Não é porque Jair Bolsonaro parou de atacar diuturnamente o Supremo Tribunal Federal e outras instituições que seu governo se tornou menos nefasto. Ainda que com menos estardalhaço, ele permanece altamente destrutivo.
No campo da economia, o país retrocedeu várias décadas com PEC dos Precatórios, que permitirá ao governo e seus cúmplices do centrão expropriar recursos privados cujo recebimento já havia sido determinado pela Justiça. Para usar um rótulo caro aos bolsonaristas, a medida recende um "comunismo" com o qual as gestões petistas nem sequer ousaram flertar. O pior é que teria sido perfeitamente possível criar um bom mecanismo de auxílio emergencial, que é mais do que necessário, sem incorrer nesse tipo de violação às regras do jogo. Bastaria ter revisto algum dos muitos programas e subsídios pouco eficazes que o Estado brasileiro distribui à farta.
Na educação, as mudanças nas regras do Prouni levantam a suspeita de que o governo, que vinha pecando principalmente por omissão nessa seara, vai agora exercer um papel mais ativo, desmontando deliberadamente o que funcionava.
Como vivemos um momento epidemiológico favorável, já não damos tanta atenção às sandices biológicas que Bolsonaro jamais deixou de bradar. Mas o pesadelo da Covid-19 ainda não acabou, de modo que decisões estratégicas erradas e declarações estapafúrdias ainda poderão custar muitas vidas.
A destruição ambiental e a violência contra jornalistas patrocinadas pelo governo seguem no ritmo acelerado de sempre. Nessas áreas, a administração foi pelo menos consistente.
Não é porque a ameaça de golpe parece hoje uma possibilidade bem mais remota do que alguns meses atrás que devemos parar de nos preocupar. A capacidade de destruição do atual governo ainda é considerável e exige que organizemos nossas defesas. Como já asseverou um poeta, o mundo acaba não com um estrondo, mas com um gemido.
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