Depois de pouco mais de um ano, o dólar voltou a encerrar o pregão abaixo de R$ 5 nesta terça-feira (22). A moeda americana terminou as negociações cotada a R$ 4,9660, queda de 1,11%, segundo dados da CMA.
A última vez em que o dólar esteve abaixo de R$ 5 foi em 10 de junho de 2020, quando estava a R$ 4,935.
A desvalorização da divisa dos Estados Unidos é fruto de juros mais altos no Brasil. Em meio à escalada persistente da inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central considerou elevar ainda mais a taxa básica de juros na reunião da última quarta (16), mas decidiu manter o ritmo e anunciou alta de 0,75 ponto percentual.
Na ocasião, a Selic foi a 4,25% ao ano, conforme sinalizado em maio. Segundo a pesquisa Focus do BC, o mercado espera que a taxa termine 2021 a 6,50%, mesmo patamar da Selic antes do governo de Jair Bolsonaro.
Dentre emergentes, o real foi a terceira moeda que mais se valorizou nesta sessão, atrás apenas da lira turca e do florim húngaro.
O dólar turismo está a R$ 5,113.
Juros mais altos no Brasil tendem a beneficiar o real por estratégias de carry trade. Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo (como o dólar) e compra de contratos futuros da divisa de juro maior (como o real). O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.
"A ata divulgada deixou ainda mais claro o compromisso do Copom em frear a inflação e elevou a expectativa por um ritmo mais acelerado de aumento da Selic, com as instituições financeiras revisando as expectativas para final de 2021 para 6,5% ao ano, lembrando que essa projeção estava para 2022", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Com o tom do texto do Copom, o Credit Suisse elevou a 1 ponto percentual a expectativa de alta dos juros em agosto, ante 0,75 ponto do cenário anterior. O banco agora vê Selic de 7,25% ao fim de 2021 e de 2022.
O Bank of America também elevou a estimativa para 7%, de 6,50%, e o Banco Fibra aumentou de 6% para 6,5%, mas vislumbrando risco de o BC conduzir a Selic a patamar contracionista ainda neste ano.
O Banco Fibra ainda fala em uma "janela de oportunidade" para o real entre junho e agosto, após a qual o dólar ficaria em R$ 5,30 ao fim do ano.
O Société Générale também parece pouco convicto de que a queda do dólar continuará. Estrategistas do banco francês entraram com posição comprada em dólar quando a moeda tocou R$ 5,06 e miram os R$ 5,70.
Nesta terça, a sessão foi de fraqueza para o dólar como um todo no exterior após declarações do presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, de que a inflação nos EUA seria transitória.
Com isso, Powell amenizou temores de que o Fed possa em breve reduzir estímulos e acalmou investidores ainda sob impacto da sinalização de alta de juros em 2023, um ano antes do previsto até então.
A fala da autoridade impulsionou as ações em Nova York. O índice de tecnologia Nasdaq subiu 0,79% e renovou sua pontuação recorde. O S&P 500 teve alta de 0,55% e o Dow Jones, de 0,20%.
A Amazon foi uma das ações que impulsionou os ganhos em Wall Street, com alta de 1,5%. A empresa teve mais de US$ 5,6 bilhões em vendas online nos EUA no primeiro dia de seu evento promocional Prime Day, de acordo com o Adobe Digital Economy Index.
No Brasil, o Ibovespa não conseguiu acompanhar o viés positivo, pressionado pela queda de ações de bancos. O índice cedeu 0,38%, a 128.767,45 pontos.
A porposta de reforma do Imposto de Renda do governo, que deve ser enviada ao Congresso nesta semana e prevê a extinção do JCP (Juros sobre Capital Próprio) e a tributação de dividendos, levou ações de bancos a caírem nesta terça. Um dos principais atrativos destes papéis é justamente a remuneração aos acionistas via JCP e dividendos.
Hoje, dividendos são isentos de IR e, segundo os planos do governo, passaria a serem taxados em 20%.
Além da reforma do IR, o mercado de ações brasileiro foram impactadas pela perspectiva de uma Selic mais alta, o que tende a reduzir o consumo, aumentando o custo do crédito.
A maior queda do Ibovespa na sessão foi a Tim (3,96%), em meio a receios sobre a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) acerca da aquisição pelas empresas em conjunto com a Claro das operações de redes móveis da Oi. Vivo (Telefônica Brasil) perdeu 2,75%.
(Com Reuters)
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