John Gapper
No conto "Bartleby, o Escrivão" (1853), de Herman Melville, o personagem-título trabalha em Wall Street e, por motivos misteriosos, primeiro começa a desacelerar seu trabalho e depois entra em greve, sem sair do escritório. Sempre que o chefe solicita que ele escreva algum documento, sua resposta é o refrão "eu preferiria não fazê-lo".
Alguns dos equivalentes atuais de Bartleby adotam uma tática menos desafiadora e optam pelo quiet quitting. A ideia ganhou fama rapidamente depois por que o desenvolvedor de software Zaid Khan, 24, postou no TikTok um vídeo que o mostrava sentado em uma estação de metrô de Nova York, refletindo sobre sua interpretação do conceito. A narração tranquila dele, por sobre uma trilha sonora musical suave, de piano, tinha o efeito calmante requerido.
"Você não está desistindo de vez de seu trabalho; está só desistindo da ideia de ir acima e além do dever. Você continua a desempenhar suas funções, mas não adere mais à mentalidade da cultura batalhadora, que faz do trabalho a coisa mais importante de sua vida", disse Khan em julho. O vídeo dele parece ter ecoado entre os espectadores: foi assistido 3,4 milhões de vezes até esta semana e gerou incontáveis respostas simpáticas nas mídias sociais.
Pode ser irritante para as empresas e gestores ter de encarar uma nova geração de trabalhadores que se limitam a cumprir seu dever passivamente, fazem apenas o mínimo necessário e vão embora do escritório quando suas horas regulares de trabalho chegam ao fim. Mas a atitude tem alguma lógica: depois de décadas em que a intensidade do trabalho só cresceu, diante de metas cada vez mais ambiciosas e sujeitos a uma cultura que torna obrigatório batalhar, os jovens trabalhadores agora desenvolveram uma maneira eficiente de resistir.
O fenômeno não é realmente novo. Locais de trabalho sempre estiveram repletos tanto daqueles que buscam ambiciosamente uma promoção quanto de outros trabalhadores que preferem moderar seu esforço. Embora as publicações sobre gestão costumem oferecer conselhos sobre como motivar trabalhadores e levá-los a se tornar parte ativa de equipes, a fim de alcançar o que o escritor Jim Collins certa vez descreveu como "objetivos grandes, cabeludos e audaciosos", nem todo mundo quer chegar à Lua.
Mas o trabalho se tornou mais estressante para muita gente depois da pandemia, da mudança para o trabalho remoto e de uma onda de demissões voluntárias. Há uma grave escassez de pessoal nos transportes e em outras indústrias, intensificando as pressões sobre aqueles que permanecem. A Geração Z pode estar aderindo ao quiet quitting, ou, como diz um antigo professor, optando pelo "quiet working", mas, no caso de muitos trabalhadores mais velhos, o que aconteceu foi demissão voluntária pura e simples.
"Os trabalhadores agora estão sendo solicitados a fazer mais do que é sustentável", diz Sim Sitkin, professor de administração de empresas na Universidade Duke. "É um ritmo de prova de velocidade. Não dá para mantê-lo durante toda uma maratona". Ele menciona um porteiro com quem conversou recentemente em Nova York, e cuja jornada semanal de trabalho tinha subido para 80 horas por causa da falta de pessoal.
Os jovens profissionais já têm de encarar grandes expectativas. Em algumas profissões, como os bancos e a advocacia, o pessoal júnior precisa trabalhar jornadas longas e se dedicar intensamente, em troca de altos salários iniciais. Há um risco constante de esgotamento antes que eles sejam promovidos a postos nos quais terão maior autonomia.
As empresas também ajudaram a causar rebeliões contra elas mesmas ao terceirizar trabalhos e limitar a segurança no emprego. Isto vem dando aos trabalhadores mais jovens incentivos para desenvolver projetos paralelos e dividir seu tempo entre o trabalho, que paga suas contas, e projetos criativos nos quais eles se envolvem por paixão. Isso os torna mais propensos ao quiet quitting e a dedicar mais tempo e energia às próprias ideias.
O quiet quitting é uma resposta moderada se comparada ao "tang ping" (deitar no chão), a rebelião dos jovens contra trabalhos extremamente enfadonhos que emergiu na China no ano passado, causando alarme ao governo. O termo foi cunhado por Luo Huazhong, 26, que abandonou o emprego para ir viajar. "Estou só rodando por aí, e não vejo nada de errado nisso", ele escreveu.
Mas qualquer pessoa que esteja pensando em aderir ao quiet quitting precisa agir com cuidado. Se uma empresa perceber que os trabalhadores estão se distanciando furtivamente do trabalho, sua reação pode ser esclarecida: aumentar os salários e adotar uma abordagem de gestão mais gentil. Mas também pode ser a de impor contratos de trabalho mais rigorosos, monitoração adicional e medidas para dificultar os esforços das pessoas para reduzir o ritmo.
Alguns profissionais têm muita liberdade, em comparação com motoristas de serviços de entrega ou trabalhadores de armazém, cujo ritmo de trabalho é rastreado com ajuda da tecnologia. Esta latitude se deve em parte à natureza menos quantificável do trabalho em muitas das profissões liberais, e em parte a uma estratégia deliberada para fomentar iniciativa e criatividade. Se um dos lados opta por desistir desse contrato de trabalho implícito, o outro também pode fazê-lo.
Portanto, aqui vai meu conselho para aqueles que querem aderir ao quiet quitting. Primeiro, vá ao escritório regularmente e seja visto presencialmente, em vez de trabalhar de casa o máximo que puder. Escritórios são lugares perfeitos para quem quer criar a impressão de que está trabalhando, enquanto toma café, conversa com os colegas e faz uma pausa na batalha. Aparecer no escritório basta para enviar uma mensagem de dedicação ao trabalho, hoje em dia.
Em segundo lugar, procure se afastar sem deixar de fazer bem o seu trabalho, pela jornada que conste do seu contrato, em vez de enrolar constantemente (ainda que conversar no trabalho constitua uma exceção). Se você fizer seu trabalho pelas horas contratadas, qualquer necessidade de trabalho adicional terá de ser coberta pelo empregador por meio de novas contratações. Se você optar por enrolar em vez de trabalhar, na maioria dos casos caberá aos seus colegas de trabalho cobrir a lacuna. Sua atitude não poderá ser vista como uma rebelião ética se os mais afetados por ela forem seus colegas de trabalho.
Por fim, aja de forma discreta. Se você mudar de rumo muito abruptamente, os gestores perceberão e as coisas talvez fiquem desconfortáveis. Deixar muito óbvio o que você está fazendo também pode levar outras pessoas a aderir, o que certamente desencadeará o alarme. Se você quer aderir ao quiet quitting, precisa trabalhar para isso.
Tradução de Paulo Migliacci
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