O ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, um dos nomes mais importantes na transformação do agronegócio brasileiro em um dos mais importantes do mundo, faleceu nesta quinta-feira (29), em Belo Horizonte (MG), aos 86 anos - faria 87 no próximo dia 10. Ele estava internado em estado grave no Hospital Madre Tereza, na capital mineira, e teve complicações renais e no aparelho respiratório após uma intervenção cirúrgica. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (PSDB), decretou luto oficial por três dias.
Mineiro de Bambuí, engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras, Paolinelli é apontado como responsável pela revolução da agricultura brasileira nas últimas décadas. Ele foi ministro da Agricultura no governo de Ernesto Geisel, de 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979. Anteriormente, em 1971, foi secretário de Agricultura de Minas Gerais e é considerado um dos responsáveis pela liderança no Estado na produção cafeeira. De 1987 a 1991, foi deputado constituinte por Minas Gerais.
Sua morte gerou manifestações de pesar em todos os setores do agronegócio brasileiro. O também ex-ministro Roberto Rodrigues apontou-o como o responsável pelo Brasil ser apontado como celeiro do mundo. “A agropecuária e o agronegócio brasileiro perderam hoje seu maior herói de todos os tempos. Paolinelli colocou o Brasil no cenário mundial através da mais nobre das funções: alimentar o mundo”, disse.
De acordo com Rodrigues, o ex-ministro teve grande participação na mudança que transformou o Brasil, que há 50 anos importava 30% do seu consumo de alimentos, em um dos maiores exportadores de grãos, carnes e insumos alimentícios. “Paolinelli, com sua equipe, montou a mais espetacular agricultura tropical sustentável do planeta. Hoje nós exportamos para 200 países, alimentos, energia e fibras, dando condições de vida para mais de 1 bilhão de pessoas em todos os continentes. Esse é um legado inestimável que jamais poderemos pagar.”
Para Rodrigues, o ex-ministro fazia jus ao Prêmio Nobel da Paz, para o qual foi indicado em 2021 e 2022 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) . “É o maior brasileiro dos últimos tempos. A ele devemos essa condição fantástica de inserir o país no mapa da paz, pois não há paz onde houver fome. Paolinelli ajudou a acabar com a fome e trazer a paz”, disse.
O Sistema CNA/Senar/ICNA divulgou nota lamentando o falecimento do ex-ministro e presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). “Paolinelli teve uma brilhante e competente trajetória como homem público e profissional em defesa do potencial de desenvolvimento da agricultura tropical brasileira, sendo um dos grandes responsáveis pela transformação do agro.” O texto lembra que o ex-ministro presidiu a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) de 1987 a 1990.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, Alysson se tornou um dos pilares da agricultura moderna brasileira, ao aliar o desenvolvimento de pesquisas com a formação de profissionais. Ele lembrou que Paolinelli foi professor e diretor da Universidade de Lavras e foi um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que acabou sendo o epicentro desse esforço de pesquisa. “Deve-se muito a Alysson Paolinelli essa noção de que o cerrado nos abria uma enorme avenida de crescimento, desde que fosse desenvolvido e adaptado um pacote tecnológico que permitisse uma agricultura em direção aos trópicos. Foi isso que acabou acontecendo.”
Mais adiante, segundo ele, o agrônomo e ex-ministro dedicou muitos esforços à modernização do milho. “Além de tudo o que a gente hoje conhece da soja, que é o carro-chefe da agricultura brasileira, ele também teve a percepção da importância do milho, da capacidade de produção de proteína animal competitiva, acessível e barata para os mercados internos e externos. Uma figura notável, alguém pessoalmente criativo, agradável e dedicado, por quem tenho grande admiração.”
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Para André Pessoa, CEO da Agroconsult, consultoria especializada no agronegócio brasileiro, Paolinelli foi o grande artífice da moderna agricultura brasileira. “A maior referência para todos os técnicos e produtores que fazem do nosso agro um orgulho nacional. Nos ensinou a apostar sempre em ciência, inovação, tecnologia, sustentabilidade, produtividade e ousadia. Teve uma vida longa, produtiva, digna e inspiradora. O Brasil perdeu um dos maiores brasileiros de sua história. Perdemos nosso farol”, disse.
A Universidade Federal de Lavras (UFLA) decretou luto simbólico por 7 dias em seu campus. Em sua página oficial, a universidade lembrou a trajetória de seu ex-aluno que se tornou diretor e transformou também a trajetória da escola. Em 1955, Paolinelli foi aprovado em 1.o lugar no vestibular de Agronomia da Escola Superior de Agricultura de Lavras, atual UFLA. Formado com louvor em 1959, tendo sido orador da turma, foi convidado a lecionar na instituição e adotou uma linha de ensino prático, levando os alunos para as fazendas da região.
Na década de 1960, com a universidade na iminência de ser fechada, ele assumiu o cargo de diretor e trouxe um novo dinamismo para a universidade. Em 1988, Paolinelli foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa em reconhecimento ao seu trabalho na instituição. Em relato de sua própria trajetória, publicado no jornal da UFLA, ele disse que a universidade foi seu primeiro grande desafio na vida. “Me convenci de que ninguém faz nada sozinho. Hoje, tenho a absoluta certeza de que se eu tivesse de nascer e viver tudo o que vivi, eu iria fazer tudo de novo.”
A Abramilho divulgou nota de pesar pela morte do seu presidente executivo. Conforme a secretária-geral Maria Eustaquia, o “pai da agricultura tropical brasileira” deixou um grande legado para o país e especialmente para os agricultores. “Ao mesmo tempo que deixa um Brasil mais rico por tudo o que semeou, nos deixa mais pobres e órfãos com sua ausência”, disse, em nota.
Também em nota, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) lamentou a perda e destacou os trabalhos do ex-ministro em benefício da agropecuária. “Alysson Paolinelli ficará sempre em nossa memória como um técnico incansável a favor da evolução do agronegócio brasileiro.”
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também lamentou a morte de Paolinelli e, em rede social, lembrou que ele deixa um “legado inquestionável”, que supera as barreiras do tempo. “Seu trabalho fez nascer no país uma das maiores potências agropecuárias do mundo. Mais que isso, seu legado alimenta as famílias e a ciência”, postou.
A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq-USP) lembrou que Paolinelli manteve nos últimos anos relação muito próxima com a instituição, tendo recebido, em agosto de 2017, a Medalha Luiz de Queiroz em cerimônia solene. Conforme a diretora Thais Vieira, entre 2021 e 2022, o ex-ministro foi terceiro titular da Cátedra Luiz de Queiroz. “Seu papel para o desenvolvimento do setor como o conhecemos hoje foi fundamental”, disse. Segundo ela, Paolinelli sempre incentivou a pesquisa, a ciência e a tecnologia aplicada ao campo.
Partiu da Esalq/USP o movimento para a indicação de Paolinelli ao Prêmio Nobel da Paz, em 2021. A nomeação foi protocolada em 22 de janeiro daquele ano, no The Norwegian Nobel Comitte, pelo então diretor, Durval Dourado Neto. “Trata-se de um líder brasileiro provedor da paz em nível mundial, tanto no passado, com o desenvolvimento da Agricultura Sustentável no Cerrado, preservando a Amazônia, como no presente e no futuro, liderando o Projeto Biomas na Academia”, disse o ex-diretor no lançamento da indicação.
O velório de Alysson Paolinelli será realizado no Palácio da Liberdade, a partir das 15 horas desta quinta-feira, 29. O corpo será sepultado no cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, às 11 horas desta sexta-feira, 30.
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