Obras atrasam e orçamentos estouram. Todo mundo sabe disso. A solução, portanto, deveria ser simples. Bastaria ter em mente que o problema existe —ele tem até nome, falácia do planejamento— e levá-lo em conta na hora de estimar os prazos e custos dos projetos. Só que não funciona. Num exemplo ubíquo, praticamente todos os países que sediaram Jogos Olímpicos subestimaram as verbas que seriam necessárias e se atrapalharam no cronograma.
"How Big Things Get Done", de Bent Flyvbjerg e Dan Gardner, disseca a encrenca. Deveria ser leitura obrigatória para gestores públicos. Num bom número de vezes, subestimar os custos é proposital. Uma avaliação realista levaria à rejeição do projeto. Mas, mesmo quando o planejador tenta ser honesto —a reforma que você faz em sua casa, por exemplo—, ele frequentemente falha. Um dos motivos por que isso ocorre é que temos mania de considerar nossos projetos únicos, o que abre a guarda para nossos vieses otimistas.
Em vez de tentar estimar o valor e a duração de sua obra, fique com a média dos custos e do tempo de execução para projetos parecidos. Esses números nem sempre são fáceis de achar, mas são muito mais certeiros que cálculos individualizados. Eles embutem tudo aquilo que costuma dar errado numa obra.
Ocorre que, mesmo com esses cuidados, uma parte dos projetos ainda incorrerá em vexames históricos. Isso acontece porque o leque de dificuldades possíveis não tem uma distribuição normal e sim do tipo de cauda longa, o que significa que algumas poucas obras darão tão errado que resultarão em desastres espetaculares.
Flyvbjerg e Gardner fazem o ranking das encrencas, que tem a ver com quão modulares são os projetos. Preparar Jogos Olímpicos aparece no alto, mas ainda perde para o descomissionamento de usinas nucleares. Os que menos dão errado são os de energia solar e eólica, em que apenas instalamos partes que já vêm prontas.
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