Fábio Zanini
O vereador na capital paulista Rinaldi Digilio e a deputada estadual Letícia Aguiar deverão puxar a fila no processo de “expurgo” de bolsonaristas que a nova direção do PSL em São Paulo pretende promover.
O partido deve ser a nova casa de políticos ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre), que ficaram sem ambiente no Patriota com a entrada do senador Flávio Bolsonaro (RJ) e a possível filiação de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro.
Primeiro integrante do movimento a se filiar ao PSL, o vereador Rubinho Nunes disse ter recebido a missão de “limpar” o partido de bolsonaristas e definiu Digilio e Aguiar com primeiros alvos.
O caso de ambos deverá ser encaminhado nos próximos dias para a comissão de ética do diretório municipal do PSL (no caso do vereador) e estadual (no da deputada), para que a expulsão seja efetivada.
“São duas figuras desconectadas do que hoje pensa o partido, que buscam apenas um projeto de poder personalíssimo, atrelado ao bandido que hoje ocupa a cadeira presidencial”, afirma Nunes.
Ele se filiou ao PSL na semana passada, sob as bênçãos das direções estadual e nacional da legenda, e recebeu a vice-presidência do partido na cidade. Se a expulsão de Digilio se concretizar, deverá ser o único vereador paulistano do PSL.
Digilio e Aguiar têm em comum a defesa de temas conservadores. Um exemplo é um projeto que promove a abstinência sexual como estratégia de contraceptivo para adolescentes. O vereador propôs o projeto “Escolhi Esperar” em âmbito municipal, e a deputada quer replicá-lo na esfera estadual.
Segundo Nunes, gradualmente o processo de expurgo deverá chegar aos bolsonaristas mais conhecidos do partido, como os deputados federais Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro.
“Vamos aos poucos. Aqui em São Paulo começamos pelo Rinaldi Digilio porque não posso limpar o partido deixando sujo meu quintal”, afirmou.
A ideia é que, quando o PSL já estiver suficientemente “desbolsonarizado”, o PSL abrigue outros representantes do MBL, como o deputado federal Kim Kataguiri (atualmente no DEM) e o estadual Arthur do Val (hoje no Patriota), que deve ser candidato a governador no ano que vem.
O movimento de expurgo gerou reações imediatas. Numa carta que enviou a Nunes, Digilio disse que recebeu “com profundo pesar e preocupação a série de declarações ofensivas e desrespeitosas” do vereador.
“Como uma lavoura de gafanhotos, por onde passou, o MBL deixou apenas destruição, consumindo e abandonando terras arrasadas sem qualquer respeito com as pessoas”, afirmou na carta.
Por meio de sua assessoria, Digilio declarou que espera que o PSL siga “respeitando os valores conservadores, contra o aborto, a ideologia de gênero e a erotização das crianças”.
Já a deputada Letícia Aguiar, cuja base é São José dos Campos (SP), disse à Folha não ter recebido nenhuma comunicação oficial ou informal sobre sua expulsão.
“Desde muito tempo, houve uma divisão interna na sigla, que vem causando tumulto. É prejudicial à população, à sigla e ao nosso trabalho”, afirmou.
Ele afirmou que ainda não decidiu o que fará caso seja alvo de um processo do partido, mas indicou que poderá procurar outra legenda.
“Sou de fato bolsonarista, não abro mão de apoiar o presidente em qualquer sigla que eu esteja, desde que eu tenha autonomia para exercer meu mandato de acordo com minhas convicções”, declarou.
De acordo com Nunes, os parlamentares terão todo direito à defesa, mas ele acredita que a expulsão será sacramentada pelas instâncias partidárias. “O partido quer fazer essa limpeza de forma estratégica, seja do peixe grande, ou do vereador”, diz.
Já foram expulsos do PSL os deputados estaduais bolsonaristas Douglas Garcia e Gil Diniz.
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