O filme "Independência ou Morte!", de 1972, reconstitui a célebre pintura homônima de Pedro Américo, de 1888. Esta, por sua vez, foi inspirada na tela "Friedland", de Meissonier, que evoca uma vitória militar de Napoleão Bonaparte. Comparado ao imperador francês no primeiro momento, dom Pedro 1º acabou virando o Tarcísio Meira.
Um livro recém-lançado —"O Sequestro da Independência", de Carlos Lima Jr., Lilia Schwarcz e Lúcia Stumpf— mostra que o filme, na tentativa de literalmente refazer a pintura, transforma o riacho do Ipiranga numa poça barrenta. A ideia de cavar um buraco no chão e enchê-lo de água transportada ao local das filmagens em caminhões pipa não deu certo. Do corpete azul imaculado do galã à natureza recém-plantada no set, tudo é falso e artificial.
Produzido para os festejos do sesquicentenário, no regime militar, "Independência ou Morte!" é um abacaxi patriótico. No entanto, com o tempo e as muitas reprises na televisão, ganhou ares de cult. A turma se reunia no feriado para rir com os diálogos forçados e as suíças do Tarcísio. Há nele uma graça involuntária, uma ingenuidade até comovente.
Piada com o grito do Ipiranga, para valer, quem fez foi o cartunista Jaguar, que em 1970 publicou no Pasquim uma fotopotoca tendo como suporte o mesmo quadro. Da boca de dom Pedro sai um balão onde se lê: "Eu quero mocotó!". Era uma referência à música de Jorge Ben Jor, interpretada pelo maestro Erlon Chaves e sua Banda Veneno, enorme sucesso na época.
Cutucados com vara curta, os generais da ditadura reagiram à afronta a um dos símbolos da nação. A cúpula do jornal foi quase toda em cana.
Agora, véspera do bicentenário, com direito ao coração do imperador preservado em formol, generais e empresários ligados ao bolsonarismo são uma piada mórbida, animadores do estopim de golpe convocado para o 7 de Setembro. Eles querem mocotó.
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