Em 2022, olhe para o lado. Olhe nos olhos de quem está ao seu lado. Comece por onde se sente confortável, na sua casa, e em seus círculos mais próximos. Mas vá além. Ande pelas ruas e olhe nos olhos de quem cruza seu caminho nas calçadas. Preste atenção para não perder ninguém –pois pode passar por alguém que está sentado no chão, ou grudado na janela de um ônibus lotado. Reconheça o outro, não o evite. Reconheça-se no outro, seja pelas semelhanças, seja pelas diferenças e privilégios.
Não tenha medo, olhe para o lado. Lembre-se de que muito do que valoriza como central para sua felicidade e bem-estar está relacionado ao bem-estar de outras pessoas. Assim como você, o outro também quer ter os meios para viver dignamente sem passar necessidades. Quer segurança para andar nas ruas sem medo, quer saúde para cuidar dos filhos e para trabalhar, quer ter relações saudáveis e cordiais para além dos muros e grades –algo que só uma educação universal, de qualidade e inclusiva pode brindar.
Se há uma lição da pandemia que não deve ser esquecida, é que somos interdependentes. Portanto, olhe para o lado e inclua preocupações e ações para o bem coletivo dentre suas prioridades. A nossa única saída enquanto sociedade é trazer conosco quem ficou para trás, é exercitar a liberdade no limite do respeito à liberdade do outro, é respeitar o meio ambiente e plantar o que queremos colher –seja a gentileza, a confiança ou a generosidade.
O exercício de olhar para o lado é fundamental para trazer novas perspectivas para as oportunidades e desafios que enfrentamos. Além disso, se perceber na humanidade do outro amplia o nosso mundo, constrói pontes e nos permite questionar dogmas e preconceitos que nos puxam para trás. É certamente uma experiência transformadora. Exercitando esse olhar, deixo aqui alguns desejos do topo da minha lista para 2022:
Que o nosso país seja resgatado das mãos das pessoas que jamais deveriam ter poder, pois nunca entenderão o que é servir e cuidar do interesse público de forma responsável.
Que os que infligem tamanho sofrimento de forma deliberada sejam responsabilizados por cada uma das mortes evitáveis, pelos danos à saúde física, emocional e mental do nosso povo, por cada sonho e pelo tempo de convívio roubados por suas inações e ações desastrosas e vergonhosas.
Que os que estão saciados marchem pelos que têm fome, com a pressa que a crise humanitária que vivemos demanda.
Que as desigualdades voltem a cair, e que crianças e jovens tenham o direito a um futuro melhor, no qual a mobilidade social se torne uma possibilidade real e alcançável.
Que jovens e adultos não se equivoquem com o péssimo exemplo de quem está hoje no topo da tomada de decisão pública. E que façam as escolhas certas, sem pegar em armas, e sem banalizar o valor da vida.
Que a pandemia atual, e as próximas que possivelmente virão, sejam vencidas pela ciência e pela solidariedade. Que crianças sejam vacinadas e protegidas.
Que a responsabilidade e o bem-estar coletivo vença a conotação equivocada e egoísta de uma liberdade niilista incompatível com a vida em sociedade.
Que o grito de socorro da natureza chegue a cada um de nós. E que a conexão entre pessoas e planeta seja compreendida a tempo de salvaguardá-lo para as próximas gerações.
Que as pessoas percam menos tempo odiando nas redes sociais, e encontrem seu propósito de construção positiva na sociedade.
Que as famílias, os amigos e a sociedade restabeleçam as bases do diálogo, das divergências respeitosas e da tolerância –para que a jornada de consolidação democrática seja resgatada.
E, que ao focar as tarefas, planos e desafios individuais do dia a dia, ninguém se esqueça de olhar para o lado. Feliz 2022!
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