Elton Alisson | Agência FAPESP – A despeito de a eletrificação dos automóveis avançar no Brasil, seguindo a tendência mundial, o etanol continuará sendo uma solução barata e sustentável de combustível renovável no país. Por isso, a Stellantis tem reafirmado seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) sobre motores movidos a biocombustível, afirma Emmanuel Hédouin, gerente de pesquisa e engenharia avançada do quarto maior grupo automotivo, resultado da fusão da montadora francesa PSA com a Fiat Chrysler, no início de 2021.
“O Brasil será o país onde, provavelmente, terá mais aplicações, possibilidades técnicas e soluções para powertrain, porque o etanol vai ficar. Isso justifica a continuidade no trabalho [de pesquisa e desenvolvimento] sobre etanol”, disse Hédouin durante a Jornada de Estudos França-Brasil – Cooperação Científica no Estado de São Paulo, realizada no dia 10 de dezembro no auditório da FAPESP.
O Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) Professor Urbano Ernesto Stumpf, lançado em 2014 pela FAPESP em parceria com a PSA, tem sido estratégico para orientar a pesquisa e desenvolvimento na área feita pela Stellantis, afirmou Hédouin.
“O papel do CPE é realmente ser referência e guiar as decisões sobre etanol no Brasil”, disse o executivo.
O centro reúne pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e dos institutos Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Mauá de Tecnologia (IMT), em parceria com os da empresa.
Alguns dos objetivos iniciais do CPE foram melhorar o conhecimento sobre a combustão a etanol e desenvolver competências para se tornar um polo local em ferramentas digitais e físicas para o estudo do biocombustível. Entre elas, simulações uni e tridimensionais de combustão com etanol e a utilização de motor transparente para visualizar a combustão.
“Outra expertise do centro é confirmar em um banco de testes com motores as orientações dadas pelos laboratórios, que são fundamentais”, disse Hédouin.
O centro é conectado à rede científica internacional de laboratórios do grupo, chamada StelLabs, cujo objetivo é buscar competências com universidades e gerar um fluxo de intercâmbio de conhecimento.
Os pesquisadores do CPE têm trabalhado mais estritamente em colaboração com um open lab da rede, localizado na França, especializado em estudos sobre combustíveis e powertrain.
“A rede de laboratórios está bastante centrada na Europa, mas se desenvolveu em várias regiões geográficas. Há laboratórios na China, África e nas Américas, entre outras regiões”, afirmou Hédouin.
Algumas das principais realizações do centro nestes últimos sete anos foram realizar testes coordenados empregando a última geração de motores criados pelo grupo e desenvolver um método de simulação tridimensional de dinâmica computacional de fluidos (CFD, na sigla em inglês) com etanol.
Além disso, os pesquisadores do CPE caracterizaram a combustão em motor óptico monocilíndrico com etanol e identificaram alguns fatores importantes para o surgimento de problemas de entupimento de injetores. “Os resultados têm sido muito interessantes”, avaliou Hédouin.
Alguns dos pontos positivos do projeto nestes anos destacados pelo executivo foram a oportunidade de estabelecer parcerias com universidades de excelência no Estado de São Paulo, além do alinhamento com a estratégia e a obtenção de apoio da empresa.
Outros fatores positivos foram a possibilidade de adaptar os objetivos principais no início de cada fase do projeto.
“Tudo mudou no mundo automotivo nestes sete anos de existência do centro, especialmente na parte de powertrain. Por isso, foi muito importante o apoio que tivemos da FAPESP para remanejar o escopo entre a primeira e a segunda fase do projeto”, disse Hédouin.
“Tivemos a oportunidade de adaptar a configuração do centro, mudando a coordenação para ter um lado mais aplicativo e também para deixar de lado alguns assuntos que já tinham sido tratados pela equipe de pesquisadores do grupo”, disse.
Já entre os pontos para melhorar está a necessidade de adaptar o ritmo de pesquisa das universidades com o da empresa, avaliou Hédouin.
“Teve uma agilidade às vezes não 100% suficiente das universidades, do nosso ponto de vista, mas, por outro lado, vimos que elas demonstram uma grande vontade em acompanhar o ritmo da indústria. Tem sido uma experiência muito interessante”, disse.
Responsabilidades compartilhadas
O centro foi o primeiro a ser lançado no âmbito do Programa FAPESP de Centros de Pesquisa em Engenharia/Centros de Pesquisa Aplicada, que oferece apoio para a criação em universidades ou institutos de pesquisa de centros de pesquisa em parceria com empresas.
Além dele, a FAPESP já implantou diversos CPEs em parceria com outras empresas, como Shell, Koppert, Equinor, GlaxoSmithKlein, Natura, Embrapa e IBM.
Uma das premissas dos CPEs é que a empresa participe com a FAPESP de todas as dimensões do centro, sublinhou Roberto Marcondes Cesar, coordenador do programa na FAPESP.
“A empresa parceira ajuda a definir quais são os temas de pesquisa, o financiamento e a seleção dos grupos de pesquisadores do centro. Depois, acompanha juntamente conosco o funcionamento e participa da governança e da pesquisa”, afirmou.
A FAPESP destinou até o momento R$ 237 milhões para o financiamento dos CPEs. Somado aos investimentos feitos pelas empresas e as universidades e instituições de pesquisa parceiras, o montante supera R$ 1 bilhão, estimou Cesar.
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