quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Governo Lula revoga medida do Pix após fake news de taxação e equipara meio de pagamento a dinheiro, OESP

 

BRASÍLIA – O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que o órgão irá revogar a nova fiscalização do Pix diante da circulação de informações falsas e distorcidas por conta do ato que aconteceu nos últimos dias. De acordo com ele, a Receita irá investigar e responsabilizar as pessoas, junto com a AGU e a Polícia Federal, que disseminaram fake news e fizeram o uso do nome e do símbolo do órgão para dar golpe.

A declaração aconteceu nesta quarta-feira, 15, no Palácio do Planalto após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração ocorreu ao lado do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Governo Lula revoga medida da Receita Federal que envolvia o Pix após fakenews de taxação e equipara meio de pagamento a dinheiro
Governo Lula revoga medida da Receita Federal que envolvia o Pix após fakenews de taxação e equipara meio de pagamento a dinheiro Foto: Rafael Henrique/Adobe.Stock

PUBLICIDADE

Segundo Barreirinhas, nos últimos dias, as pessoas distorceram e manipularam o ato normativo da Receita, o que prejudicou milhões de pessoas e gerou pânico na população. De acordo com ele, isso desacreditou o instrumento de pagamento.

“Por conta dessa continuidade do dano, da manipulação desse ato da Receita, eu decidi revogar esse ato”, afirmou, dizendo que virou arma na mão de criminosos. Segundo o secretário, a Receita não aceitará o uso do nome do órgão para dar golpes.

Publicidade

Uma instrução normativa da Receita que entrou em vigor no dia 1º de janeiro obrigava instituições financeiras a informar movimentações, incluindo via Pix, acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e de R$ 15 mil para pessoas jurídicas.

Sob a nova regulamentação, todas as movimentações de pagamentos instantâneos e de cartões de crédito que ultrapassassem os valores estipulados em um mês seriam reportadas à Receita Federal, permitindo um controle e fiscalização mais efetivos dessas transações.

Equiparação a dinheiro

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou há pouco que o governo vai publicar uma Medida Provisória para reforçar a gratuidade e sigilo do Pix. Esta é a reação do governo a onda de fakes news que circulam em torno do Pix, com mentiras como a que o governo passaria a taxar as transações feitas com o instrumento. Esse movimento foi provocado por causa de uma instrução normativa da Receita Federal que passou a vigorar neste ano.

Segundo Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está para assinar o texto da MP, que foi fechado nesta tarde. “A medida provisória reforça os princípios tanto da não oneração, da gratuidade do uso do PIX, quanto de todas as cláusulas de sigilo bancário em torno do PIX, que foram dois objetos de exploração por parte dessas pessoas que estão, na nossa opinião, cometendo um crime, porque quando você desacredita um instrumento público, você está cometendo um crime”, declarou o ministro em pronunciamento no Palácio do Planalto.

Publicidade

Haddad disse que recebeu relatos de pessoas que chegaram a receber boletos em casa com a logomarca da Receita Federal, o que está prejudicando a economia popular. “A medida provisória reforça esses dois princípios e, praticamente, equipara o pagamento em PIX ao pagamento em dinheiro. O que isso significa? Que essas práticas que estão sendo utilizadas hoje, com base na fake news, de cobrar a mais por aquilo que é pago em PIX, na comparação com em dinheiro, está vedado”, disse.

A ameaça de Trump à democracia liberal dos EUA, Martin Wolf, FSP

 A democracia dos EUA sobreviverá ao novo mandato de Donald Trump? Essa não é uma questão teórica. É evidente que Trump está seguindo um roteiro conhecido para transformar uma democracia liberal em uma iliberal. Essa última é uma etiqueta para uma ditadura — um regime em que as decisões dependem da vontade de uma pessoa, em grande parte sem prestar contas a mais ninguém.

Em "The Spirit of Democracy" ["O Espírito da Democracia"], Larry Diamond, de Stanford, argumentou que uma democracia liberal consiste em eleições livres e justas, proteção dos direitos civis e humanos de todos os cidadãos de forma igualitária, e um estado de direito que vincula todos os cidadãos igualmente. Essas são as "regras do jogo".

Mas a eficácia dessas regras depende de restrições sobre aqueles que controlam temporariamente o Estado. As restrições mais importantes são o judiciário, os partidos políticos, as burocracias e a mídia. A questão é se essas resistirão, primeiro enquanto Trump for presidente e depois a longo prazo.

O presidente eleito dos EUA Donald Trump durante campanha - Kamil Krzaczynski - 5.nov.2024/AFP

Em uma discussão recente na The New Republic, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, de Harvard, autores de "Como as Democracias Morrem", observam que o processo clássico de "abdicação coletiva" ou "suicídio institucional" diante de uma tomada autoritária já avançou bastante.

