Vou falar do Jô Soares com quem convivi e trabalhei e que tanto me ensinou, com sua generosidade transbordante. Conheci o Jô comunicador depois de ter passado a infância assistindo a seus personagens humorísticos na TV. Em 2012, com o coração aos pulos, sentei-me ao lado dele pela primeira vez, na famosa bancada do seu programa da madrugada. "Programa do Jô. Não vá pra cama sem ele", dizia o divertido bordão.
O batimento cardíaco logo voltou ao normal porque Jô tinha uma incrível capacidade de deixar as pessoas muito à vontade ao lado dele. Tinha um interesse genuíno em conhecer pessoas e suas histórias, das mais simples às celebridades. Jô abriu espaço para um quadro de debates sobre política, feito por jornalistas mulheres, carinhosamente por ele chamadas de "Meninas do Jô".
Era um prazer vê-lo trabalhar. Ele estimulava a divergência, o embate entre diferentes argumentos e pontos de vista. Fazia isso com graça e elegância. Era um mestre do diálogo respeitoso. Não gostava de programa morno. Sabia sentir o pulso da plateia. Se percebia o desinteresse em algum assunto, não hesitava em abandonar o roteiro e improvisar outra pauta, mais instigante.
De família rica na infância e juventude, conheceu as vicissitudes da vida quando os negócios do pai foram à falência, como conta em suas memórias. A grandiosidade do seu talento lhe abriu portas, mas a consagração nunca lhe tirou os pés do chão. Jô exerceu seu ofício com coragem e compromisso com o Brasil.
Na época do impeachment de Collor fez entrevistas memoráveis (quando o programa era exibido no SBT). Muitos anos depois, já na Globo, no ciclo tormentoso que resultou no golpe contra Dilma Rousseff, entrevistou a presidente no Palácio da Alvorada, o que lhe valeu ameaças movidas pelo ódio que já fermentava. Sua defesa da democracia e da legalidade eram inarredáveis, tanto quanto a missão de provocar o riso para fazer pensar.
Obrigada, querido Jô, por tudo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário