Não sou religioso, mas agradeço aos céus pela incompetência do atual governo. Fossem Jair Bolsonaro e seus sequazes um pouco mais inteligentes, seria dificílimo tirá-los do poder.
A democracia tem um forte viés situacionista. Cerca de 80% dos líderes que se reapresentam para um segundo mandato consecutivo têm sucesso. Para que percam, é preciso que algo grave tenha acontecido. Em geral, isso ocorre por força de crises econômicas.
É verdade que Bolsonaro teve de enfrentar dois problemas a que não deu origem, que foram a pandemia e a guerra na Ucrânia. A conjunção dos dois acabou favorecendo o empobrecimento da população e um processo inflacionário difícil de debelar.
Outros governantes também experimentam dificuldades eleitorais por causa de algum dos dois flagelos. Para parte dos analistas, Trump perdeu a Casa Branca devido ao mau desempenho na pandemia, já que a economia ia relativamente bem. Até Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, a dirigente de um dos países que melhor lidaram com a Covid, parece em vias de ser derrotada por causa da inflação, contra a qual ela não teve o mesmo sucesso.
O que distingue Bolsonaro da maioria das lideranças é que ele ganhou do Congresso presentes com os quais outros não puderam nem sonhar. O primeiro foi a blindagem. Bolsonaro começou seu mandato antagonizando o Legislativo, em particular o centrão. Mas, assim que viu que correria risco de impeachment, se acertou com o grupo, do qual virou tchutchuca.
O segundo foi o megaultrapacote de bondades eleitorais. O presidente recebeu de mão beijada bilhões de reais para medidas populistas. Pior, numa atitude que desafia a lógica, a oposição votou em massa a favor desse estelionato.
Se Bolsonaro e seus asseclas tivessem tido a competência de dosar melhor o timing das intervenções eleitoreiras, ele seria um candidato imbatível. Felizmente, eles são bem ruins.
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