terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Ana Carla Abrahão OESP

 Não é de hoje que o Brasil decepciona. Já se vão décadas. Mesmo em períodos em que alguns acreditavam que estávamos a brilhar, embalados pela ilusão do pré-sal e pelo boom dos preços das commodities, falhamos. Desperdiçamos a oportunidade de avançar e nos afundamos na corrupção. Comparados aos nossos pares emergentes, cuja renda per capita cresceu 5,12% entre 2003 e 2011, comemoramos 2,94% de crescimento sem olhar para o lado e ver que o mundo também crescia e, de forma acelerada, nos deixava para trás. Entre 2012 e 2021 a diferença se consolida com a retração de 0,54% do PIB per capita frente aos 3,28% de crescimento nos nossos pares.

Urna eletrônica
Mesmas práticas e ideias que nos trouxeram até aqui ainda encantam, apoiadas no obscurantismo e dando voz ao messianismo e ao populismo Foto: Antonio Augusto/TSE

Nesse período, apesar do sucesso dos programas de transferência de renda no Brasil, em particular do Bolsa Família, a redução da pobreza foi muito mais intensa nos outros países emergentes, em particular na China, que retirou mais de meio bilhão de chineses da miséria. Nos números da desigualdade, a queda quase contínua que se observa desde o pós-Real foi revertida a partir de 2014. Daí em diante só se agravou, com a pá de cal sendo a pandemia, que tornou mais pobres os pobres. Devolvemos o que levamos décadas para, a duras penas, melhorar.

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Nossa produtividade anda de lado – e, mais recentemente, para trás. Um trabalhador brasileiro tem o equivalente a 25% da produtividade de um trabalhador nos países desenvolvidos. Era 30% na década de 90. Nossos pares, antes muito menos produtivos do que o Brasil, encostaram nos nossos números e, ao contrário de nós, continuam reduzindo a diferença que os afasta do desenvolvimento. Em paralelo, quase não investimos. Em infraestrutura, os 2% de investimento do PIB em média nos últimos 25 anos não dão sequer para cobrir a depreciação do estoque de capital físico que, com alto custo, acumulamos.

O Brasil de 2000 que em termos relativos empobrecia, nos anos 2010 empobreceu também no absoluto. Em 2022, segundo ano do que aponta para ser a nossa terceira década seguida de atraso, talvez tenhamos uma chance de reversão. Ou não. Afinal, as mesmas práticas e ideias que nos trouxeram aos números acima continuam vivas e ainda encantam, apoiadas no atual obscurantismo e dando voz ao messianismo e ao populismo. São todos parte desse grande trem fantasma em que o Brasil se transformou. O Brasil não merece insistir nos mesmos erros, sejam eles mais ou menos recentes. Estejam eles à direita ou à esquerda. Merecemos, finalmente, avançar.

*Os dados citados têm como fontes o IBGE, a Penn World Table e o Banco Mundial

*ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA 

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