Trump assumiu o controle do Partido Republicano. Seu controle sobre a base eleitoral do partido o convenceu a endossar a "grande mentira" de que ele venceu a eleição de 2020. A Suprema Corte decidiu que um presidente é imune a processos criminais por seus "atos oficiais", uma doutrina que o jurista britânico Jonathan Sumption insiste que coloca o presidente acima da lei, e assim, na verdade, mais como um rei do que um cidadão. Não menos importante, já vemos indivíduos poderosos, como Mark Zuckerberg, ajoelhando-se diante de seu novo governante.

Do que eles têm medo? Que o presidente arme a máquina do Estado contra eles. É isso que ele e as pessoas ao seu redor pretendem fazer. Suas nomeações sugerem fortemente isso. Assim também o fazem os planos para substituir burocratas por pessoas leais a Trump, delineados no "Projeto 2025" da Heritage Foundation. Tal lealdade seria uma poderosa arma de autocracia. Isso tornaria a burocracia obediente ao presidente em vez de às leis que são obrigados a implementar.

Timothy Snyder, de Yale, um especialista em totalitarismo europeu do século 20, descreve as nomeações para chefiar os departamentos de saúde, justiça e defesa, bem como para chefiar os serviços de inteligência, como um "golpe de decapitação". Isso se deve em parte porque sua provável incompetência e malevolência fariam um grave dano ao funcionamento do estado. Também porque a ameaça de politizar o governo federal, incluindo a lei, contra o "inimigo interno" causaria sérios danos à democracia.

Tudo isso, acrescentam Levitsky e Ziblatt, são comportamentos clássicos de aspirantes a autocratas. Eles se enquadram nas amplas categorias de "capturar árbitros" e "marginalizar jogadores". Entre os primeiros estariam mais mudanças no Judiciário em todos os níveis. Entre os últimos estariam ataques de vários tipos a organizações de mídia independentes, jornalistas, instituições acadêmicas e editoras.

Além de tudo isso, lembre-se do projeto central de remover imigrantes sem documentos. Isso parece provável de reunir muitos elementos da nova abordagem em um só.

Remover muitos milhões de pessoas exigiria uma enorme operação militar, vastas intrusões nas jurisdições estaduais e locais, a criação de grandes campos de detenção, a supressão de protestos e, não menos importante, encontrar países para onde despejar as pessoas deslocadas.

Tudo isso poderia realmente acontecer? Talvez. Mas a combinação de tal perturbação com o que também é provável ser uma turbulência econômica substancial poderia virar a opinião pública fortemente contra Trump, que tem uma margem de voto de apenas 1,5 ponto percentual e nunca foi muito popular.

Embora ele tenha apoiadores apaixonados, ele também tem opositores apaixonados. Além disso, se a constituição se mantiver, ele tem apenas este mandato. No geral, seu controle sobre a opinião pública e seu partido provavelmente enfraquecerá a partir de agora.

As habilidades de Trump como demagogo populista são excepcionais: é provável que o partido ache impossível descobrir um substituto suficientemente carismático em 2028. Sua coalizão também está mostrando sinais de desmoronamento: nacionalistas cristãos e nativistas não são companheiros naturais de "plutocratas da tecnologia", como Elon Musk.

É bastante possível, então, que qualquer impulso autocrático de Trump vá além do limite e crie uma poderosa reação, mesmo entre pessoas comuns. Afinal, elas ainda não foram afetadas por isso. Será preciso coragem para as pessoas se mobilizarem. Mas devemos esperar que o povo americano não abandone levianamente as tradições liberais e iluministas de seu país diante dos ataques dos oponentes autoritários e reacionários de hoje.

No entanto, agora é um país profundamente dividido, no qual as pesquisas mostram que muitos americanos já abandonaram a crença em sua democracia. Se isso não puder ser corrigido, a própria democracia pode falhar.

Uma questão crucial agora é até que ponto as instituições da democracia liberal, em particular aquelas que governam as eleições, sobreviverão. Muitos dos asseclas de Trump, assim como o próprio Trump, temerão a retribuição pela "retribuição" que buscam infligir. Isso lhes dá um enorme incentivo para manipular as regras eleitorais do jogo, com a assistência do judiciário.

Se eles conseguirem subverter as eleições nacionais dos EUA, pode até ser "fim de jogo". As consequências globais disso seriam devastadoras. Sem o envolvimento ativo de um EUA democrático, a saúde da democracia liberal no mundo estaria em grande perigo.

Como é conhecido, Benjamin Franklin disse que os EUA tinham "uma república, se você conseguir mantê-la". Podemos descobrir muito em breve se eles conseguem.