José Maria Dias Filho
Na cultura oriental, afirma-se que nenhum profissional é tão admirado e respeitado quanto o professor. Para se ter uma ideia do grau de apreço que lhe é conferido no Japão, por exemplo, costuma-se dizer que a única pessoa que não precisa se curvar diante do imperador é exatamente o professor. Ainda que seja mito, esse tratamento distinto não deixa de ter algum fundamento lógico, especialmente se considerarmos que sem professores não podem existir "bons imperadores", pelo menos nos países minimamente civilizados. Na verdade, seria um gesto de submissão da autoridade legal à autoridade que vem do conhecimento.
De fato, na base de todo o progresso que a nossa civilização tem experimentado, sempre encontramos o professor como personagem insubstituível no processo de produção e difusão do saber. Nas sociedades baseadas no conhecimento, é praticamente impossível encontrar alguém que, de alguma forma, não reconheça o valor desse profissional. Alguns conseguem encantar pelo esmero didático; outros, pela relevância das atividades de pesquisa a que se dedicam. Mas, no geral, professores que se tornam inesquecíveis são aqueles que marcam a vida dos seus alunos e da sociedade como um todo com o trabalho que realizam.
Importa esclarecer, contudo, que encantar não significa transformar a sala de aula ou os laboratórios num parque de diversões. Pelo contrário: encantar significa ajudar o aluno a pensar, a superar suas dificuldades e a dar um passo à frente rumo à concretização de seus ideais. Para tanto, não basta ministrar aulas atraentes ou divertidas. Mais que isso, é preciso transformar a sala de aula num espaço de superação das dificuldades, do preconceito, das barreiras familiares, sociais e das próprias limitações. Isso pressupõe humanizar-se a sala de aula, trabalhar valorizando-se as etnias, a diversidade cultural, as crenças, a individualidade do aluno, seus sonhos e seu projeto de vida.
Professores que encantam são mestres na arte de ensinar a construir o futuro. São pessoas cujo exemplo de vida ajuda a mudar comportamentos, redireciona caminhos e leva o aluno a descobrir-se como cidadão, como ser que tem direito a um futuro melhor, que somente uma educação de qualidade pode proporcionar-lhe. O professor que encanta é, portanto, aquele que não marca a vida do aluno pelo medo, pelo temor das avaliações, pelo poder de reprovar, mas sim pela esperança que semeia, pelo prazer de ensinar, de se reinventar a cada dia e, principalmente, pela capacidade de ajudar o estudante a encontrar no conhecimento um caminho para construir o próprio destino.
Professor que encanta é parceiro, prepara para a vida, estimula comportamentos de cidadania, gera compromisso com a sustentabilidade planetária, com os valores democráticos e com o bem-estar do próximo. Consegue encantar o aluno, porque não dissemina o ódio, não promove a cultura da violência, não atua como vetor de sofrimento, de dor e tristeza. Torna-se feliz quando consegue ajudar o aluno a recuperar a esperança e encontrar forças para construir o amanhã a partir do saber que adquire hoje. Professores que encantam são, portanto, pessoas que conseguem transformar o outro e a si próprios por meio da educação. Educam-se a si mesmos enquanto estão educando.
Apesar de toda a dedicação e de todo o esforço que o professor empreende para promover o homem, alguns ainda são duramente ameaçados ou recebem como prêmio a morte no ambiente de trabalho, como temos visto recentemente. É de se lamentar profundamente que a onda de ódio e o absoluto desprezo a que foi relegada a educação neste país, especialmente nos últimos anos, ainda ameacem a vida dos nossos professores. Triste é o país que desencanta, aniquila e mata seus professores. É bom lembrar que isso pode ser feito por diferentes meios. Assim agindo, a sociedade está matando o seu próprio futuro. Sim, porque a história comprova que sem professores e escolas capazes de "encantar" não há garantia de futuro melhor —e muito menos de justiça social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário