampaio lhe prometeu cartão desde os minutos iniciais da partida. Se isso for verdade, é preciso investigar também. O atacante do São Paulo não vai poder atuar no jogo da volta da semifinal da Copa do Brasil. Estará suspenso.

Como festejar então um gol em meio à torcida única do rival? Enfiar a cabeça num buraco? Correr para onde? Olhar para quem? Fazer quais gestos sem que eles sejam encarados como provocadores? Talvez os mesmos engravatados das federações e das entidades que tomaram a decisão de impedir rivais nos estádios de São Paulo devam repensar a determinação.

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Vai ser a mesma coisa caso jogadores do Corinthians marquem gols na partida de volta no Morumbi, onde só haverá torcedores são-paulinos. Com essas punições, os árbitros só reforçam que a sociedade esportiva é incapaz de aceitar o diferente, o rival, a bandeira de outra cor, a alegria do adversário. Porque a punição da comemoração de um gol é exatamente isso quando punida.

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Qual é o recado passado com o cartão amarelo para Luciano? Que na casa do Corinthians não se pode festejar. Assim como não poderá nos estádios do Corinthians, do Palmeiras, do Santos. E que apenas os mandantes têm o direito de sorrir em suas arenas. Está errado.

Havia são-paulinos disfarçados de corintianos em Itaquera. São-paulinos roxos, que queriam ver a partida de seu time. Não queriam brigar ou qualquer coisa do tipo. Só queriam se divertir. Tiveram de se infiltrar na torcida mandante. Há muitos desses em jogos em São Paulo. A PM e os engravatados ainda não entenderam que o risco é maior para essas pessoas. A PM não oferece segurança. E os engravatados não confiam na PM. Não pode ser cada um por si. Vai chegar o dia em que os rivais vão se organizar para entrar na marra nos grandes jogos como visitantes e eles vão se auto proteger.

A CBF precisa repensar essa decisão de torcida única em São Paulo. Não é assim no Brasil todo. É preciso ter duas torcidas no futebol. É necessário ensinar a turma do futebol a convivência entre as partes diferentes porque em todos os lugares há partes diferentes.

Luciano não é o único a sofrer com isso. O futebol está cada vez mais chato por causa dessas regrinhas absurdas de gestores que não conseguem melhorar o seu produto. E os árbitros fazem leituras equivocadas, para variar.

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