segunda-feira, 28 de junho de 2021

Por apoio político, Doria troca quadros técnicos e expande interlocução com prefeitos, FSP

 José Marques

SÃO PAULO

Agora com dois pré-candidatos dividindo um projeto para 2022 no Palácio dos Bandeirantes, o Governo de São Paulo passou por mudanças políticas para impulsionar as chances de João Doria (PSDB) na corrida pela Presidência e de seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), na sucessão estadual.

Para amenizar resistências e conquistar aliados, Doria alterou a composição do governo com o objetivo de destravar a articulação política e acelerar entregas às prefeituras. A atual formatação dá mais espaço para políticos de peso e para siglas aliadas —às custas da saída de nomes considerados técnicos.

O vice-governador Rodrigo Garcia e o governador João Doria, ambos do PSDB, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, em SP
O vice-governador Rodrigo Garcia e o governador João Doria, ambos do PSDB, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, em SP - Divulgação - 23.jun.2021/Governo do Estado de SP

Doria levou o deputado estadual Itamar Borges (MDB) para a Secretaria de Agricultura, no lugar do empresário Gustavo Junqueira, que passou a presidir a InvestSP, como mostrou a Folha.

Indicou o deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB) como líder de governo na Assembleia Legislativa e preencheu o vácuo da Casa Civil com o tucano Cauê Macris, ex-presidente da Casa.

Até então, a Casa Civil era uma espécie de órgão fantasma loteado para Gilberto Kassab (PSD).

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Ele chegou a ser nomeado para a função, mas imediatamente pediu licença não remunerada devido a suspeitas de corrupção, que ele nega. O cargo ficou vazio até dezembro de 2020, quando Kassab saiu do governo.

Por outro lado, o novo modelo de administração mais político e mais atento a demandas por verba se tornou ambiente hostil para Mauro Ricardo Costa, que deixou a Secretaria de Projetos, Orçamento e Gestão no mês passado.

Mauro Ricardo é conhecido por ter ocupado secretarias estaduais e municipais para promover ajustes fiscais. Esteve na gestão dos ex-governadores José Serra (PSDB), em São Paulo, e Beto Richa (PSDB), no Paraná, e também na dos ex-prefeitos Gilberto Kassab, na capital paulista, e ACM Neto (DEM), em Salvador.

As mudanças vêm no momento em que Doria e Garcia se voltam com mais afinco para a agenda eleitoral, ampliando viagens ao interior e inaugurações —o esforço é o de fazer a agenda positiva se sobrepor ao desgaste causado com as restrições de circulação e comércio na pandemia, apesar do trunfo da vacina.

O governo intensificou a entrega de vitrines para 2022, e o esforço de articulação política possibilitou a autorização da Assembleia, em votação na quarta-feira (24), para que Doria obtenha empréstimos de quase R$ 9 bilhões para financiar obras e projetos.

O projeto não encontrou grandes entraves na Assembleia. Apenas a oposição à direita e o Novo votaram contra —houve 53 votos a favor, inclusive do PT após inclusão de emendas por mais transparência, e 20 contrários. O PSOL declarou obstrução.

A verba será usada para obras em rodovias e vicinais, inclusive a Rodovia dos Tamoiosobras da linha-6 (laranja) do metrô; investimentos da Sabesp, como o Novo Rio Pinheiros; construção de delegacias, escolas e unidades habitacionais; obras contra enchentes; recuperação ambiental da Baixada Santista; e digitalização da administração pública.

O governador paulista declarou à Folha, em 15 de junho, que é pré-candidato ao Planalto e irá concorrer nas prévias do PSDB.

Para vencer a eleição interna, Doria tem como obstáculo a imagem de empresário e a série de erros políticos cometidos —para ficar nos últimos, a ida ao Rio de folga e o enfrentamento à opinião de Fernando Henrique Cardoso sobre as prévias.

Além disso, o tucano precisa ter o voto de prefeitos, vereadores e deputados, que têm peso maior do que os militantes na eleição interna do PSDB.

O reforço no time da articulação visa superar os entraves, assim como a abertura de espaço na agenda para rodadas de reuniões de grupos de prefeitos organizados por partidos.

Já Garcia, que trocou o DEM pelo PSDB em maio, e, posteriormente, assumiu a pré-candidatura ao Governo de São Paulo, está dedicado ao mesmo esforço de conquistar prefeitos e deputados e de viajar pelo interior.

