Aos olhos do presidente Jair Bolsonaro, o manifesto pela democracia, lido nesta quinta (11) na Faculdade de Direito da USP, é uma cartinha política contra seu governo assinada por quase 1 milhão de caras de pau sem caráter.
É de se perguntar quais trechos caíram mal a Bolsonaro, uma vez que o documento não cita o presidente ou sua administração.
O texto condena uma ditadura militar que não hesitou em torturar e matar brasileiros; celebra as conquistas (incompletas, é verdade) alcançadas após o fim do regime de exceção e a promulgação da Constituição, com destaque para as eleições livres realizadas periodicamente desde então. Destaca ainda que esse processo republicano tem sido auxiliado por um sistema de votação que se mostrou seguro e confiável.
A carta também argumenta que não há espaço num Estado de Direito para desacato às eleições e para "ataques infundados" contra a lisura do pleito. Define ainda como intoleráveis as ameaças contra poderes da República e setores da sociedade civil, bem como a "incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional".
Talvez Bolsonaro não tenha gostado da carapuça. Paciência. Ser chamado de golpista é o preço mínimo que se paga por adotar uma retórica golpista. O presidente de uma das maiores democracias do mundo deveria estar empenhado em outro projeto que não fosse a destruição do sistema eleitoral de seu próprio país.
A carta escrita em defesa do Estado democrático de Direito não faz mais do que listar princípios básicos de convivência republicana que, em um cenário mais civilizado, nem sequer precisariam estar escritos num manifesto. Deveriam ser a condição básica para a participação no jogo democrático, da esquerda à direita.
É preciso ter muita saudade de tempos mais autoritários para se sentir hostilizado por esse tipo de linguagem.
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