O morticínio e as iniquidades provocados por ideias supostamente científicas sobre genes e raças são conhecidos. Em boa medida por causa desse histórico sombrio, a esquerda passou as últimas décadas ignorando, quando não combatendo, pesquisas no campo da genética humana, particularmente da genética comportamental. Não é uma estratégia particularmente brilhante.
Um dos maus hábitos da realidade é que ela não vai embora só porque você não gosta dos resultados que ela produz. Esse panorama começou a mudar nos últimos anos, com a publicação de livros escritos por cientistas com agenda abertamente progressista que mostram que os genes são relevantes para o comportamento humano e que reconhecer isso não nos condena a reviver o nazismo.
"The Genetic Lottery", de Kathryn Paige Harden, é uma dessas obras. Seu maior mérito é apresentar e desmitificar o problema. Genes importam não só no âmbito individual mas também para os grandes desafios sociais, como a igualdade. O peso da genética no desempenho escolar de uma criança é igual ao da renda dos pais, ou seja, bem forte. E o desempenho escolar, vale lembrar, é uma variável-chave na definição da renda, felicidade e até do número de anos que a pessoa vai viver.
Harden faz um apanhado bem didático dos tipos de pesquisa genética que existem, as diferenças entre eles e como interpretá-los. Embora o senso comum pense os genes como determinantes, seu efeito sobre a maioria das características que nos interessam é muito mais probabilístico. Bons genes no ambiente errado não fazem milagres. E um ambiente propício pode fazer com que mesmo alguém que não tenha sido favorecido pela loteria genética se saia bem.
Uma boa analogia é com a miopia. Ela é 100% genética, mas depende de certas condições ambientais para manifestar-se. Mais importante, mesmo quando ela dá as caras, a sociedade tem uma solução não genética 100% eficaz: óculos.
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