Outro dia dei-me conta de que ainda não soube de apostas Lula x Bolsonaro na eleição. Não será por falta de jogadores. Os sites de apostas abundam na internet e sempre haverá pessoas que fazem fé em qualquer coisa —bicho, bingo, futebol, cavalos ou se vai chover. Os mais precavidos tentam manipular previamente o resultado e às vezes um vai preso por isso. Mas o certo devia ser: ganhou, levou. Perdeu, tem de honrar.
Em 1955, na véspera de um Fla-Flu, o rubro-negro Ary Barroso e o tricolor Haroldo Barbosa, grandes compositores, apostaram o bigode. Quem ganhasse rasparia o bigode do outro em público e com testemunhas. Deu Flu 2x1 e Ary, mau perdedor, escondeu-se na casa da cantora Linda Baptista, também Flamengo. Mas Haroldo descobriu-o e, munido de gilete, pincel, creme e Aqua Velva, foi até lá com uma turma e consumou a vitória.
Na Copa do Mundo de 1966, Carlinhos Niemeyer, criador do cinejornal Canal 100, quebrou a banca do Playboy Club de Londres ao ganhar US$ 150 mil na roleta. E já começou a gastá-los no dia seguinte, no estádio, em Liverpool. Ao ver os torcedores ingleses vibrando com a eliminação do Brasil para Portugal, atirou-lhes dinheiro a mancheias na arquibancada e lavou a alma ao vê-los se estapeando por ele. "Pobretões! Subdesenvolvidos!", gritava.
Em 1982, na disputa para o governo do Rio entre Leonel Brizola e Miro Teixeira, o brizolista Jaguar e o peemedebista Ziraldo, sócios no Pasquim, apostaram a propriedade exclusiva do jornal. O perdedor seria obrigado ainda a comer um exemplar. Brizola venceu. Ziraldo entregou suas cotas e teve de engolir várias páginas com uísque. Jaguar ficou com tudo —inclusive, como só viu depois, com a tremenda dívida do Pasquim.
Talvez, pela gravidade do atual momento, não haja clima para apostas. Talvez porque já se saiba quem vai ganhar. E talvez porque o perdedor esteja tentando desonrar a eleição.
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