O vice acumula o cargo de secretário de Governo e, com a Casa Civil esvaziada, acabava tratando da gestão de obras e privatizações, mas também da articulação política. Na avaliação do líder do governo, Camarinha, a ida de Macris deixou o time completo e desafogou as atribuições de cada um.

Aliados de Doria ouvidos pela Folha admitem que faltava ao tucano azeitar as costuras políticas em todos os setores da administração, sobretudo na relação com a Assembleia e com os prefeitos.

A Casa Civil não tinha, dizem, o peso político necessário em um estado importante como São Paulo e dirigido por alguém que já chegou ao cargo estadual mirando a Presidência.

Macris assumiu a função com a difícil tarefa de diminui a rejeição de Doria no mundo político e começou instigando o governador a receber os prefeitos pessoalmente para ouvir queixas e tentar explicar o porquê das medidas de restrição na pandemia, tidas como vilãs da economia.

Auxiliares de Doria acreditam ser possível recuperar a imagem do governador e viabilizá-lo eleitoralmente, apesar de a última pesquisa Datafolha ter detectado apenas 3% de intenções de votos.

Outra mudança recente, a saída de Mauro Ricardo aconteceu após desgastes e, segundo relatos internos do governo, Garcia tentou demovê-lo da ideia de deixar a gestão. No fim, a troca acabou ampliando o espaço do vice: ele indicou para o cargo Nelson Baeta, seu número dois na Secretaria de Governo.

Nos bastidores, a avaliação é a de que Mauro Ricardo criou uma série de problemas entre Doria e sua base aliada, sobretudo com o ajuste fiscal, que custou a ser aprovado na Assembleia. Mauro Ricardo é descrito como competente, mas sem sensibilidade política e contrário à liberação de verba –moeda de troca nas relações entre eleitos.

O ex-secretário de Projetos, Orçamento e Gestão Mauro Ricardo Costa - Divulgação - 14.jan.2021/Governo de São Paulo

Pouco depois da demissão, Doria anunciou liberação de verbas à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de SP) ao lado da secretária Patricia Ellen (Desenvolvimento Econômico). Procurado pela reportagem, Mauro Ricardo não se manifestou.

Para agradar o MDB, Doria assumiu o desgaste de nomear para a Agricultura Itamar Borges, que era líder do partido na Assembleia Legislativa e é condenado criminalmente em segunda instância por desvios de verbas da educação. O deputado, porém, é influente na região de São José do Rio Preto. Ele recorre aos tribunais superiores.

Já a escolha de Camarinha para a liderança do governo, quebrando a tradição de colocar tucanos nesse posto, foi vista como um aceno para os demais partidos e justificada pelo trânsito do deputado com colegas de todas as alas. Como Camarinha declara campanha por Garcia e Doria, acabou suspenso do PSB e deve mudar de sigla.

O PSB em São Paulo é presidido por Márcio França, rival de Doria e também pré-candidato ao governo do estado. "O governo teve a boa sabedoria de não pensar só partidariamente, mas aumentar o leque de relações políticas na Casa, isso agradou o Parlamento", diz Camarinha.

Para o líder, os ajustes no governo trouxeram "entrosamento" no trânsito político. "Isso vai dar resultados políticos não só partidários, mas para a população. Uma coisa puxa a outra. E também resultados eleitorais. Quando a coisa funciona, você entrega a obra, as pessoas ficam felizes e o reconhecimento político vem."

Político experiente da Assembleia, Barros Munhoz (PSB), que já presidiu a Casa e já foi líder de governo, avalia que a gestão Doria entrou no prumo, embora aponte que umas poucas áreas ainda precisem de melhorias. Para ele, a avaliação do tucano subirá a ponto de causar surpresa em alguns meses.

Munhoz aponta que Doria, agora, conseguiu resolver problemas de lentidão e de caixa. "Doria fez medidas duras, austeras e preparou o estado para chegar ao ponto que chegou. Até pela experiência de administrador [no setor privado], ele entendeu isso e se organizou para isso", diz.

"As coisas estavam andando de forma morosa, gerando um problema político na Assembleia. O ritmo do governo aumentou muito. Está se criando um estado de ânimo. É outro clima, estamos esperançosos, é o estado de espírito que sinto em deputados, prefeitos, vereadores e começo a sentir no povo com as obras", completa.


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