O filósofo e economista britânico John Stuart Mill (1806-1873) é um dos meus heróis e deveria ser um dos seus.
Quando explico a pessoas que sabem de seu livro "A Liberdade" (1859) o que é um verdadeiro liberal, eu me descrevo como uma "liberal à moda de J.S. Mill". E então, se as pessoas puderem lidar com isso, acrescento: "cristã". E, em seguida, "transgênera".
John Mill declarou que "a única liberdade que merece esse nome é a liberdade de buscar o nosso próprio bem à nossa própria maneira, desde que não procuremos privar outros do bem deles". Sim, John, fantástico.
Entretanto ele também disse que estava analisando "as relações da sociedade com o indivíduo no modo de compulsão e controle, quer o meio utilizado seja a força física, sob a forma de penalidades legais, quer seja a coerção moral da opinião pública". Oh, não, John, não.
Assim ele apagou a distinção que existe entre opinião pública e coerção física.
Segundo Mill, a ideia de que apenas uma pessoa que nasceu mulher deve usar vestido é uma coerção, tanto quanto é coerção se a polícia leva para a cadeia alguém que nasceu homem mas usa vestido.
Mill era a favor da excentricidade de opinião e defendia a livre expressão desta contra a coerção do Estado. Mas então tratava a tirania da opinião da maioria como um mal equivalente à coerção física da imposição da tirania, fosse ela da maioria ou não. Confundiu ideias e posições generalizadas com bandidos putinescos.
Filósofos acadêmicos modernos como Philip Pettit e Steven Lukes assumiram uma análise semelhante sobre o tema, classificando tanto a persuasão quanto a prisão como "poder" e "dominação".
Isso converte em mingau a distinção entre escolha e coerção, entre discurso e porrete. Desse modo, autoriza a coerção física no discurso e no pensamento.
Por exemplo: feministas antitransgênero do Reino Unido e da direita norte-americana recentemente propuseram a coerção física de pessoas que exercem sua liberdade de gênero e não procuram privar outros da liberdade deles. Ao estilo de Putin, as palavras perdem seu sentido: "estupro verbal", "escravidão salarial", "manipulação publicitária" e "guerra é paz".
Assim como a inglesa, a língua portuguesa possui duas palavras de origem latina que são frequentemente vistas como equivalentes: "persuadir" e "convencer". Entretanto a primeira vem de uma palavra indoeuropeia que deu origem a "sweet" (doce) em inglês, enquanto a segunda palavra contém o sentido de "conquistar".
Melhor é a persuasão doce e liberal.
Tradução de Clara Allain
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