Com uma canetada, o Ministério da Educação podou os recursos para 202 escolas cívico-militares de 15 estados, onde estudam cerca de 120 mil jovens. No ofício em que comunicou a suspensão da iniciativa aos secretários estaduais, referiu-se a um "processo de avaliação liderado pela equipe de avaliação da Secretaria de Educação Básica" ao fim do qual "foi deliberado o progressivo encerramento do programa".
Não se conhecem as conclusões de qualquer avaliação pedagógica dessas escolas e a nota técnica que instruiu a decisão discute genericamente a questão.
A medida, anunciada na quarta-feira, é a um só tempo onipotente e inócua. Onipotente, porque partiu de burocratas que criam ou matam programas sem maior discussão. Inócua, porque em 48 horas cinco governos estaduais anunciaram que financiarão as escolas com seus recursos.
O MEC não força o fechamento dessas escolas e cuidou para que a transição seja feita sem prejudicar os alunos. Apenas corta os recursos. No ano passado essa conta ficou em R$ 39,3 milhões. Esse dinheiro amparou 202 escolas. Já os kits de robótica que foram para sete municípios alagoanos, durante o governo Bolsonaro, custaram R$ 26 milhões.
As escolas cívico-militares nasceram em 2019, no rastro do radicalismo bolsonarista, e empregam militares da reserva apenas em funções disciplinares. Funcionam com severa disciplina, algumas exigem coque no cabelo das meninas e corte militar no dos meninos. Sua eficácia pedagógica nunca foi medida. De uma maneira geral, as comunidades onde elas foram instaladas elogiam os resultados. No Paraná, são louvadas, mas em Goiás não deram certo e a experiência foi abandonada.
A canetada do MEC assemelha-se à do Ministério dos Direitos Humanos que extinguiu a Ordem do Mérito da Princesa Isabel, acabando com uma simples concessão de patacas. Se uma coisa saiu do governo passado, boa não é.
Uma avaliação pedagógica desses colégios jogaria luz sobre a experiência. Em diversos países ela existe há séculos. O aspecto mais triste da canetada é a sua inutilidade. Servirá apenas para agravar polarizações políticas. O governador paulista, Tarcísio de Freitas, que há dias afastou-se do radicalismo de seu capitão apoiando a Reforma Tributária, precisou de poucas horas para anunciar que preservará suas escolas cívico-militares.
Nunca é demais lembrar que em 2018 Jair Bolsonaro, entre outros fatores, foi alavancado pela soberba petista. O comissariado acreditava que ele era o melhor candidato para ser derrotado. Deu no que deu.
Inelegível, Bolsonaro caminha para o ocaso, mas aquilo que se chama de bolsonarismo precisa dos erros de seus adversários para crescer. Ajudado, vai longe. Andando com as próprias pernas, briga com as vacinas durante uma pandemia, demora para reconhecer o resultado de uma eleição presidencial americana e arruma um chanceler que se orgulha de colocar o país na condição de pária.
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