O Tio do Pavê que mora dentro do brasileiro —não importa idade nem ideologia— não resiste a gracinhas quando o Peru está na roda. Não à toa “peruada” é sinônimo de gracejo, chiste, gozação. Ainda mais quando no país vizinho é eleito, como agora, um presidente que era professor primário numa província chamada Chota.
Carola e sindicalista, Pedro Castillo é uma incógnita do tamanho de seu chapelão branco. Sua votação foi apertadíssima, ganhou no fotochat, mas confirmada por observadores internacionais. A esquerda brasileira comemorou o resultado, passando pano para o fato de o azarão Castillo ser contra o aborto e pautas LGBT.
A direita lamentou a derrota de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, condenado por tráfico de drogas e corrupção e por ordenar assassinatos. Bolsonaro não perdeu a chance de voltar à quinta série (se é que algum dia ele saiu dela): “Perdemos o Peru”. Dizem que Mario Vargas Llosa, que apoiou Keiko, ficou desconsolado após a vitória de Castillo, repetindo sem parar a famosa frase de seu romance “Conversa no Catedral”: “Em qué momento se había jodido el Peru?”.
Derrotado por Alberto na eleição presidencial de 1990, Vargas Llosa fez campanha para Keiko e, como ela, afirmou ter havido irregularidades no pleito atual. O mesmo jogo sujo de Trump. Igualzinho ao que está fazendo Bolsonaro desde que chegou à Presidência pela urna eletrônica e botou na cabeça que o Brasil precisa de um ditador energúmeno.
No Peru a votação é feita em cédulas de papel, processo semelhante ao voto impresso desejado pelos bolsonaristas que preparam o terreno para uma quartelada de aloprados. No entanto, mal se tentou armar um tumulto, com a apuração em curso, o Ministério da Defesa peruano soltou uma nota afirmando que as Forças Armadas não interferem em assuntos políticos e eleitorais. Qual o país da gracinha? Brasil ou Peru?
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