A disputa pelo Governo de São Paulo resgatou a figura de Paulo Maluf, 90, com a tentativa de Rodrigo Garcia (PSDB) e Fernando Haddad (PT) de vincular o adversário ao político que já comandou o estado e a capital, influenciou disputas locais por anos e, sobretudo, é associado a escândalos de corrupção.
No caso do atual governador, o apoio a Maluf e ao candidato apoiado por ele ocorreu nas eleições de 1996 e de 1998 –embates que opuseram o então PFL de Rodrigo ao seu atual PSDB.
Rodrigo, que participou do governo Mário Covas (PSDB) como secretário-adjunto de Agricultura e vem usando a família Covas e seu legado como um ativo na campanha, chegou a deixar o Palácio dos Bandeirantes por ter se aliado a Maluf.
Já Haddad surpreendeu seus eleitores ao ser fotografado, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com Maluf, na casa do então deputado, em encontro que selou uma aliança para a eleição de 2012.
Os episódios envolvendo Maluf, representante do conservadorismo e aliado da ditadura militar, foram resgatados no primeiro debate entre os candidatos a governador, realizado pela Band no último dia 7.
Rodrigo perguntou a Haddad qual a avaliação do petista sobre o Poupatempo. Na introdução da questão, reforçou motes de sua campanha —de que serviu a diversas gestões do PSDB e de que tem Covas como exemplo. A ideia é se vacinar contra sua ligação com João Doria (PSDB), de quem foi vice.
"Ocupei cinco secretarias diferentes, trabalhei com cinco governadores, procurei sempre pegar o que há de melhor de cada um deles. E um dos grandes programas que o Mário Covas criou foi o Poupatempo", disse.
Para a classe política, Rodrigo deu um tiro no pé ao apostar tantas fichas em Covas, dando a oportunidade de o petista relembrar que houve um rompimento entre eles em 1996 —o atual governador tinha 22 anos.
"Rodrigo, você foi demitido pelo Mário Covas porque rompeu com ele para apoiar o Maluf e o candidato dele a prefeito de São Paulo, que era o [Celso] Pitta. Você fez parte da gestão Pitta. […] O Poupatempo foi criado justamente no momento em que você servia ao Pitta, não ao Covas", disse Haddad.
Quem acompanhou o episódio afirma que Covas sentiu-se traído e nunca voltou a ter uma boa relação com os ex-aliados. Em 1995 e 1996, Rodrigo foi secretário-adjunto de Agricultura, pasta então comandada por Antonio Cabrera, do PFL, legenda que viria a ser o DEM e hoje é a União Brasil, uma fusão com o PSL.
Na época, o partido buscava se expandir nos grandes centros para se tornar a maior sigla do país. Em São Paulo, Cabrera, líder estadual do PFL, escalou Rodrigo para abrir diretórios e formar alianças como a feita com o PPB de Maluf. Em 1994, a dobradinha com o PSDB pavimentou a vitória de Covas ao governo.
O tucano, irritado, exonerou Cabrera e Antonio Duarte Nogueira Júnior, chefe da Habitação e filiado ao PFL (hoje tucano e prefeito de Ribeirão Preto), selando o fim da participação de Rodrigo no governo.
A Folha noticiou à época que o PFL tinha cerca de 150 cargos na administração. "O encontro de Cabrera e Covas durou 20 minutos. Cabrera argumentou que o PFL não tinha o compromisso de apoiar o PSDB no pleito municipal. Covas foi seco: 'Os cargos são de confiança. O senhor os devolva'", relata a reportagem.
Enquanto esteve no governo, Rodrigo ganhou pontos com Covas por ter demonstrado habilidade para negociar com lideranças do MST durante uma invasão à sede da Secretaria da Agricultura, enquanto o secretário Cabrera, um coadjuvante naquela crise, defendia o uso da força contra os invasores.
Em 1996, Maluf, então prefeito de São Paulo, queria Pitta como sucessor, e o candidato de Covas era José Serra (PSDB).
Políticos ouvidos pela Folha dizem que a queda de Rodrigo se deu em termos duros, já que Covas era um ferrenho opositor de Maluf. Ao mesmo tempo, afirmam que Rodrigo não tinha expressão política à época e que o conflito se deu com Cabrera, que dava as cartas no PFL e na pasta de Agricultura.
Serra não passou do primeiro turno e, no segundo, Pitta venceu Luiza Erundina (PT) —o PSDB integrou uma frente de apoio à petista.
Em 1998, Covas e Maluf viriam a se enfrentar pelo governo do estado. Mais uma vez, o PFL apoiou Maluf e integrou a chapa com o vice Luiz Carlos Santos. Covas foi reeleito com o apoio do PT no segundo turno —em 2000, Covas retribuiria com o apoio a Marta Suplicy (PT) contra Maluf.
Rodrigo permaneceu no DEM por 27 anos e só se filiou ao PSDB em 2021. Como resposta no debate ao Governo de SP, Rodrigo lembrou que Maluf apoiou o petista em 2012, quando Haddad chegou à prefeitura.
"Quem foi lamber as botas do Maluf para se candidatar a prefeito foi você e o Lula, que visitaram Maluf na casa dele para pedir apoio", disse o governador.
As fotos da visita de junho de 2012, em que os três se abraçam e se cumprimentam, provocaram mal-estar na base petista e fizeram com que Erundina desistisse de ser a candidata a vice na chapa de Haddad.
O PT é adversário histórico de Maluf —foram diversos embates diretos pela prefeitura entre 1988 e 2000. A campanha do petista, no entanto, precisava do tempo de TV que o PP traria para a coligação.
Na época, o então partido de Maluf integrava a base do governo Dilma Rousseff (PT), e Haddad pediu ao então ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), que indicasse um nome técnico para a Secretaria Municipal de Habitação. O partido controlou também a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab).
Em nota, a assessoria de Rodrigo nega ruptura com Covas e diz que a "aliança perdura até hoje, inclusive com o apoio da família Covas". "Em 1998, Rodrigo é eleito deputado estadual e segue ao lado das administrações tucanas [...]. Naquele momento, as coligações partidárias tiveram outra formação."
Procurado, Haddad afirmou que "o que define um político é quem ele apoia". "Em 1998, apoiei o Covas contra o Maluf. O Covas aceitou o apoio do PT. Não se recusa apoio na política", disse.
"Em 2012, o PP decidiu me apoiar, mas meu secretário da Habitação não era nem filiado ao PP", completou Haddad, em referência a José Floriano de Azevedo Marques Neto, que, embora indicado pelo PP, de fato não era um membro do partido.
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