domingo, 23 de julho de 2023

Hélio Schwartsman A próxima pandemia, FSP

 As leis da biologia asseguram que vírus e bactérias evoluem em ritmo mais acelerado do que o de seres cujo ciclo reprodutivo é mais longo. E sempre que certos patógenos assumirem formas suficientemente novas para ludibriar nossos sistemas imunes, teremos epidemias. Num mundo em que viajantes atravessam continentes em poucas horas, elas se tornam pandemias. É questão de tempo até que venha a próxima. Devemos tentar nos preparar para ela.

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A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 23 de julho de 2023, mostra, sob um fundo azul, um mapa-múndi preto no qual inúmeras linhas pontilhadas vermelhas cruzam a Terra, representando a movimentação de pessoas e a consequente propagação de vírus e bactérias - Annette Schwartsman

É um pouco o que tenta fazer Monica Gandhi em "Endemic". A autora, que é médica infectologista, especializada em Aids, faz um bom apanhado da Covid-19, explicando didaticamente como o vírus Sars-CoV-2 se transmite, a fisiopatologia da doença e as melhores formas de lidar com ela. E, é claro, ela tem o benefício de recontar essa história com o apoio de três anos de anos de pesquisas maciças sobre a moléstia. Para nós que acompanhamos o processo em tempo real e, portanto, atabalhoadamente, é útil saber o que foi confirmado e o que não foi pelo acúmulo dos estudos. A obrigatoriedade das máscaras, para dar um exemplo, não funcionou bem.

Embora Gandhi se descreva como "esquerda da esquerda", ela faz críticas severas a decisões tomadas por governantes mais identificados com a esquerda. Segundo a autora, ao manter as restrições sociais mesmo quando parcelas significativas da população já estavam vacinadas, esses dirigentes minaram a confiança nos imunizantes, contribuindo para a hesitação vacinal. Países que levantaram as restrições mais rapidamente, à medida que a vacinação progrediu, colheram mais êxitos.

Ela também bate forte nos governantes que mantiveram as escolas fechadas por longos períodos. Os dados mostram que as crianças adoeciam muito menos do que os adultos e não eram um elo importante na cadeia de transmissão. Mantê-las longe das salas de aula por tanto tempo causou enorme prejuízo educacional e para a saúde mental dos jovens.


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