O Governo do Estado confirmou em fevereiro deste ano que o Ceará deverá receber um investimento de mais de R$ 5 bilhões de uma das maiores plantas de hidrogênio verde do mundo. O plano para o empreendimento pode, além de inserir o Estado em um novo mercado, gerar oportunidades em outros segmentos, inclusive impulsionando as áreas de energia solar, eólica, além de elevar o potencial de projetos de dessalinização.
A perspectiva foi apresentada pelo estudo "Oportunidades para o Brasil com o hidrogênio verde" e comentada por Emílio Matsumura, diretor-Executivo do Instituto E+ Transição Energética e Professor do Ibmec-Rio; Marcelo Montenegro, coordenador do programa de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil; e Joilson Costa, coordenador Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil.
Segundo Joilson Costa, como a Enegix Energy – empresa que firmou o protocolo de entendimento com o Estado para o investimento no Porto do Pecém – já disse que o nível de produção será consideravelmente alto, o projeto deverá demandar uma quantidade muito grande de energia.
E para garantir que o combustível (hidrogênio verde) será produzido nos parâmetros ambientais focados na redução das emissões de carbono no mundo, o Ceará poderá ver uma nova expansão de investimentos em plantas de produção de energia solar ou parques eólicos, usados como fonte energética para o hidrogênio.
POTENCIAL PARA DESSALINIZAÇÃO
Além disso, Costa projetou que o Estado terá outra possibilidade de mercado a explorar: as plantas de dessalinização de água do mar para produção de água potável.
O coordenador da frente política sobre energia afirmou ser possível que as usinas de hidrogênio verde possam, no futuro, estar associadas aos projetos de dessalinização, o que acaba potencializando novas iniciativas neste segmento.
Esses fatores, conectados, poderiam ser importantes, segundo Joilson, para o Brasil mudar a matriz energética ao aproveitar mais as energias renováveis, acompanhando tendência mundial.
Não há dúvidas que o hidrogênio pode ser um ponto de potencial mudança da nossa matriz energética, visto que ele pode ser um indutor de energia solar e eólica. Ao se associar essas plantas de energia solar e eólica, você impulsiona esses segmentos e isso já deve aumentar a produção desses tipos de energias renováveis", disse.JOILSON COSTAcoordenador Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil
MERCADOS COMPLEMENTARES
Outro ponto discutido por Emílio Matsumura, e abordado pelos empresários da Enegix durante entrevista ao SVM, é que os investimentos em hidrogênio verde no Ceará deverão movimentar mercados complementares.
Uma das questões apontadas pelo diretor-Executivo do Instituto E+ Transição Energética está relacionada às soluções que deverão ser usadas para o transporte do hidrogênio verde, por exemplo.
Como o mercado de hidrogênio verde ainda está em estágio inicial no mundo inteiro, Matsumura projeta que investimentos em infraestrutura de exportação e transporte do insumo podem acabar influenciando o potencial de crescimento de outros segmentos de mercado, como minério de ferro, aço e até amônia.
"A gente não tem uma infraestrutura de exportação e transporte de hidrogênio hoje no Brasil, então isso seria um outro aspecto que precisa ser trabalhado se quisermos utilizar o hidrogênio verde. Temos algumas alternativas como aço ou amônia, mas temos complicações de todas as formas, então será preciso fazer alguns investimentos e isso pode gerar novos mercados", disse.
Matsumura ainda projetou que o mercado global de hidrogênio verde possui um potencial muito grande de crescimento nas próximas décadas, o que pode ajudar a manter boas perspectivas de evolução para esses segmentos indiretos a ser explorados.
O nosso estudo traz algumas expectativas para a economia e indica que é possível ver o mercado de hidrogênio verde chegar a até 2,5 trilhões de dólares em 2050. Isso é só na comercialização do hidrogênio direto, mas temos outras áreas que podem ser impactadas pelo mercado, como o uso de alguns aços e onde acrescentaríamos valor ao minério de ferro e outras questões", projetou.EMÍLIO MATSUMURAdiretor-Executivo do Instituto E+ Transição Energética
QUESTÕES AMBIENTAIS
Contudo, Marcelo Montenegro, defendeu que o Brasil ainda precisa repensar as posturas envolvendo as políticas ambientais para alguns desses projetos realmente se consolidem. Isso porquê o mercado de hidrogênio verde está sendo encarado como uma boa oportunidade de reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera, o que ajudaria até mesmo nos indicadores do Acordo de Paris.
Montenegro comentou que poderá ser importante envolver a sociedade ambiental na discussão sobre os investimentos em hidrogênio verde e nas metas de descarbonização da matriz energética brasileira, até para o desenvolvimento de um plano geral de utilização do hidrogênio verde no País.
É preciso saber o fim que se quer dar ao hidrogênio verde. Tem gente que fala que ele pode ser usado em foguetes, mas isso nos afasta da discussão de se fazer uma transição energética e até para cumprir as metas do Acordo de Paris", disse.MARCELO MONTENEGROcoordenador do programa de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil
"Mas a questão é que precisamos envolver a população para podermos incluirmos o hidrogênio verde na matriz energética", disse o representante Fundação Heinrich Böll no Brasil", completou.
MERCADO DE TRABALHO
Já sobre as possíveis novas demandas do mercado de trabalho envolvendo o hidrogênio verde no Ceará e no Brasil, Matsumura comentou que não deverá haver uma necessidade muito grande de adaptação de ensino a novas tecnologias. Ele comentou que o processo de produção do hidrogênio verde já utiliza conhecimentos no mercado brasileiro.
Contudo, projetou que será, sim, necessário realizar treinamentos específicos para operação nas plantas de hidrogênio, e que isso deverá gerar diferentes ofertas e oportunidades de trabalho, ainda que o Brasil já possua um bom nível de mão de obra para fornecer ao setor.
"É uma economia que está começando e há 2 anos não se falava disso. Temos muitas possibilidades no Brasil e temos chance de produzir o hidrogênio de forma competitiva. Mas estamos falando de energia de longo prazo então as coisas não saem de uma hora para outra", disse.
"Mas o Nordeste tem vários locais onde podemos fechar todas as pontas necessárias. A questão é ver como vamos usar todos esses recursos, principalmente investindo na capacitação de pessoas na Região", completou.
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