domingo, 30 de julho de 2023

O remédio para as farmácias agora é outro, Marcos de Vasconcellos FSP

 


SÃO PAULO

O respiro da inflação está claro. Não que os preços estejam em "queima de estoque", mas todo mundo já enxerga que eles vão subir menos nos próximos meses. A ida ao supermercado continuará dolorosa, mas com menos surpresas do que tivemos nos últimos tempos.

Agora, o "trabalho" fica com a economia. Para sentir um real alívio na hora das compras, será necessário, por exemplo, que seu salário aumente mais do que os preços. Para isso, a necessidade é de um aquecimento econômico –o que, a grosso modo, é medido pelo PIB (Produto Interno Bruto).

Os agentes do mercado —ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus— acham que a inflação (IPCA) terminará o ano com alta de 4,9% e o PIB subirá 2,24%. No ano passado, os mesmos indicadores ficaram em 5,78% e 2,9%, respectivamente.

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Pesquisa Focus, do Banco Central, mostra agentes do mercado apostando que a inflação oficial será de 4,9% ao fim do ano - Catarina Pignato

A redução na diferença entre um e outro reflete, no fim do dia, no aumento do poder de compra. E, na Bolsa, quem costuma ganhar dinheiro com isso são os varejistas. Mais vendas geram mais lucro e essa perspectiva aumenta o preço das ações. Certo? Como sempre: depende.

Parece um desafio à lógica, mas precisamos lembrar que vender mais não significa lucrar mais. Um baleiro no semáforo, em seu primeiro dia de trabalho, fecha mais negócios do que um experiente vendedor de carros. A magia está na margem de lucro.

Por mais que o aumento do poder de compra empolgue investidores em relação aos varejistas, há players do setor que correm o risco de não aproveitar tanto um possível rali da Bolsa, de acordo com analistas: as redes de farmácia.

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Diferentemente das geladeiras, das picanhas e das cervejas, os remédios têm seus aumentos regulados pelo governo. E adivinha o que é usado para calcular os reajustes máximos permitidos? A inflação do período anterior.

A definição fica a cargo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), que tem membros de diferentes ministérios do governo. A cada ano, no fim do primeiro trimestre, é publicada a tabela com os reajustes máximos permitidos, usando o IPCA como base.

Neste ano, o reajuste máximo permitido para os preços dos remédios foi de 5,6% —depois de ter sido de 10,89%, em 2022, e de 10,08%, em 2021. Com isso, diminui-se o espaço para as redes de farmácia aumentarem suas margens de lucro.

Como não é um mercado simples de oferta e demanda –diferentemente das TVs e dos microondas, você não compra mais remédios pelo fato de ter sobrado um dinheiro na conta–, esse reajuste reflete mais fortemente nas margens de lucro das empresas do setor.

Com a perspectiva de menos inflação daqui em diante, a chamada "tabela Cmed" deverá encurtar mais esse espaço no próximo ano.

A Raia Drogasil, gigante do setor, cujas ações (RADL3) subiram praticamente 30% nos cinco primeiros meses do ano, viu seus papéis praticamente estacionarem desde o fim de maio, enquanto o Ibovespa saltou mais de 10%.

Agora, na casa dos R$ 29, as ações da drogaria dividem analistas. Profissionais da XP recomendam a venda das ações, apostando em um preço-alvo de R$ 25. Os do BTG Pactual, mantêm recomendação de compra, acreditando que o preço justo para os papéis é R$ 30, mas deixam claro que as margens foram pressionadas.

Mais do que definir assim se é hora de vender ou comprar, o ponto aqui é entender que quem cresceu nos últimos meses com uma disparada de preços terá que achar novos meios para atrair investidores.

Além da Raia Drogasil, outros de seus concorrentes, como Panvel (PNVL3), D1000 (DMVF3) e Pague Menos (PGMN3), enfrentarão o novo desafio. Encontrar crescimento, agora, depende de estratégias que precisam ficar claras para os investidores. No último mês, a única a se destacar aos olhos destes foi a Panvel, cujas ações subiram quase 8%.

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