Às 10 da noite, o homem saiu do prédio de seu jornal, A Pátria, no largo da Carioca, tomou um táxi e mandou tocar para Ipanema, onde morava. Sentia-se mal. No Catete, o mal-estar piorou. Pediu ao taxista que parasse e lhe conseguisse um copo d'água. O que este fez, mas, ao voltar, encontrou-o morto. Tivera um derrame. O taxista o conhecia. Todos o conheciam. Era o repórter, cronista, crítico, colunista, articulista político, editorialista, proprietário de jornal, romancista, contista, tradutor, dramaturgo e homem do mundo João do Rio. O dia era 23 de junho de 1921, uma quinta-feira. Ele tinha 39 anos.
Em minutos, a notícia tomou as ruas, nas vozes dos outros taxistas, dos pequenos jornaleiros e da colônia portuguesa, que o adorava. De manhã, sua morte foi manchete em todos os jornais. Por dois dias, milhares fizeram fila no saguão da Pátria para se despedir —dos artistas, políticos e ricos aos seus personagens da noite: mendigos, drogados, ex-presidiários, punguistas, macumbeiros.
No domingo, a carreta com seu caixão foi puxada a pé pelos populares, abrindo um cortejo que lotou a Avenida, a Glória, o Flamengo e Botafogo, rumo ao São João Batista. Falou-se em 100 mil pessoas, o que faria de seu enterro o segundo maior até então na história do Brasil, só menor que o do barão do Rio Branco, em 1912. O mesmo Rio Branco que, em 1902, recebera friamente no Itamaraty o jovem Paulo Barreto —o futuro João do Rio— e lhe fechara as portas da carrière, por ele não ser branco. Carrière que, como sabemos, não lhe fez falta.
Sua obra, quase toda produzida numa Redação, contra o relógio, da pena para o prelo, sempre ganhou instantânea e gloriosa sobrevida em livros. É onde ela merece estar. Ninguém mais jornalista, ninguém mais escritor.
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