Bianca Zanatta, O Estado de S.Paulo
20 de junho de 2021 | 05h00
Especial para o Estadão
O setor hoteleiro foi, sem dúvida, um dos mais afetados pela pandemia. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH) mostrou que, em março, a taxa de ocupação dos empreendimentos hoteleiros no Estado de São Paulo, por exemplo, foi de apenas 19,18% em março.
Para driblar essa crise, algumas empresas optaram por embarcar na onda das plataformas de locação flexível (contratos de aluguel com duração mais curta que o padrão). Uma que acaba de integrar esse nicho em seu marketplace é a Housi, que tem atingido 80% de ocupação média das unidades que disponibiliza em sua plataforma. A empresa já fechou parceria com grandes marcas de hotéis pelo Brasil, como Staybridge Suites São Paulo, Blue Home by Blue Tree, Hilton São Paulo Morumbi, Transamérica Resort Comandatuba e Nacional Inn, entre outras. Além de contar com toda a tecnologia da plataforma, eles têm a possibilidade de vender estadias com tempo maior de hospedagem e acessar um público novo, que busca o conceito de moradia por assinatura da Housi.
Com o objetivo de facilitar as escolhas de quem viaja e gerar receita para empreendimentos e proprietários, a startup Migro é outra que aposta no setor hoteleiro. A plataforma disponibiliza em torno de 2 mil unidades, entre apartamentos, casas e vilas, todas localizadas em hotéis, flats, resorts ou condomínios com infraestrutura e serviços hoteleiros.
Segundo o fundador Sergio Assis, a hospedagem por temporada é uma tendência forte, mas a empresa não direcionou toda a estratégia para essa modalidade. “Desenvolvemos soluções em que oferecemos opções para quem deseja se hospedar em hotéis e resorts, mas também temos o modelo de locação por temporada como opção, pois estamos em uma fase de mudança de costumes no modo de se fazer reservas em meios de hospedagem”, ele fala.
Assis acredita, no entanto, que essa atividade será temporária no caso dos hotéis. “Assim que o ritmo de hospedagens voltar ao normal, certamente não haverá tanta disponibilidade para esse modelo de negócio”, prevê. No momento, porém, a ideia acaba sendo uma fonte de renda para o mercado em baixa e ajuda a atender à demanda de um público específico.
“Em decorrência da pandemia, são muitas as empresas operando em sistema de home office e a (demanda por) locação tem variado por regiões próximas de aeroportos e de vias com acessos fáceis para a locomoção urbana”, diz. “O público é composto por profissionais liberais, como engenheiros, arquitetos e gestores de empresas de pequeno porte, que precisam se locomover para fazer negócios. Há uma procura significativa também pelas cidades do interior, sobretudo aquelas com potencial de negócios.”
Mensalidade
A rede Louvre Group Hotels, responsável pela administração e comercialização das marcas Royal Tulip, Golden Tulip, Tulip Inn e Soft Inn no Brasil, criou uma campanha de mensalistas para quem quiser morar em um de seus empreendimentos. O serviço foi implementado em 15 de seus hotéis, distribuídos em sete Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Norte e Alagoas e no Distrito Federal).
“É uma estratégia que já era adotada pela rede há bastante tempo, mas que reforçamos durante a pandemia com pacotes mais atrativos”, explica o diretor de marketing e vendas no Brasil, Sandro Fonseca. Ele diz ainda que esse formato de campanha foi implantado para os hotéis participantes por aqui, mas que na França existe até uma nova bandeira que foi criada exclusivamente para atrair estadas de longa duração.
“O foco principal são trabalhadores que precisam passar longos períodos em determinado local, mas a proposta atende a qualquer cliente que tenha essa necessidade ou que enxergue na tarifa mensal uma oportunidade interessante para o seu momento de vida”, diz.
Outras vantagens, segundo ele, estão na ausência de burocracias e em facilidades como limpeza diária, serviço de quarto e área de lazer. As mensalidades (sem as tarifas) podem variar de R$ 1,5 mil a aproximadamente R$ 5,7 mil, dependendo da localização.
Retrofit
Startup com foco na gestão e transformação de ativos residenciais, a Nomah desenvolveu um novo caminho para empreendimentos hoteleiros, fazendo o retrofit para o modelo de estadia flexível. “Hoje temos um hotel na região da Avenida Paulista que está passando pela transformação completa em um residencial”, diz Thomaz Guz, presidente da empresa.
Ele conta que as áreas comuns foram adaptadas para uma operação guiada por tecnologia. Um dos pontos-chave é o controle de acesso: em vez de uma passagem aberta para a calçada, o empreendimento terá um hardware que permite a entrada de clientes que já tenham passado pelo processo de checagem online. Ou seja, um modelo tecnológico mais semelhante ao da portaria, ao invés de uma recepção tradicional de hotel.
Para o empresário, no cenário atual, a ideia de retrofit faz todos saírem ganhando. “São empreendimentos em que os proprietários possuem uma dor latente muito clara”, afirma, lembrando que a operação tradicional de hotelaria tem uma estrutura de custos alta, que, com a retração da demanda, causou um acúmulo de prejuízos. “Temos a oportunidade de resolver essa dor dos proprietários e aumentar a oferta de unidades dentro da nossa plataforma, trazendo mais diversidade de produtos para os clientes.”
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