domingo, 23 de julho de 2023

JBS investe US$ 100 milhões para produzir carne sem abater boi, FSP

 

BRASÍLIA

JBS, gigante global de alimentos, está construindo fábricas no Brasil e na Espanha que, em vez de usar o boi abatido, produzirão hambúrgueres, salsichas e, no futuro, até um filé a partir de uma carne obtida por manipulação genética, insumo conhecido como proteína cultivada.

Pecuaristas já reclamam que isso pode ser um tiro no pé, enquanto a empresa acredita que, com essa inovação, poderá até vender "carne" para quem deixou de comer em defesa dos animais.

Eduardo Noronha, da JBS
O executivo Eduardo Noronha, da JBS - Paulo Vitale/Divulgação

Pecuaristas criticam a proteína cultivada alegando que acabará com o negócio. É exagero?
São coisas complementares. O primeiro hambúrguer de proteína cultivada, produzido há uns dez anos, custou US$ 85 mil. Hoje, em escala piloto, a gente chegou a US$ 800 por quilo da proteína. Temos a confiança que chegaremos ao custo da proteína produzida de forma tradicional rapidamente.

Para quanto deve cair para ter escala comercial?
Cerca de US$ 20. Lembrando que não é 100% de proteína para um processado como hambúrguer, almôndega, salsichas e linguiças, que terão outros componentes.

Quanto foi investido?
Foram US$ 100 milhões, 60% no Brasil e 40% na Espanha. Em 2021, a JBS investiu na Biotech Foods e hoje é dona de 51%, uma startup espanhola de proteína cultivada. Lá, a planta em escala industrial está quase pronta e terá capacidade de mil toneladas por ano.

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E no Brasil?
É um investimento de cinco anos na fábrica em Florianópolis e de um centro de pesquisa e desenvolvimento em alimentos.

Quem deixou de comer porque é contra o abate vai poder comprar JBS?
Esse consumidor pode ter a oportunidade de voltar a consumir proteína sem que um animal tenha sido abatido. Vamos acessar esse consumidor, mas não só ele. Será global, para todos.

É seguro comer uma "carne" de laboratório?
Na Espanha, a gente já fez vários testes, porque faz parte do processo de aprovação, e eles não mostraram nível de risco. A gente faz uma biópsia no boi, seleciona as melhores células e elas ficam se reproduzindo em um ambiente de cultura mergulhada em insumos conhecidos na indústria farmacêutica. São açúcares, aminoácidos, que estimulam a reprodução celular.

Por que investir nisso?
As projeções da ONU indicam que, em, 2050, haverá 10 bilhões de pessoas no mundo. Será um crescimento de 70% na demanda por proteína. Então, para fazer frente, a gente entende que precisa de proteínas alternativas. Pela maneira tradicional, é possível ser sustentável, mas ter foco numa coisa só talvez não seja a melhor estratégia em termos de segurança alimentar.

Quais são as metas?
Não há ainda. Mas se você imaginar que seja somente 1% do negócio global de proteína, que movimenta US$ 1 trilhão no mundo, já será gigante.


RAIO-X | Eduardo Noronha, 51

Formação: Engenharia mecânica pela UFMG e pós-graduação em engenharia de qualidade pela PUC-MG

Carreira: Pilgrim´s (2014-2019), Qualicorp (2012-2014), Contax (2009-2012), Sadia (2006-2009), Coca-Cola Andina (2005-2006), Ambev (1998-2005), entre outras


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