quarta-feira, 10 de agosto de 2022

monumento que São Paulo esqueceu, São Paulo Antiga, FSP

 

Douglas Nascimento
SÃO PAULO

É difícil transitar pelo centro de São Paulo e não se deparar com uma obra projetada por Ramos de Azevedo (*1851 +1928). Os palácios do Pátio do Colégio, a Casa das Rosas, o Theatro Municipal e o Mercadão são algumas das criações que saíram de sua prancheta ou de seu escritório técnico.

monumento em detalhe
O arquiteto Ramos de Azevedo retratado por Galileo Emendabili em monumento erigido em sua homenagem. - Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Arquiteto, professor e empreendedor, Azevedo formou-se na Bélgica e teve a felicidade de viver em uma época de grande desenvolvimento paulista proporcionado pela produção de café. Seus trabalhos aproximaram São Paulo dos traços europeus que a elite da época tanto desejava e à medida que mais projetos com sua assinatura surgiam, a cidade colonial ia desaparecendo.

Já consagrado e admirado, Ramos de Azevedo faleceu em 1928 deixando um grandioso legado que acompanhamos até os dias de hoje nas ruas da cidade, além de uma legião de admiradores, amigos e alunos. E são estes que, imediatamente após a sua morte, se reúnem para discutir como fazer um grande reconhecimento. Surge a ideia de homenageá-lo com a construção de um monumento, e é idealizado um concurso que é rapidamente abraçado por diversos escultores, onde um deles será o escolhido para imortalizar o grande arquiteto de São Paulo.

monumento em local público
O monumento a Ramos de Azevedo na Avenida Tiradentes, seu local original em fotografia da década de 1930. - Divulgação

Poucos meses depois, em maio de 1929, o Comitê Pró-Monumento Ramos de Azevedo abre, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, a exposição das 18 obras candidatas. Em outubro do mesmo os membros do comitê escolhem o projeto do escultor Galileo Emendabili, ele que anos mais tarde ficaria também conhecido pelo Obelisco do Ibirapuera.

Uma vez eleito o vencedor, começava o trabalho de Emendabili para construir o monumento que prometia ser o maior da cidade até então. Como a arrecadação de dinheiro foi totalmente privada a obra demorou um pouco para sair do papel, sendo inaugurada apenas em 25 de janeiro de 1934. O conjunto escultórico é feito em bronze e granito. A Folha da Noite cobriu a inauguração.

O local escolhido, a Avenida Tiradentes, dividiu opiniões. Muitos acharam apropriado a estátua ficar ali diante do prédio projetado para ser sede do Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca) e outros achavam que a obra deveria ficar em outra região, como a própria Praça Ramos de Azevedo. Entretanto, lá não havia espaço suficiente.

monumento em detalhe
Monumento a Ramos de Azevedo na década de 1950. A frente da escultura era voltada para Rua São Caetano. - Divulgação

Em 1952 o monumento provou que os críticos do local escolhido estavam corretos. O aumento do número de veículos, aliado à necessidade de ampliação do eixo viário entre as zonas norte e sul, passando pelo centro, logo mostrou que o local escolhido fora inapropriado. Foi neste momento que iniciou-se a discussão de como alargar a Avenida Tiradentes com aquele monumento no meio do caminho.

As ideias foram várias e partiram desde uma redução do monumento até sua remoção. A mudança só seria colocada em prática no ano de 1967, quando se começou o planejamento da primeira linha do metrô, ligando Santana ao Jabaquara. Assim, em novembro deste mesmo ano, a escultura foi desmontada para só depois se discutir um novo local.

Avenida na região central de São Paulo
Avenida Tiradentes na década de 1950, com destaque no centro da imagem ao Monumento a Ramos de Azevedo - Divulgação

DESTINO: CIDADE UNIVERSITÁRIA

O arquiteto da cidade se estivesse vivo teria visto seu monumento ser colocado em um canto do Jardim da Luz, desmontado e abandonado em uma situação que perduraria até 1973, quando foi decidida sua transferência para a Cidade Universitária. A reinauguração, sem a comoção pública de 1934, ocorreria em 1975.

Monumento a Ramos de Azevedo
Vista do Monumento a Ramos de Azevedo na Cidade Universitária, zona oeste da capital paulista. - Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Desde então o Monumento a Ramos de Azevedo segue nas proximidades da Escola Politécnica da USP. Se o local foi o mais apropriado dentro da universidade, por outro lado retirou dos olhos da maioria dos paulistanos a visão da obra que homenageia aquele que foi o mais importante arquiteto paulistano.

A escultura de 25 metros de altura é apenas mais um dos inúmeros monumentos paulistanos que não está em seu local de origem, movendo-se conforme a necessidade urbanística ou a conveniência do governante da ocasião. O homenageado merece, por toda sua dedicação a arquitetura de São Paulo, um local onde pudesse ser mais contemplado pelos paulistanos. Quem sabe um novo espaço para ele a tempo do centenário de sua morte ?

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