sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Morre Roberto Saturnino Braga, primeiro prefeito eleito do Rio de Janeiro, FSP

 

Rio de Janeiro

O ex-prefeito do Rio de Janeiro Roberto Saturnino Braga morreu nesta quinta-feira (3), aos 93 anos. Ele estava internado em um hospital particular na zona sul da cidade.

A informação foi confirmada pela família e pelo prefeito Eduardo Paes (PSD).

Saturnino foi o primeiro prefeito eleito do Rio de Janeiro, em 1985. Também foi senador de 1975 a 1985, e de 1999 a 2007. Economista e engenheiro, ficou marcado por ter declarado falência do município durante a gestão.

O ex-prefeito do Rio e ex-senador Roberto Saturnino Braga - Carlos Will/Centro Celso Furtado

Saturnino nasceu no Rio em 1931, estudou em colégios tradicionais e se formou em engenharia pela antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1954.

Iniciou a carreira política em 1963, como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro —então separado do antigo estado da Guanabara. Como parlamentar, representou uma coligação liderada pelo PSB. Em 1975, tornou-se senador.

Ingressou no MDB com a instauração do bipartidarismo durante a ditadura militar. No partido, tornou-se liderança após a saída dos dois grandes nomes da legenda no estado, Chagas Freitas e Amaral Peixoto.

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Migrou para PDT durante a ascensão da figura de Leonel Brizola no Rio na década de 1980. Foi reeleito senador em 1982, já pelo PDT, e escolhido pelo partido como candidato a prefeito nas primeiras eleições municipais diretas da história da cidade. Até 1960, prefeitos do Distrito Federal eram nomeados. De 1960 até 1975, o Rio foi estado da Guanabara.

Saturnino Braga (PDT) venceu o pleito, que teve quase 20 candidatos. O pedetista venceu com 40% dos votos válidos, derrotando concorrentes como Rubem Medina (PFL), Jorge Leite (PMDB) e Marcelo Cerqueira (PSB).

A gestão foi marcada por crises financeiras. A prefeitura estava endividada e o Banco Central proibiu novos empréstimos à cidade. Em 1988, Saturnino declarou a falência do município.

A gestão também vivia uma crise política. Durante a gestão Saturnino rompeu com Brizola, governador do estado entre 1982 e 1987, e trocou o PDT pelo PSB.

Em 1992 foi eleito vereador pelo PSB, e em 1998 foi eleito senador. Esteve aliado ao grupo político que comandou o estado no fim da década de 1990, com Anthony Garotinho e Benedita da Silva. Em 2002, trocou o PSB pelo PT. Terminou mandato no Senado em 2007, e voltou ao PSB em 2019.

Saturnino ganhou homenagens ao longo da carreira política, como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, e publicou livros sobre economia e política.

Na útima semana, foi internado para cuidados paliativos após um quadro de pneumonia. Viúvo, deixa três filhos.

Em publicação no Instagram, o prefeito Eduardo Paes afirmou que Saturnino foi "um dos mais dedicados e corretos homens públicos que a cidade já conheceu".

"Sua história em defesa da democracia, das liberdades e do povo mais pobre serão sempre lembradas. É uma grande perda para a cidade do Rio de Janeiro e para o Brasil. Meus sinceros agradecimentos por toda sua dedicação à nossa cidade."

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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Gelo e gim - Truman Capote bebeu tanto quanto escreveu ,FSP

 Não fosse o fígado, o escritor Truman Capote teria feito cem anos no último dia 30. Viveu 59 anos como quis, com seus prós, efervescentes, e os inevitáveis contras.

"Do tamanho de Napoleão", com a gravata borboleta torta, um desleixo cuidadosamente preparado, variava de regime etílico, até porque passou por clínicas de reabilitação, mas nos dias alegres costumava beber um martíni duplo antes do almoço, um durante e um stinger depois. Isso dava a medida do que vinha pela tarde e noite —nunca dormia sem tomar uns goles de uísque. Dizia: "Sou alcoólatra. Drogadicto. Homossexual. E gênio".

Truman Capote no escritório da editora Random House em abril de 1969
Truman Capote no escritório da editora Random House, em abril de 1969 - William E. Sauro/The New York Times

Frequentemente andava com uma garrafa de J&B, a qual misturava com uma variedade colorida de calmantes e estupefacientes —a depender do momento. Isso não impediu que escrevesse o livro inaugural do chamado jornalismo literário, o espantoso "A Sangue Frio" ("A imaginação, é claro, pode abrir qualquer porta —vire a chave e deixe o terror entrar.")

Era um leitor atlético: corria pelas páginas de cinco livros por semana —inclinava-se por Proust, Flaubert e Turgueniev. Era igualmente exigente ao escrever, ao que chamava "um ato de fé". Numa entrevista, disse: "A escrita segue leis de perspectiva, luz e sombras, como a pintura ou a música. Se você nasceu conhecendo essas leis, ótimo. Se não, é bom aprendê-las. E então rearranjá-las a gosto".

É quase uma receita de coquetel. Na série "Feud" há muitos deles, quadro a quadro. Em uma cena, surge uma bandeja de dry martínis. É uma epifania. As taças são filmadas como se fossem raios de Sol depois de dias na solitária. Quando são servidos, ao som de um plangente violoncelo, a câmera lenta e a fotografia ligeiramente borrada dão o tom do idílio.

Num outro momento, Capote (Tom Hollander) ouve as lamúrias de Babe (Naomi Watts), linda socialite e sua melhor amiga. O marido a traía e, despreocupado, deixava rastros humilhantes de sua traição. A prescrição imediata do escritor é um copo de uísque e um barbitúrico de efeito garantido, o qual, ajoelhado, tira de uma caixinha de pílulas que mais parece conter joias. É como se pedisse a ela que se casasse momentaneamente com o sono reparador.

O conto de fadas não tem final feliz. Capote se aproveita de tudo o que ouve nas fofocas com as amigas da alta-roda, as quais chama de "cisnes" —em inglês, swans, quase um anagrama de wasps (brancas, anglo-saxãs e protestantes). Escreve capítulos de um livro, "Answered Prayers" ("Súplicas Atendidas"), em que reproduz ferinamente o conteúdo das conversas que teve em restaurantes exclusivos, encontros e festas. E publica um deles na revista Esquire. O pior: mal disfarça a verdadeira identidade dos personagens.

Audrey Hepburn em 'Bonequinha de Luxo' - Reprodução

Era então o escritor mais famoso dos EUA. Além de "A Sangue Frio", publicara também "Bonequinha de Luxo", transformado em filme de sucesso (1961). Luminosa, Audrey Hepburn faz a acompanhante de luxo Holly Golightly. Sem medo de ressacas, alegre e saltitante, ela bebe manhattans, coquetéis de champanhe, white angels (gim e vodca) e mississippi punches. Este vem da região em que Capote nasceu —Nova Orleans.

MISSISSIPPI PUNCH

60 ml de conhaque

30 ml de rum

30 ml de bourbon

15 ml de suco de limão siciliano

15 ml de xarope de açúcar (2:1)

Bata bem os ingredientes com gelo e coe para uma taça collins com gelo. Finalize com uma rodela de limão.