terça-feira, 30 de agosto de 2022

Vaivém das Commodities - A chinesada do Paulo Guedes e a dependência externa do agronegócio, FSP

 


O ministro da Economia, Paulo Guedes, escolheu exatamente um evento agrícola para atacar a presença chinesa no Brasil. Não tinha pior lugar, uma vez que o setor é extremamente dependente daquele país asiático.

Desde que Paulo Guedes chegou ao governo, as exportações dos principais produtos do agronegócio somam US$ 444 bilhões. Deste valor, 62% foram compras dos chineses. As exportações para os Estados Unidos, outro país importante nessa relação comercial, ficaram em 26%.

O ministro da Economia tentava explicar a necessidade da redução dos impostos no país, principalmente a do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados), caso contrário a "chinesada" poderia vir aqui e quebrar a indústria nacional, segundo ele.

Essa cutucada nos chineses ocorre em um momento em que a China começa a retirar algumas amarras sobre as exportações do agronegócio brasileiro, colocando na lista de compras produtos com maior valor agregado.

Armazém da empresa chinesa Cofco, em Sorriso, no Mato Grosso - Zanone Fraissat - 17.fev.2020/Folhapress

Os chineses estão prestes a liberar as importações de produtos derivados de soja, um mercado dificultado, e até fechado, para os brasileiros. Com essas exportações, o Brasil eleva as vendas de produtos de maior valor agregado.

A China sempre priorizou a compra de soja em grão porque o processamento interno gera emprego e renda no próprio país.

Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL), as exportações de soja somaram 305 milhões de toneladas, com receitas de US$ 130 bilhões. Os chineses foram responsáveis por 72% desses valores.

A abertura do mercado chinês para os derivados de soja é boa tanto para o Brasil como para China. Os brasileiros processam cada vez mais soja, e o volume deve aumentar ainda mais quando o governo retirar as amarras que colocou sobre a produção de biodiesel.

Já os chineses estão industrializando mais a sua produção de proteínas, necessitando de um volume maior de derivados de soja e de milho.

O desenvolvimento da soja só ocorre no país devido aos chineses. Nesta safra 2022/23, a produção deverá superar 150 milhões de toneladas.

A produção de soja leva junto a de milho. A estimativa de safra deste cereal em 2023 é de 125 milhões de toneladas. Os chineses começam a ter interesse também no cereal brasileiro. Essa porta aberta é boa porque as importações da China são sempre em grandes volumes.

Os chineses são responsáveis também pelo bom desempenho do setor brasileiro de proteínas. Das receitas de US$ 62,9 bilhões com as exportações, desde que Paulo Guedes chegou ao governo, 37% vieram da China.

O mercado externo brasileiro de carnes é bastante pulverizado, ao contrário do da soja, que é concentrado na China, mas os chineses ainda têm grande importância para o setor brasileiro.

A evolução da economia chinesa permitiu que vários outros produtos, além da soja, entrassem na lista de importações. No atual governo, 43% das exportações de celulose ficaram com a China; 13% das de açúcar; e 7% das de madeira.

Os chineses permitiram também uma boa evolução da produção brasileira de algodão, que soma US$ 12 bilhões em exportações desde o início de 2019. Deste valor, 27% vieram da China.

Essa dependência brasileira do país asiático não é boa, mas os chineses também veem perigo nela, tanto que buscam alternativas de produção em outras regiões, principalmente na África.

O governo atual de vez em quando tem uma recaída com relação aos parceiros comerciais do agronegócio. Começou com Jair Bolsonaro afirmando que a China queria comprar o Brasil; visita a Taiwan, para irritar os chineses; dúvidas sobre a vacina contra a Covid.

O Irã, país que está na lista dos principais parceiros do agronegócio brasileiro, já foi hostilizado pela família do presidente, enquanto os árabes já se sentiram preteridos pela devoção inicial do presidente a Israel.

As avaliações dos parceiros comerciais do agronegócio feitas pelo governo, quando fora do normal, vão minando aos poucos as relações entre os países.

A menos que se acredite que essas relações comerciais internacionais são sempre fáceis de ser resolvidas. É o que recomendava um dos seguidores de Bolsonaro quando sugeriu que não se vendesse soja para a China, mas apenas para os Estados Unidos.

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