sexta-feira, 18 de junho de 2021

Pecuaristas dos EUA apostam em novos frigoríficos após pandemia e ataque à JBS, FSP

 Pecuaristas e investidores dos Estados Unidos estão destinando centenas de milhões de dólares à construção de novas fábricas de carne bovina, depois que o fechamento temporário de enormes unidades de abate no início da pandemia de Covid-19 deixou produtores sem ter para onde enviar animais prontos para serem transformados em carne.

Um ataque cibernético contra a unidade norte-americana da gigante brasileira JBS, que paralisou quase um quarto da produção de carne bovina dos EUA neste mês, voltou a ressaltar as vulnerabilidades da cadeia de oferta de carnes do país, causando mais dores de cabeça aos produtores.

Os pecuaristas, assim como o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), afirmam que o setor está muito consolidado e, dessa forma, depende de apenas alguns grandes processadores e de seus frigoríficos industriais.

Unidade da JBS em Plainwell, Michigan - Jeff Kowalsky - 9.jun.2021/AFP

Quatro gigantes do setor —JBS USA, Tyson Foods, Cargill e National Beef Packing Company— são responsáveis pelo abate de 85% do gado engordado com grãos, transformando-o em bifes, costelas e assados para os consumidores.

As fábricas de carne de menor porte e startups têm o objetivo de fornecer aos pecuaristas locais mais espaços para o abate do gado, especialmente aquele criado para produção de carne de maior qualidade. Segundo elas, o aumento no número de plantas pode garantir que parte da produção seja mantida caso grandes instalações venham a fechar.

Quando grandes frigoríficos fecham, a oferta de carne diminui e os produtores ficam com o gado que teria sido abatido. Isso significa que o preço do gado geralmente cai, enquanto o preço da carne nos supermercados sobe.

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As longas paralisações em alguns dos maiores abatedouros dos EUA devido a surtos de Covid-19 afetaram a produção de carnes na primavera de 2020 (no Hemisfério Norte), resultando na imposição de limites para as compras por consumidores em supermercados e em uma redução nos estoques congelados, que os processadores ainda precisam reabastecer.

Rusty Kemp notou a necessidade de mais capacidade de processamento após um incêndio em uma fábrica da Tyson Foods em Holcomb, no Kansas, em 2019, que levou os consumidores de carne a lutar por suprimentos e deixou produtores de gado sem ter para onde vender seu gado. Em seguida, ocorreram a pandemia e o ataque ransomware à JBS.

Agora, Kemp planeja inaugurar no outono deste ano uma fábrica de carne bovina de 300 milhões de dólares no Nebraska.

"Achamos que o incêndio em Holcomb havia sido um desastre absoluto, mas então a Covid apareceu e Holcomb passou a não parecer mais tão ruim", disse ele.

A fábrica de Kemp, batizada de Sustainable Beef, vai abater 1.500 cabeças de gado por dia e utilizar a tecnologia de blockchain para que os consumidores possam rastrear cada corte de carne até a fazenda, afirmou ele.

A Sustainable Beef tem como coproprietários produtores de gado que fornecerão animais à fábrica para abate, em vez dos grandes frigoríficos, acrescentou Kemp. Ele contratou ex-executivos da Cargill —uma das maiores processadoras de carnes— como consultores, devido a seu expertise.

Kemp afirma, porém, que não está tentando entrar em conflito com os quatro grandes frigoríficos do país, e que fábricas maiores são necessárias para produzir grandes volumes de carne.

"Precisamos absolutamente de mais capacidade e mais players", disse.

Em todo o país, pelo menos cinco novas instalações de processamento de tamanhos variados foram inauguradas ou têm planos de abertura após os choques de oferta vistos no início da pandemia. Considerando expansões em fábricas já existentes, incluindo uma da JBS, a capacidade de abate diário dos EUA deve aumentar em cerca de 5%, de acordo com cálculos da Reuters e dados do Instituto Norte-Americano de Carnes.

As condições de mercado são favoráveis para novos participantes. A oferta de gado é ampla, enquanto os preços da carne bovina e as margens de lucro dos frigoríficos dispararam devido às fortes exportações e à demanda dos consumidores norte-americanos.

Em Butler, Missouri, Todd Hertzog e sua família inauguraram a Hertzog Meat Company neste mês, após estudarem o projeto por cinco anos.

Embora a fábrica de 3,75 milhões de dólares abata apenas cerca de 20 cabeças de gado por dia, ela atende a fazendeiros próximos que desejam produzir carne bovina de alta qualidade, disse Hertzog, que administra a operação.

"A pandemia abriu nossos olhos para as necessidades dos produtores locais", afirmou ele.

As interrupções de produção durante a pandemia levaram Cliff Welch a iniciar a construção de uma fábrica de processamento de carne na região de Central City, Kentucky, a um preço de mais de 1,2 milhão de dólares. O ataque cibernético à JBS reforçou a decisão de Welch de construir a instalação, com inauguração prevista para o final de 2021, disse ele.

Welch pretende começar com o abate de 75 cabeças de gado por semana, mas vê capacidade de abater 300 cabeças por semana eventualmente. Ele disse que vai produzir cortes personalizados de carne usando o "açougue à moda antiga", e planeja vendê-los localmente.

"Estou começando do zero", disse Welch. "É um grande empreendimento."

Welch acrescentou ter recebido uma doação de 250 mil dólares do Kentucky para o projeto.

SUBSIDIÁRIA DA JBS FAZ AQUISIÇÃO NA EUROPA

A JBS informou nesta quinta-feira (17) que sua subsidiária Pilgrim's Pride fechou um acordo para aquisição dos negócios de alimentos preparados e refeições da Kerry Consumer Foods no Reino Unido e na Irlanda.

A operação tem um "enterprise value" de £ 680 milhões (aproximadamente R$ 4,7 bilhões), o que representa um múltiplo de 8,5 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla inglês) esperado para 2021 dos negócios adquiridos, disse a JBS em fato relevante.

A conclusão do negócio é esperada para o quarto trimestre de 2021, estando sujeita a aprovações regulatórias usuais.

"A operação fortalece a posição da Pilgrim's Pride como uma das empresas líderes na indústria de alimentos na Europa, criando uma das maiores e mais completas plataformas integradas de alimentos, com um portfólio de produtos de valor agregado com marcas", afirmou a JBS.

A Kerry comercializa marcas líderes como Denny, Richmond e Fridge Raiders.

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