Pais de alunos da escola Móbile, em São Paulo, procuraram a direção do educandário para protestar contra a utilização de uma versão em quadrinhos do "Diário de Anne Frank" nas aulas de inglês do 7º ano. O motivo da revolta são passagens em que a autora fala de sua sexualidade e que os genitores interpretaram como pornográficas.
Lamento dizer que esses pais estão errados. E nem entro na discussão de conteúdo. Como o bolsonarismo ainda não triunfou, cada indivíduo é livre para fazer a exegese que preferir do texto que lhe aprouver. Quem acha que Anne Frank é pornografia está exercendo seus direitos hermenêuticos, ainda que essa seja uma opinião difícil de sustentar num foro mais técnico.
Esses pais erraram é na escolha da escola em que puseram seus filhos. Ao contrário do que ocorre na rede pública de ensino, onde é o endereço que define em qual instituição a criança vai estudar, no sistema privado cabe aos responsáveis selecionar o colégio. Costumam fazê-lo com base em diferentes matrizes de critérios, que vão desde a comodidade (a escola fica perto de casa?) até valores espirituais, passando, é claro, pelo preço.
Um parâmetro particularmente sensível é a abertura ao novo. Como ela afeta desde a pauta de leituras até o grau de rigidez moral e a disciplina a que o aluno será submetido, se houver desacordo entre pais e instituição nesse quesito, as consequências tendem a ser desastrosas. Não só haverá atritos entre a família e a direção como o conflito logo será levado para dentro de casa, à medida que o estudante assimilar valores muito diferentes dos de seus genitores.
Se a escola particular só manda seu filho ler livros que lhe parecem obscenos, aja com discrição e troque de colégio no final do ano. Caso contrário, você estará escancarando que fracassou na elementar tarefa de escolher uma instituição compatível com seu modo de pensar. É um pai nota zero.
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